O amanhã balança entre a prevenção, a resiliência e a soberba
Embora negligenciadas, estratégias preventivas evitam colapsos tanto no meio ambiente quanto na saúde: prática esportiva sustenta o bem-estar
Sintoma da Terra em transe, a recorrência de fenômenos extremos – ou assim ainda considerados – populariza a resiliência. Originária da biologia, agrega as capacidades de adaptação e reconstrução.
Os japoneses, por exemplo, viraram exímios resilientes a terremotos. A cada tremor, acumulavam aprendizados para melhor remediá-los.
Estratégias preventivas mostram-se igualmente cruciais. Afastam ou controlam os riscos, evitam o pior. Salvam vidas. No mínimo, as poupam de sacrifícios evitáveis.
O princípio aplica-se a todas as áreas: meio ambiente, medicina, segurança. Reduz perigos, complicações, custos. Ainda assim, é sistematicamente negligenciado.
A Humanidade historicamente prefere apagar do que precaver incêndios. Freud explica, em parte, a inclinação temerária. Sua raiz habita a esquina entre ganância, boçalidade, descaso.
A comoção solidária com o leite esparramado poderia mobilizar empenho equivalente em encolher a chance do derrame e amenizar os efeitos. Começa por coibir os barões que lucram com as tragédias
Socorros às vítimas de calamidades como as do Sul lembram, da forma mais dolorosa, a importância da prevenção e da resiliência. Haveriam de constituir uma cultura universal, de guiar prioridades estatais.
Se a batuta da prevenção orquestrasse o planejamento urbano, as consequências das enchentes gaúchas teriam sido menos catastróficas. Atribuí-las à fatalidade configura um desvio civilizatório ancorado entre a ingenuidade, a hipocrisia e o escapismo.
Previdência idêntica vale para o corpo humano. Hábitos como dormir bem, alimentar-se com equilíbrio, exercitar-se regularmente, fazer exames periódicos formam uma vacina contra os inimigos do bem-estar e da longevidade saudável. Contêm obesidade, diabetes, distúrbios cardiovasculares, câncer, depressão.
Os benefícios da prática esportiva são diretamente proporcionais à regularidade e à compatibilidade com características e necessidades individuais. Tais condições demandam prescrição e orientação profissionais. Deveriam ser amplamente providas pelo Estado, sobretudo aos cidadãos pobres, como alicerces de uma política de Saúde menos centrada em tratar do que prevenir.
Meia hora por dia de atividade moderada – caminhar, pedalar, trocar o elevador pela escada – já diminuiria bastante as hospitalizações e os tratamentos invasivos, caros. A Organização Mundial da Saúde recomenda pelo menos 150 minutos semanais combinados entre exercícios aeróbios e de força.
Manter assíduas consultas e avaliações médicas revela-se cuidado não menos decisivo. Elas detectam perigos a tempo de barrá-los. Muitos crescem silenciosos, ao contrário dos alertas climáticos sobre o menosprezado precipício que cavamos.
Falta-nos a inteligência e o senso de sobrevivência do cavalo resgatado na réstia de telhado. O pequeno milagre lega um metafórico aviso do amanhã onde, pelo desatino da carroça, mal encontraremos telhados.
Quem sabe os anjos nos acordem da soberba antes que colapsos irrompam com frequência e fúria insuportáveis, irreversíveis? E então, contagiados pela sensibilidade e pela sensatez resilientes, passemos a construir algo próximo à casa sonhada por Zé Rodrix, cantada por Elis, do tamanho da paz e das coisas belas, não da estupidez. Quem sabe…
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Fio Maravilha no Leblon
Eternizado pela canção-louvor de Jorge Benjor, o folclórico Fio Maravilha descerá do imaginário para conversar com a galera, sábado agora (18), às 11h, no Bigorrilho do Leblon (Av. Ataulfo de Paiva, 814). O encontro integra a série Gigantes do Museu, bate-papos com personagens do futebol organizados pelo Museu da Pelada.
O ex-atacante rubro-negro lembrará, entre várias histórias pitorescas, a origem do apelido e o tal gol de anjo que inspirou a música lançada em 1973. Foi marcado no ano anterior, quando Flamengo e Benfica disputavam um amistoso no Maraca.
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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.