A importância do alerta de Dan Reynolds sobre saúde mental

Em meio à euforia que o Rock in Rio causa a cada dois anos, um momento chamou a atenção na última semana. Líder da banda Imagine Dragons, o cantor Dan Reynolds, usou todo o poder do microfone para, do alto do palco, jogar atenção sobre a importância da saúde mental. “A razão para a banda ter começado, é que quando eu tinha 12 anos, eu comecei a sofrer na minha mente, de uma forma que era difícil de me expressar. Não era tristeza. Era cinza. Minha mente estava entorpecida. As coisas que me alegravam, já não me traziam mais alegria. Isso continuou por muitos anos e eu guardei para mim. Isso me machucou e eu perdi anos da minha vida, que poderiam ter sido poupados se eu tivesse me expressado sobre isso com alguém”, disse o cantor.

O alerta de um ídolo pop diante de seus fãs – majoritariamente jovens –  é de enorme utilidade. É crescente o número de jovens que se automutilam, que sofrem (e fazem) bullying nas escolas, que são diagnosticados com algum tipo de transtorno – questões que permeiam a saúde mental desta faixa etária.

Dan Raynolds não é o primeiro. Muitos outros esportistas, cantores e atores, já vieram a público falar abertamente sobre a questão da saúde mental. Recentemente, a ginasta Simone Biles, uma das maiores atletas do mundo, veio a público comunicar que sofre de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A informação foi fundamental importância porque ajuda a diminuir preconceitos e trazer uma nova visão para os transtornos mentais. “Tenho TDAH e não é vergonha me medicar para isso, não temo que as pessoas saibam. Eu tenho TDAH desde que era criança”, afirmou ela, atestando o quanto o transtorno não necessariamente prejudica a funcionalidade do paciente, inclusive para atividades de alta performance.

Segundo a Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência (AACAP), a depressão entre crianças e adolescentes pode chegar à marca de 9% na faixa entre 5 e 17 anos. Portanto, declarações como a de Reynolds e Biles, aliadas às campanhas de conscientização, como a da psicofobia, idealizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), contra o estigma de transtornos mentais, tem o enorme poder de quebrar estigmas e preconceitos, mobilizando pacientes a procurarem ajuda.

Ao final de sua fala, Reynolds deu a dica: “Eu aconselho vocês, para qualquer um, se está doendo, por favor, não mantenha isso para você mesmo, compartilhe, converse com um amigo, com a sua família. Vá à terapia! Eu tenho feito terapia durante muitos anos. Isso não te torna fraco, não faz de você quebrado, faz de você sábio!”, concluiu.

Fabio Barbirato é médico psiquiatra pela UFRJ, membro da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência e responsável pelo setor de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na PUC-Rio. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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