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Fábio Barbirato

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Psiquiatra infantil

Carla Diaz, Britney Spears, Demi Lovato: quando crianças prodígios crescem

Habilidade artística ou esportiva é uma faca de dois gumes para o futuro da criança

Por Fabio Barbirato
Atualizado em 6 abr 2021, 19h55 - Publicado em 6 abr 2021, 10h30
Foto da atriz Carla Diaz.
Carla Diaz: "Levei um susto, alguém pediu para abrir um inquérito e eu vou precisar prestar esclarecimentos de preconceito racial, como se eu fosse a vítima' (TV Globo/Reprodução)
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Uma das protagonistas desta 21ª edição do Big Brother Brasil, a atriz Carla Diaz é uma velha conhecida do público brasileiro, apesar dos seus poucos 30 anos de vida. Com seu bordão “inshalá” na novela “O Clone”, Carla marcou época com a personagem Khadija, com apenas 10 anos. Antes disso, já tinha uma legião de fãs por conta da novela “Chiquititas”. A Carla Diaz que apareceu agora em rede nacional é uma mulher feita, adulta consciente que superou um câncer no ano passado e atriz respeitada por seus pares. Ao lado de Bruna Marquezine e Debora Secco, são casos raros e que chamam a atenção justamente por sua excepcionalidade.   

Crianças talentosas, muitas vezes, acabam desistindo da carreira tomando outro rumo na vida. Mas as que permanecem, via de regra, se tornam vítimas do destino traçado para elas por empresários com intenções escusas ou pais gananciosos ou mal orientados. Esta não é uma realidade apenas no meio artístico. Recente matéria do jornal O Globo relatou  a rotina dos jogadores de futebol mirins, dos times de base, já enfronhados em um cotidiano de treinos, estudos, contato com fãs e administração de carreiras. O que já seria difícil para um adulto, fica ainda mais delicado para as crianças.

“Framing Britney Separs – A vida de uma estrela”, no GloboPlay, e “Demi Lovato: Dancing with the Devil”, no Youtube, duas produções atuais, confirmam essa percepção. Criança prodígio na TV americana, Britney se viu mega famosa da noite para o dia e entrou em um espiral de comprometimento da sua saúde mental: perdeu a guarda sobre os dois filhos e é tutelada pelo pai com quem não tem uma relação amistosa. Aos 39 anos, não tem controle sequer sobre sua conta própria bancária. Já Demi Lovato compartilha com seus fãs a luta que travou contra as drogas e a overdose que sofreu em 2018. Tanto Britney quanto Demi já tinham transtornos mentais anteriores à popularidade. A fama, e a consequente exposição desmedida, apenas potencializaram o que já fazia parte delas, piorando ou antecipando condições pré-existentes, que iriam vir à tona, mais cedo ou mais tarde.

Antes de Britney e Demi, já tínhamos visto outros exemplos de danos à saúde mental de crianças talentosas. A lista é extensa: Macaulay Culkin, Lindsay Lohan, Justin Bieber, Liza Minelli, Drew Barrymore. Em comum a todos eles, o contato precoce com a fama planetária, fortunas construídas rapidamente e o interesse de algum adulto por trás para que a máquina de dinheiro não cesse.

Assim como em outras dinâmicas do dia a dia das crianças, o fator que faz a diferença na vida delas é a postura dos pais ou responsáveis. São eles os encarregados do bem-estar dos seus filhos. Isso significa que a carga horária do trabalho não deve comprometer os estudos e a frequência escolar. O que era visto como uma carreira promissora pela mãe ou pai pode se tornar apenas uma tarefa maçante para a criança. Se em algum momento, por qualquer razão, a criança opta por desistir da carreira, essa vontade deve ser respeitada. Outro ponto importante é definir o que fazer com a grande quantidade de dinheiro que as crianças talentosas são capazes de gerar em pouco tempo. O dinheiro é da criança. A organização financeira deve ser planejada para o futuro dela também.

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Muitas crianças prodígios afirmam, quando já estão adultas, que o que mais sentiam falta da infância é brincar. Esta deve ser a principal ocupação de uma criança, seu verdadeiro “trabalho”: brincar. É nessa idade, via de regra, que se criam memórias afetivas, e amizades longevas.

Que os pais entendam e respeitem esse tempo, para o bem das próprias crianças.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM  e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

 

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