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Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.
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Febre amarela: vacinar é prevenir

Em meio à recente descoberta, é preciso reforçar o caminho para a prevenção, ou seja, a vacinação

Por Fabiano Serfaty
Atualizado em 23 Maio 2017, 14h28 - Publicado em 16 Maio 2017, 16h54
Vacinação: ainda a melhor maneira de prevenir (SES-RJ/Divulgação)
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No início desta semana, o Instituto Oswaldo Cruz anunciou uma descoberta científica inédita até então na literatura mundial: o vírus da febre amarela que circula atualmente no Brasil é o mesmo já predominante no país desde 2008, porém, graças ao sequenciamento do genoma completo de amostras colhidas em macacos do Espírito Santo, os pesquisadores constataram mutações associadas a proteínas envolvidas na replicação viral.

Os impactos deste achado para a saúde pública ainda estão sendo investigados, assim como a possibilidade de esta ser uma característica presente em vírus que está circulando há mais tempo, mas que, até então, não havia sido identificado. Em meio à nova descoberta, é preciso reforçar o caminho para a prevenção, ou seja, a vacinação.

A vacina produzida no Brasil é considerada extremamente segura e eficaz: o imunizante protege contra genótipos diferentes do vírus e continua a ser a principal medida a ser adotada. As alterações identificadas pelos pesquisadores indicam que as mutações encontradas não afetam as proteínas do vírus e, por isso, não interferem na proteção conferida pela vacina.

No Rio de Janeiro, onde há décadas não eram registrados casos da doença, a febre amarela ainda é motivo de muitas dúvidas, principalmente de pais e mães quanto à proteção de seus filhos. Desde janeiro, a secretaria de Estado de Saúde adotou como estratégia a prioridade de imunização para os habitantes de cidades mais vulneráveis e hoje, 65 municípios compõem a lista de prioritários indicada com base na avaliação do cenário epidemiológico. Pioneiro, o estado do Rio foi o primeiro a, de forma proativa, solicitar sua inclusão na área de recomendação da vacina, antes mesmo de registrar os primeiros casos suspeitos.

E, enquanto as atenções ainda se voltavam para a doença, no último 17 de abril, teve início a campanha de vacinação contra a gripe – a baixa procura pelo imunizante nos postos também acende o alerta, uma vez que, apesar de ser uma doença simples, a gripe pode evoluir para casos mais graves, principalmente entre crianças, idosos e pacientes com baixa imunidade. As duas vacinas são importantes, mas possuem indicações e contraindicações bastante específicas, por isso, é essencial que as pessoas tenham acesso a informações confiáveis e esclareçam suas dúvidas. Confira a entrevista com o secretário de estado de saúde, Luiz Antonio Teixeira Jr.

Quais são as orientações para a vacinação contra febre amarela e contra a gripe, que acontecem ao mesmo tempo no estado do Rio neste momento?

As duas vacinas podem ser tomadas ao mesmo tempo, se necessário, porém, é fundamental que sejam observadas as contraindicações. Enquanto a vacina contra a gripe é indicada, principalmente, para crianças, gestantes e idosos, entre outros grupos, a vacina contra a febre amarela não é indicada para estes grupos. No caso da febre amarela, temos atualmente 65 municípios considerados prioritários no RJ, elencados com base na avaliação constante que fazemos do cenário epidemiológico. Nestes municípios, é importante que as pessoas não deixem de se vacinar. E, até o fim do ano, devemos ter cerca de 12 milhões de pessoas imunizadas contra a febre amarela em todo o estado.

Quanto à vacina contra a gripe, vale alertar sobre a baixa procura que está sendo observada nos postos municipais. Até a última semana, oito em cada dez pessoas que fazem parte dos grupos prioritários para receber a vacina ainda não tinham sido imunizadas. No caso da gripe, os grupos prioritários são compostos por crianças com idades entre 6 meses e menores de cinco anos, gestantes, mulheres com até 45 dias de parto e idosos com idades acima de 60 anos, além de trabalhadores da saúde e povos indígenas. Além disso, o público-alvo para a vacina engloba professores das redes pública e privada, funcionários do sistema prisional e portadores de doenças crônicas não transmissíveis, que devem ser avaliados por um médico para que possam apresentar prescrição médica. Entre estes grupos, a gripe pode evoluir para síndromes respiratórias graves.

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Já a vacina contra febre amarela é contraindicada para estes grupos. Como é feita essa avaliação de risco e benefício para os pacientes?

