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Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.

Ozempic e Mounjaro reduzem mortalidade, demência, AVC e protegem o cérebro

O tratamento precoce da obesidade e do diabetes influencia diretamente não só a sobrevida, mas também a preservação das funções cognitivas.

Por Fabiano Serfaty Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 29 jul 2025, 23h00 - Publicado em 29 jul 2025, 22h54
Homem de perfil leva a mão à testa.
Ao contrário do que muita gente acredita, a demência e o Alzheimer não são causados, exclusivamente, por herança genética.  (Shutterstock/Reprodução)
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Medicamentos agonistas do GLP-1 como a semaglutida (Ozempic/Wegovy) e a tirzepatida (Mounjaro/Zepbound), conhecidos por promoverem grande perda de peso e controle do diabetes tipo 2, podem estar abrindo um novo capítulo na medicina preventiva. Mais do que reduzir glicemia e ajudar no emagrecimento, essas drogas estão associadas a menor risco de demência, AVC e mortalidade geral, segundo um estudo publicado no JAMA Network Open envolvendo mais de 60 mil pacientes. Estes achados sugerem que os medicamentos agonistas de GLP-1 podem proteger o cérebro e prolongar a vida, ou seja benefícios que podem transformar a abordagem de doenças crônicas e neurodegenerativas nos próximos anos.

Estudo com mais de 60 mil pessoas: resultados expressivos

A pesquisa, analisou dados do banco TriNetX, que reúne prontuários eletrônicos de hospitais dos Estados Unidos, acompanhando 60 860 adultos com diabetes tipo 2 e obesidade, com idade média de 58 anos, ao longo de mais de seis anos. Nenhum dos participantes tinha histórico prévio de demência, acidente vascular cerebral (AVC) ou doença de Parkinson no início do estudo. Os pacientes foram divididos em dois grupos principais: o primeiro composto por usuários de agonistas do receptor de GLP-1, como semaglutida e tirzepatida, e o segundo formado por indivíduos que utilizavam outros medicamentos para diabetes, incluindo metformina, sulfonilureias e inibidores de SGLT2. Após rigorosos ajustes estatísticos para igualar os grupos em idade, sexo, índice de massa corporal e condições de saúde, os resultados mostraram que aqueles que utilizaram semaglutida ou tirzepatida tiveram 37% menos risco de desenvolver demência, 19% menos risco de sofrer um AVC e 30% menos risco de morte por qualquer causa quando comparados ao grupo que usava outros antidiabéticos. Esses achados sugerem que os benefícios dessas drogas vão além do controle glicêmico, possivelmente envolvendo efeitos anti-inflamatórios, melhorias metabólicas mais amplas e até uma ação direta sobre o sistema nervoso central, que pode explicar parte da proteção observada contra declínio cognitivo e eventos vasculares.

Redução de mortalidade, demência e AVC

Os resultados mostraram que o uso de semaglutida e tirzepatida foi associado a uma redução de 37% no risco de desenvolver demência, 19% no risco de sofrer um acidente vascular cerebral e 30% na mortalidade por todas as causas, em comparação com outros medicamentos para diabetes. Esses dados são relevantes porque os efeitos não se explicam apenas pelo controle glicêmico. Mesmo após ajuste para fatores metabólicos, as reduções de risco se mantiveram, o que indica possíveis mecanismos adicionais de proteção. Não foram observadas diferenças significativas no risco de Parkinson ou hemorragia cerebral entre os grupos.

Como esses medicamentos podem proteger o cérebro?

Os cientistas ainda investigam como os agonistas de GLP-1 oferecem proteção neurológica. Parte do benefício pode ser explicada pela perda de peso e pela melhora do controle glicêmico, fatores que reduzem inflamação sistêmica e protegem os vasos sanguíneos. No entanto, há evidências de que esses medicamentos também atuam diretamente no sistema nervoso central, já que existem receptores de GLP-1 no cérebro em regiões ligadas ao apetite, ao comportamento e à recompensa. Essa ação pode ter impacto em processos degenerativos e é um dos focos de ensaios clínicos como o EVOKE e EVOKE Plus, que avaliam se a semaglutida pode retardar a progressão do Alzheimer em estágios iniciais.

Por que essa conexão é crucial: o impacto do diabetes e da demência no Brasil e no mundo

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 55 milhões de pessoas vivem atualmente com algum tipo de demência ao redor do mundo, e esse número está previsto para quase triplicar até 2050, representando uma crise global de saúde pública. No Brasil, os dados são igualmente alarmantes: cerca de 1,7 milhão de pessoas já convivem com a doença, e mais de 100 mil novos casos são diagnosticados anualmente, um número que cresce a cada ano devido ao envelhecimento da população. O diabetes tipo 2, presente em aproximadamente 16 milhões de brasileiros, é um dos principais fatores de risco para a demência, aumentando as chances de desenvolvimento em até 70%, conforme aponta a Lancet Commission on Dementia de 2024. Paralelamente, a obesidade, que já acomete mais de 20% dos adultos no país, eleva esse risco em cerca de 30%. Quando a diabetes e a obesidade coexistem o risco de Alzheimer e declínio cognitivo não apenas soma, mas cresce de forma exponencial, evidenciando a urgência de estratégias eficazes de prevenção e tratamento para essa dupla epidemia que ameaça a saúde cerebral da população brasileira.

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Uma possível revolução na prevenção

Estamos diante de um avanço transformador na medicina preventiva. Os dados sugerem que os medicamento agonistas do GLP-1, como a semaglutida e a tirzepatida podem ir além de medicamentos para perda de peso e para o controle glicêmico,consolidando-se como ferramentas poderosas na redução da mortalidade, na proteção do cérebro e na prevenção de doenças devastadoras, como demência e AVC.  A mensagem é clara e as evidências atuais são contundentes: o tratamento precoce da obesidade e do diabetes tem impacto direto não apenas na sobrevida, mas também na preservação da função cognitiva, estabelecendo um novo paradigma na prática clínica.

Fonte:

  1. Lin HT, Tsai YF, Liao PL, Wei JC. Neurodegeneration and Stroke After Semaglutide and Tirzepatide in Patients With Diabetes and Obesity. JAMA Netw Open. 2025 Jul 1;8(7):e2521016. doi: 10.1001/jamanetworkopen.2025.21016. PMID: 40663350.

 

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