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Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania

Paixão esportiva transformada em dividendos sociais

Camisas autografadas por atletas e outros objetos carregados de simbolismo têm ajudado causas como o apoio à educação pública e a prevenção do câncer

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Atualizado em 26 out 2024, 07h39 - Publicado em 25 out 2024, 09h23
Manuella e André, sócios da PLay for a Caouse, lado a lado
Os sócios Manuella e André conciliam a rotina de leilões sociais com prazeres como pegar onda  (Play for a Cause/Divulgação)
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“A paixão esportiva, uma das marcas brasileiras, se soma aos esforços para reduzir outro traço nacional: a desigualdade”. Assim o jovem empresário André Georges sintetiza a alma do negócio que converte em  filantropia objetos como as camisas usadas por atletas do Vasco na campanha de apoio aos surdos.

“O repertório inclui experiências singulares. Na Stock Car, por exemplo, o fã pode dar uma volta rápida ao lado do piloto”, acrescenta a cofundadora da Play For a Cause, Manuella Carvalho. Estendido a entretenimentos de outras áreas, o cardápio incorpora até guitarras autografadas por astros do Rock in Rio.

Manuella, de 25 anos, e André, de 31, contam como têm transformado bens carregados de simbolismo para o torcedor em ajuda a campanhas e programas sociais. Logo eles que, mesmo identificados com a vocação esportiva do Rio, juram não torcer por time algum.

Como nasceu a ideia de impulsionar a conversão de bens simbólicos do universo esportivo em recursos para programas sociais?

André: Nós dois viemos, por coincidência, de escola pública, e nos identificamos com a necessidade de melhorar e democratizar a educação. Eu acompanhava um jogo do Barcelona na capital catalã, onde fazia mestrado, quando percebi que um torcedor dera 100 euros para o segurança do estádio pegar a garrafa d’água descartada pelo Iniesta. A garrafa estava no chão, provavelmente acabaria no lixo, e o cara desembolsou cem euros para tê-la, porque havia sido usada por um dos ídolos daquela talentosa equipe. Aí me veio o estalo: esses objetos, a maioria deles com destino incerto, podem ser vendidos para apoiar a educação e outras causas sociais.

Manuella: Então a gente transformou a ideia num empreendimento desenvolvido durante o ProLíder, em São Paulo, para o qual eu e o André havíamos sido selecionados. Pegávamos o ônibus na rodoviária Novo Rio toda sexta. Passamos idas e vindas conversando sobre o negócio. Aí nasceu a Football For a Cause, em 2019. A empresa era, inicialmente, centrada no futebol. Depois ampliamos a atividade para outros setores do esporte e do entretenimento. Virou Play For a Cause.

O que abrange essa ampliação?

André: Nosso objetivo é expandir as pontes entre torcedores, ídolos e projetos ou causas sociais, desde programas para a educação até campanhas de combate ao câncer e de apoio à comunidade LGBTQIA+, por exemplo. Percebemos que precisávamos estender a iniciativa ao mundo da cultura e a modalidades além do futebol.

Manuella: Isso se reflete em parcerias como as firmadas com o Rio Open, a CBV, o Rock in Rio. Leiloamos, por exemplo, a camisa do Lukão, craque do vôlei, guitarras autografadas por astros do Rock in Rio, o vestido usado pela Joss Stone no festival, o violão do Daniel, a guitarra do Frejat. Esses objetos simbólicos do universos esportivo e cultural, catalisam a paixão dos fãs para arrecadar recursos destinados a causas e campanhas sociais.

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Falando em paixão, as parcerias com clubes como Flamengo, Vasco e Atlético-MG implicam o engajamento em campanhas sociais?

André: Os produtos e as experiências estão ligados, de alguma forma, a inciativas solidárias, como os itens exclusivos de Flamengo e Vasco relativos ao Outubro Rosa. Incentivamos clubes, confederações e atletas a participarem sistematicamente de campanhas ou ações assim. Só o Vasco, por exemplo, fez nove campanhas. Numa delas, camisas especiais se integraram à campanha De Olho no Olhinho, que prega a prevenção contra o retinoblastoma (tumor ocular) em crianças.

Manuella: Outro exemplo corresponde ao leilão do casaco preto vestido por jogadores da seleção brasileira. A arrecadação foi dirigida ao Observatório contra o Racismo no Futebol.

André: Já as campanhas próprias são propostas tanto por nós quanto pelos parceiros. Elas aproveitam, em geral, datas sociais. No Dia dos Surdos, por exemplo, os atletas do Vasco usaram camisas com nomes em Libra (Língua Brasileira de Sinais).

