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Fábio Barbirato

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Psiquiatra infantil

Kate Spade e Anthony Bourdain: porque suicídio não pode ser tabu

Morte da estilista e do chef de cozinha servem para desmistificar a ideia de que a riqueza e a fama eliminam o risco da depressão

Por Fábio Barbirato
Atualizado em 27 jun 2018, 10h07 - Publicado em 26 jun 2018, 20h08
Museu da República
Museu da República (Fernando Frazão/Agência Brasil)
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Neste mês de junho, o mundo foi surpreendido por dois casos de suicídio. Primeiro foi a estilista Kate Spade, aos 55 anos. Poucos dias depois, foi a vez do chef Anthony Bourdin, de 61 anos. Para nós, que vemos de fora, a notícia das mortes soa ainda mais assustadora pelo imaginário de que ambos levavam uma vida de sonhos, cheia de viagens, dinheiro e realizações. Mas será que era isso mesmo?

O fato é que precisamos falar sobre suicídio.

Antes de mais nada, temos que esclarecer que o suicídio sempre esteve presente em todas as sociedades. A palavra suicídio (Sui = si mesmo; Caedes = ação de matar) foi usada pela primeira vez no século XVIII. Apesar de ser um fato corrente na história humana, não se falava sobre ele por medo de estimular novos casos. Faz sentido, mas o preço desse comportamento é que o suicídio acabou virando um tabu.

Acredito que dois fatores trouxeram o assunto para o centro do debate nos últimos anos.

O primeiro é o crescente uso de rede social. Facebook, Instagram, Snapchat e todas as outras redes viraram vitrines de uma pseudo felicidade. Da porta pra fora, todos são bem sucedidos, bem casados e tem os melhores filhos do mundo. Mas sabemos que da porta pra dentro, não é bem assim. Esse comportamento contemporâneo é, cada vez mais, gerador de angústias e depressões, muitas vezes difíceis de serem superadas.

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Outra novidade que colocou o suicídio no foco das atenções, especialmente entre os jovens, é a série “13 Reasons Why”, exibida pelo Netflix. A segunda temporada estreou no mês passado causando um grande barulho. A série conta a história de Hannah Baker, uma jovem estudante que comete suicídio, mas deixa um conjunto de registros em fitas cassete que dão pistas das razões que a teriam motivado a cometer um ato tão extremo: estupro, assédio, exposição de privacidade e bullying são alguns deles.

Sem dúvida, trata-se de um tema complexo e delicado para ser abordado com profundidade em um programa de entretenimento. Corre-se sempre o risco de acabar glamurizando um assunto sério demais. Mas o fato concreto é que alguns pacientes chegaram aos consultórios – da Barra da Tijuca ao atendimento gratuito na Santa Casa – trazendo as questões levantadas pelos personagens. Não podemos ignorar que as pessoas estão em busca de ajuda e informação. Recomendei aos pais que assistissem ao programa também, para que os filhos ficassem à vontade para fazer perguntas e comentários que julgassem pertinentes. Esse diálogo é fundamental.

Desde a estreia de “13 Reasons Why”, em abril de 2017, a procura pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) cresceu de forma impressionante no Brasil: os e-mails diários pularam de 55 para 300. Os acessos ao site triplicaram. Isso comprova que é fundamental falarmos sobre suicídio. Silenciar apenas deixa o problema ainda mais doloroso.

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