O exemplo de Rebeca Andrade além das façanhas históricas
Aposentadoria no solo lembra importância de respeitar a integridade física e mental, de proteger a saúde da gula esportiva e econômica
Toda Olimpíada indica a fatura do sonho. Expõe uma esgrima constante entre a busca do pódio e a saúde.
Atrás da consagração máxima, superatletas treinam trinta horas por dia, oito dias por semana. Ultrapassam limites com disciplina sobrenatural. Esgarçam músculos, nervos, relacionamentos.
À margem dos holofotes, o sacrifício vira desabafos comuns às frustações e glórias. Extravasam a pressão de perseverar, abnegadamente, sobre o fio da navalha.
Progressos científicos aliviam a barra. Avanços fisioterapêuticos operam milagres na recuperação atlética. Mas não extinguem sequelas proporcionais a desgastes puxados até para a elite da elite.
Algumas sequelas manifestam-se durante a maratona de treinos e competições, como o Burnout que tirou a ginasta Simone Biles dos Jogos de Tóquio, em 2021. Outras explodem quando a poeira das disputas assenta. Prolongam-se como uma sombra inarredável. Perpetuam o fantasma das lesões nos músculos e na alma.
A divina Rebeca Andrade se contorce para exorcizá-lo. Executa uma manobra tão decisiva quanto as que fizeram História.
A craque da ginástica despede-se do solo não por ter atingido o apogeu na modalidade que lhe rendeu o ouro e o recorde de medalhas entre os conterrâneos. Ela poderia repetir ou superar a façanha. A conta, porém, insinua-se demasiadamente alta até para uma brasileira beijada pelos anjos.
A difícil decisão atende à prudência. Acolhe os alertas de exaustão, e seus múltiplos riscos.
A sabedoria de Rebeca contrasta com a negligência aos avisos do estresse físico e mental prolongado. Não raramente prevalece a gula esportiva e econômica banhada no traiçoeiro pacto com o extremo.
Cobrados sem trégua por resultados grandiosos, inquilinos do Olimpo acabam reféns da cartilha “no pain, no gain”. O compasso instrumental da sociedade moderna ajuda a naturalizá-la.
O equivocado vínculo entre dor e sucesso alimenta a espetacularização esportiva conveniente ao consumo. Frequentemente camuflado por narrativas heroicas, o jogo de interesses boicota sinais de perigo. Sabota a prevenção, a saúde.
A coragem da nossa maior estrela olímpica para se impor ao moinho corporal expande seu brilho. Às conquistas históricas, soma-se o respeito à integridade filológica, emocional, humana.
O exemplo de Rebeca evoca dois importantes lembretes: excesso ou inadequação de exercícios transforma remédio em veneno; e nenhuma ambição (legítima) deveria corromper o zelo com a vida saudável. Até nisso Rebeca dá um show.
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Recado do eterno Oito
Adílio também era sinônimo de show e de exemplos inspiradores. Cativava tanto pelo refino técnico, alegria da arquibancada, quanto pela simplicidade e pelo amparo a ex-jogadores esquecidos à beira da estrada. Impossível não admirá-lo.
O meia não eternizou a camisa 8 por acaso. Fala mansa, visão larga, jogava igual sorria: fácil, fácil. Orquestrava o escrete de Zico, Júnior, Leandro, Tita, talvez o melhor Flamengo de todos, coroado com o Mundial de 1981.
“Aquele time representa o encontro de duas gerações de grandes talentos. Era uma delícia jogar ali”, recordou o craque, em 2017, num papo sobre o principal título rubro-negro. “Nossas categorias de base sempre foram fortes. Temos de manter a tradição”, completou.
O apelo estende-se a todo futebol nacional. Precisamos germinar e valorizar bambas à feição de Adílio: impetuosos, criativos, ao mesmo tempo poesia e cérebro. Sabemos a diferença que fazem.
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Ultramaratona no Cristo
O Cristo recebe, nos próximos dias 9 e 10, a final brasileira da Red Bull 24. A ultramaratona de revezamento em esteira começa a ser decidida às 7h desta sexta, por dois times de dez integrantes.
Os corredores se revezam sobre as esteiras por 24 horas, até as 7h de sábado. Ganha a equipe que somar mais quilômetros percorridos.
Duelam no cartão-postal carioca os conjuntos comandados por Fe Pileggi, campeão da seletiva paulista; e por Thalya Hill, vencedor da classificatória paranaense. Participa também da prova a ultramaratonista Fernanda Maciel, recordista de subida ao Monte Vinson, na Antártida. A disputa pode ser acompanhada pelas redes sociais das capitãs, da Red Bull e da Go Pro.
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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.