Imagem Blog

Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania

Na cadência do apito inquieto do replay

Excesso de intervenções do tira-teima eletrônico e de reclamações dos jogadores ameaçam a fluidez sem a qual o futebol deixa de ser o que é

Por Alexandre_Carauta Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 Maio 2022, 18h32 - Publicado em 25 Maio 2022, 15h24
Apito de juiz
 (Elbgau / Pixabay/Reprodução)
Continua após publicidade

A sabedoria popular ensina: juiz bom não é notado. Embora imperfeita, a velha máxima afina-se à realidade. Convém ouvi-la.

Amolar o juiz, culpá-lo por todos os males, é sagrado para o torcedor. Jamais deixará a liturgia do futebol. Mas há algo errado quando as prosas ocupam-se menos do jogo que do apito.

Fim de semana passado o VAR ofuscou a cadência de dois confrontos. No sábado, torcedores do Santos e do Ceará reprovaram as interferências do replay. O gol mal anulado e a expulsão exagerada esfriaram o duelo na Vila.

Dia seguinte Fluminense e Fortaleza provaram dose semelhante. O preciosismo do vídeo invalidou (indiretamente) um gol de cada lado, como se não bastasse ao futebol o castigo do campo pesado e da pouca inspiração.

Os casos atestam a inclinação intervencionista do nosso VAR. Contraria a proposta original e o papel coadjuvante.

Continua após a publicidade

Germinado por décadas, o tira-teima eletrônico nasceu para corrigir o erro crasso num lance capital. Se trai o compromisso seletivo, atravanca o jogo. A Europa logo entendeu isso.

Por aqui a cabine não raramente sequestra o protagonismo alheio. Não só do juiz e dos bandeirinhas, mas também dos dribles, tabelas, arrancadas, arremates.

Interferências excessivas – eventualmente equivocadas – engessam a dinâmica sem a qual o futebol não seria o que é. Sem a qual não teria se tornado o espetáculo midiático mais consumido no planeta.

Continua após a publicidade

A qualificação dos campeonatos nacionais, e sua ambicionada carreira global, exige mais do que o amadurecimento político-administrativo inspirado nas principais ligas estrangeiras. Requer também um aperfeiçoamento da arbitragem.

O avanço envolve uma consciência sobre funções e prioridades. O brilho emana dos atores, do público, não do contra-regra.

Primordial ao show, a fluidez deve ser resguardada pelos profissionais na órbita da partida – repórteres, narradores, gandulas, árbitros, treinadores, atletas. O apito por vezes inquieto do VAR e a zanga cativa de jogadores fazem o contrário.

Continua após a publicidade

Partidas sem enxames de reclamações em torno do juiz beiram o milagre. Eis mais uma diferença substantiva em relação às pelejas dos primos ricos europeus.

Ali todos deixam a bola rolar. Simples assim. Não chiam a cada marcação divergente, tampouco escalam o desrespeito. Seja porque compreendem a importância prioritária da fluidez para a qualidade do espetáculo. Seja por educação. Um dia chegamos lá.

___

Alexandre Carauta é doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

a partir de 39,96/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.