É importante lembrar que a vacina contra febre amarela está disponível durante todo o ano, direcionada às pessoas que pretendem se deslocar para áreas de risco, dentro ou fora do país. Neste ano, depois de décadas, tivemos casos da doença no território fluminense, o que nos levou a adotar a estratégia de vacinação de bloqueio, que se baseia na análise do cenário principalmente observado em estados que fazem divisa com o RJ, como Minas Gerais e Espírito Santo. Nos 65 municípios onde a população está mais vulnerável, a recomendação é que sejam feitas avaliações individuais no caso das pessoas que têm alguma contraindicação da vacina. Ou seja, crianças com idades entre seis e nove meses, gestantes, mulheres que estão amamentando e idosos devem ser avaliados de forma individual, para que o médico possa analisar de o risco de não tomar a vacina e contrair a doença é maior do que o de se imunizar e, posteriormente, vir a sofrer algum evento adverso. Isso também vale para pacientes que tenham o sistema imunológico debilitado.  Em geral, para os grupos com indicação – crianças a partir dos 9 meses até adultos com idades até 60 anos -, a vacina contra febre amarela produzida no Brasil, pela Fiocruz, é considerada extremamente eficiente, com eficácia acima de 90%, e segura.

QUADRO-FEBRE-AMARELA
(SES-RJ/Divulgação)

Quais são as recomendações para as crianças que ainda estão tomando suas primeiras vacinas?

De forma bem objetiva, a vacina não deve ser aplicada em bebês menores de seis meses. Entre seis e nove meses, é preciso avaliar os riscos e os benefícios, com a orientação médica. Antes dos seis meses de vida, não há provas científicas de que o benefício seja maior do que o risco para o bebê. É importante também observar as recomendações da vacinação infantil que se referem às vacinas tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba) ou tetra viral (contra sarampo, rubéola, caxumba e varicela). Essas só podem ser tomadas depois de 30 dias da vacina contra febre amarela. Na dúvida, o ideal é conversar com o pediatra.

Recentemente, o Ministério da Saúde anunciou a adoção da dose única contra a febre amarela no Brasil, como já ocorre internacionalmente e é recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Por que agora esta decisão foi tomada, na sua opinião?

Considero um avanço. No momento, o que temos são estudos conduzidos em diferentes países do mundo que nos mostram que uma única dose é suficiente para proteger a pessoa por toda vida. Portanto, não há porquê fazer com que ela tome uma vacina da qual não precisa, assim como não tomamos antibióticos sem necessidade, ou qualquer outro tratamento médico. O papel do gestor de saúde pública é apontar os caminhos para a proteção da população. Prevenir nem sempre quer dizer que vacinar será o melhor. É preciso avaliação técnica constante, focada no uso racional da vacina.

E a partir dessa decisão, qual é a orientação para crianças que tomaram a primeira dose da vacina contra febre amarela antes dos cinco anos?

Estudos indicam que pode haver necessidade de uma dose de reforço quando a criança é vacinada antes dos cinco anos. A nova dose deve ser aplicada 10 anos depois da primeira. Esta é a orientação do Ministério da Saúde com base no que a ciência nos mostra atualmente. Pesquisas em andamento podem nos apontar caminhos e orientações diferentes no futuro e novas regras podem vir a ser implementadas.

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Como orientar as pessoas adultas que não se recordam se já tomaram a vacina ou ainda que perderam seu histórico vacinal?

O ideal é que a pessoa busque recuperar seu histórico no posto de saúde mais próximo de casa ou que se lembre de ter se vacinado, é claro. Porém, se isso não for possível, o mais indicado é se vacinar.

A febre amarela se apresenta sob duas formas, silvestre e urbana. É importante esclarecer que os casos registrados no Brasil são de febre amarela silvestre. Quais são as diferenças entre elas?

A doença é exatamente a mesma, gerando os mesmos sinais e sintomas. A diferença está no vetor de transmissão: enquanto a febre amarela urbana é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti – o mesmo que transmite dengue, zika e chikungunya – e não é registrada desde os anos 1940 no Brasil, a febre amarela silvestre é considerada endêmica em diversas regiões do país e é transmitida por mosquitos de hábitos silvestres, principalmente das espécies Haemagogus e Sabeths, que vivem em matas e áreas rurais.

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(SES-RJ/Divulgação)

Como é feito o diagnóstico e quais são os sintomas da febre amarela?

 Inicialmente, os sintomas da febre amarela podem ser confundidos com os de outras doenças, como hepatite e leptospirose, além de formas mais graves da dengue. As primeiras manifestações da infecção são repentinas e incluem febre alta, calafrios, dores musculares e de cabeça, além de náuseas e vômitos que persistem por cerca de três dias. A forma mais grave é rara e geralmente, aparece depois de um breve período de melhora, um ou dois dias. Nestes casos, os pacientes podem apresentar insuficiência hepática e renal, além da icterícia – olhos e pele amarelados -, além de hemorragias e forte cansaço. O diagnóstico é feito por exame laboratorial e no Rio, a Fiocruz é a instituição de referência para a doença na região sudeste e, justamente por isso, temos trabalhado de forma conjunta, com o mesmo objetivo: a proteção da população fluminense.

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(Secretaria de Estado de Saúde - RJ/Divulgação)

Luiz Antonio Teixeira Jr é médico ortopedista com MBA Executivo em Saúde pela Coppead – UFRJ e desde o início de 2016 ocupa o cargo de Secretário de Estado de Saúde do Rio de Janeiro

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