Manuella: No Dia dos Pais, jogadores do Galo vestiram camisas com depoimentos dos pais estampados com a caligrafia deles. Criações deste tipo agregam valor ao produto, o tornam exclusivo.

Como é decidido o valor desses itens nos leilões sociais?

Manuella: Propomos o lance mínimo, mas quem dá o preço final é o cliente. A decisão sobre o valor mínimo considera dois fatores, em especial: o histórico de leilões, ou seja, os valores alcançados em leilões anteriores; e o público que queremos atingir. Colecionadores se diferem de fãs ou torcedores comuns.

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André: Lidamos com paixão. Isso influencia o valor final. Certa vez, um pai obstinado em comprar uma camisa simbólica para o filho a arrematou por R$ 8 mil, quatro vezes o valor projetado.

Vocês também são apaixonados deste jeito pelos clubes do coração?

André: Por incrível que pareça, não torcemos por time algum. Somos apaixonados pelo entusiasmo que o esporte desperta nas pessoas. Transformamos paixões esportivas em ferramenta de mudança social.

Manuella: Sempre gostei de esporte, meu pai é fã do Vasco, mas não tenho time. Como disse o André, a gente se empolga com a paixão dos torcedores e fãs. Ela move o consumo, e mudanças de vida.

Que experiências, neste sentido, mobilizam a paixão esportiva?  

Manuella: Na Stock Car, por exemplo, os fãs buscam experimentar algo como uma volta rápida ao lado do piloto ou dar a bandeirada final. Essas experiências não são leiloadas, e sim vendidas com preço fixo.

André: E os leilões sociais incluem itens colecionáveis e itens próprios, como peças feitas com redes do Maracanã, descartadas no fim da temporada: chaveiros, por exemplo. Produzimos mil dessas peças, cuja venda gerou recursos para instituições sociais vizinhas do estádio.

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Quais objetos atraem mais os fãs?

Manuella: Isso varia, de acordo com o esporte. No futebol, camisas são os itens mais concorridos.

Como é verificada a aplicação dos recursos arrecadados?

André: A escolha das organizações que recebem tais recursos segue parâmetros como transparência e histórico de atuação social. Várias delas estão associadas a clubes, federações e campanhas que fazem parte da nossa rede de parcerias, como a campanha Doe Gols. Acompanhamos a utilização dos recursos, mas aprendemos que a forma com a qual são aplicados compete à instituição social, para afastar o risco de desperdício.

Vocês miram também torcedores fora do Brasil?

André: A expansão ao mercado internacional deve se intensificar. A procura externa tem aumentado, até por conta de brasileiros que moram em Portugal, Inglaterra, França.

Manuella: Percebemos uma demanda crescente também na Argentina, em países asiáticos e no mercado americano, maduro nos segmentos de colecionáveis e de filantropia.

Sobra tempo para vocês, genuínos cariocas, curtirem a cidade?

André: Sou apaixonado pelo Rio. Não abro mão de prazeres como pegar onda na Macumba e curtir uma roda de samba.

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Manuella: Sou do Grajaú, mas também adoro uma praia. Botei na cabeça que serei surfista, mas agora estou na onda da corrida.

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Na cadência da terra batida

“Julio Mariz, como todo peladeiro bom de bola, dá no leitor um drible de corpo: a trama não é sobre futebol, mas sobre a mistura, o encontro, o comum – e suas barreiras”. Com precisão de artilheiro, o tapete estendido pelo filósofo Chico Bosco, no prefácio de “Terra Batida – convocados para renascer” (selo Museu da Pelada / Rebento), indica a hábil imersão conduzida por Mariz no universo sociocultural feito de fintas, caneladas, divididas, consagrações, dourado de pedagógicas convergências, lições de vida.

Envernizadas de humor, senso crítico e memória afetiva, a narrativa costurada pelo ex-presidente da Traffic Sports ilumina a alma de peladeiro que nos habita. O livro será lançado terça agora (29), às 19h, na Argumento do Leblon (Dias Ferreira, 417).

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Tabelinha ambienal

Por falar em livro, o ginásio poliesportivo do colégio Notre Dame, no Recreio, acolhe uma feira literária dedicada à sustentabilidade, neste sábado (26), a partir das 9h (Avenidas das Américas 19.400). Aberta ao público, reúne atividades como contação de histórias, debates sobre combate ao desmatamento e outros desafios ambientais, passeio virtual numa colmeia, plantio de mudas, converto de coral e orquestra, oficinas e, claro, empréstimos e trocas de publicações.

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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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