ChatGPT está nos tornando mais burros?Descubra como IA atua na nossa mente
A inteligência artificial(IA) pode ampliar nossas capacidades, mas jamais substituirá o que nos torna verdadeiramente humanos. O segredo está no equilíbrio.

Em um mundo onde a inteligência artificial (IA) como o ChatGPT se tornou uma ferramenta indispensável para redações, pesquisas e até decisões cotidianas, surge uma dúvida inquietante: será que estamos delegando tanto ao robô que nosso cérebro está “enferrujando”? Mas será que essa comodidade está nos tornando intelectualmente mais frágeis? Estudos recentes sugerem que o uso excessivo da IA pode comprometer nossa capacidade de pensar de forma crítica e independente.
A inteligência artificial está mudando a forma como pensamos, aprendemos e tomamos decisões. Seus efeitos sobre nossas capacidades cognitivas já são perceptíveis, e os benefícios, inegáveis. O desafio é claro: como avançar com a IA sem comprometer o que nos torna intelectualmente humanos?
O Que a Ciência Revela Sobre o Efeito da IA no Cérebro?
Um estudo do MIT Media Lab, publicado em junho de 2025, analisou como diferentes formas de auxílio digital afetam a atividade cerebral durante tarefas de escrita. Os participantes foram divididos em três grupos: um utilizou o ChatGPT, outro recorreu ao Google, e o terceiro trabalhou sem ajuda externa. Os resultados demonstraram que os textos gerados com o auxílio do ChatGPT apresentaram menor originalidade e profundidade. Foram realizados, nos participantes deste estudo, exames médicos como o EEG (eletroencefalograma) e a fMRI (ressonância magnética funcional), que mostraram que o uso intenso de inteligência artificial pode reduzir significativamente a atividade cerebral em áreas responsáveis pela atenção, memória e raciocínio. O EEG é utilizado para medir os impulsos elétricos gerados pelos neurônios, permitindo detectar alterações na atividade cerebral, como em casos de epilepsia ou distúrbios cognitivos. Já a fMRI é empregada para identificar quais regiões do cérebro estão mais ativas durante uma tarefa, observando o fluxo sanguíneo. Quanto mais sangue e oxigênio em uma área, maior sua atividade. Esses exames são ferramentas fundamentais para os pesquisadores entenderem como o cérebro responde a estímulos e comportamentos, como o uso excessivo de tecnologia. Com base nesses dados, os cientistas criaram o conceito de “dívida cognitiva”, que descreve o enfraquecimento da nossa capacidade mental quando dependemos demais da IA. Eles compararam esse fenômeno à perda de orientação espacial causada pelo uso constante de GPS. Quanto mais deixamos que a IA pense por nós, menos treinamos nosso próprio cérebro para tarefas criativas e analíticas, o que pode gerar um déficit acumulado ao longo do tempo.
Outro estudo, publicado na revista Societies em janeiro de 2025, entrevistou 666 pessoas de diferentes faixas etárias e níveis educacionais. A pesquisa revelou uma forte correlação negativa entre o uso frequente de IA e o desempenho em pensamento crítico. Os participantes que utilizavam IA para escrever, pesquisar ou tomar decisões demonstraram menor consciência metacognitiva e pior capacidade analítica.O estudo também destacou o fenômeno do “offloading cognitivo”, ou seja, a transferência de tarefas mentais para ferramentas externas. Embora isso não seja novo, a IA leva esse comportamento a um nível mais profundo, pois é capaz de realizar tarefas complexas que antes exigiam esforço intelectual. Jovens e pessoas com menor escolaridade foram os mais afetados, indicando que a dependência precoce pode agravar o problema.
ChatGPT: Revolução ou Risco Cognitivo?
O ChatGPT representa uma revolução tecnológica. Ele acelera processos, facilita brainstormings e democratiza o acesso à informação. Para profissionais, é um assistente valioso; para estudantes, uma fonte rápida de ideias. No entanto, o risco está na abdicação do esforço mental. Quando deixamos de exercitar o cérebro, perdemos habilidades essenciais como argumentação profunda e criatividade original. Esses estudos não condenam a IA, mas alertam para o uso inconsciente. Assim como Nicholas Carr questionou em 2008 se o Google estava nos tornando superficiais, hoje nos perguntamos: a IA está nos tornando intelectualmente preguiçosos? A resposta parece ser afirmativa, se não houver vigilância.
Como usar a IA sem prejudicar sua capacidade cognitiva?
O segredo está no equilíbrio entre delegar tarefas à inteligência artificial e preservar o esforço intelectual individual. Antes de recorrer à IA, tente resolver o problema por conta própria e use a ferramenta apenas para complementar ou expandir suas ideias. Evite respostas automáticas. Mesmo em perguntas simples, desafiar-se a pensar fortalece o cérebro. Valorize o atrito criativo. A dificuldade inicial é parte essencial do processo de inovação. E após utilizar a IA, reflita sobre o que aprendeu e como faria aquilo sem ajuda. Esse tipo de autoanálise ativa a metacognição, ou seja, a capacidade de pensar sobre o próprio pensamento.
Inteligência Artificial Não Substitui Inteligência Humana
A inteligência artificial pode ampliar nossas capacidades, mas jamais substituirá o que nos torna verdadeiramente humanos. O segredo está no equilíbrio entre usar a tecnologia com consciência e manter viva a chama do pensamento próprio. A IA não vai nos substituir, mas pode nos tornar menos afiados se for usada sem critério. Mais do que nunca, é essencial cultivar a empatia, o diálogo e a conexão entre as pessoas. São esses laços que nos fortalecem, nos inspiram e nos lembram que, por trás de cada inovação, existe uma mente que sente, escolhe e transforma. Que a IA seja ponte, nunca barreira e que nossa humanidade continue sendo o que nos guia.
Referências:
1. MIT Media Lab. (2025, junho). Your Brain on ChatGPT: Accumulation of Cognitive Debt when Using an AI Assistant for Essay Writing Task. arxiv.org/pdf/2506.08872
2.Tucker, R. B. (2025, 20 de junho). Is ChatGPT Making Us Stupid? Forbes. forbes.com/sites/robertbtucker/2025/06/20/is-chatgpt- making-us-stupid
3. Gerlich, M. (2025, janeiro). AI Tools in Society: Impacts on Cognitive Offloading and the Future of Critical Thinking. Societies, 15(1), artigo 6. mdpi.com/2075-4698/15/1/6