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5 perguntas para André Mussalém

Single Maré, do músico pernambucano, celebra Marielle e é inspirado na obra de Chico Buarque

Por Fabiane Pereira
Atualizado em 13 jun 2018, 10h01 - Publicado em 13 jun 2018, 09h22
 (André Mussalém_Josivan Rodrigues/Facebook)
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Em 2016, André Mussalém lançou seu primeiro registro fonográfico, No Morro da Minha Cabeça, que criticava os estereótipos do samba. André faz parte da nova e diversa cena musical pernambucana e já soma quase três décadas de autoria musical com mais de cem composições. Artista desde os 16 anos, o músico (e advogado) estuda há muito tempo o processo de formação do povo brasileiro por meio da música.

Este agosto, Mussalém se prepara pra lançar seu segundo disco, batizado de Pólis e produzido por ele, que resgata a tradição política do cancioneiro brasileiro da segunda metade do século XX. O samba assume um discurso de crônica e crítica com nítidas influências de Gonzaguinha, Aldir Blanc, Caetano Veloso, Chico Buarque, Ruy Guerra e do cubano Pablo Miláres.

O primeiro single deste novo trabalho que será lançado amanhã em todas as plataformas digitais chega mais cedo por aqui. Intitulado Maré, a canção é uma homenagem póstuma à Marielle Franco, vereadora carioca brutalmente assassinada no centro do Rio de Janeiro cujas circunstâncias da execução até hoje – três meses depois – não foram explicadas. A canção foi construída usando como referência Gota D’água, música de Chico Buarque. Os versos narram uma tragédia que acontece numa favela e foram pensados, tanto na forma quanto na abordagem, tendo o clássico Buarquiano como ponto de partida.  Na faixa, Mussalém faz um belo dueto com o também músico pernambucano Almério.

Pólis traz nove canções mais uma faixa bônus. Participaram de Maré, Rafael Marques (bandolim e cavaco), Ricardo Freitas (violão sete cordas), Marcílio Souza (fagote), César Michiles (flauta) e Renato Nogueira (percussão).

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Maré_arte
(capa single Maré/Facebook)

CINCO perguntas para André Mussalém

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FP: Fale um pouco sobre o processo artístico/criativo de PÓLIS? 

AM: A ideia de fazer Pólis surgiu durante o lançamento do primeiro álbum, quando a situação política no Brasil começou a se deteriorar. Virou quase uma necessidade minha tratar de temas políticos e sociais nas canções e resgatar uma tradição de um samba que faz a crônica do país, bastante comum na década de 60 e 70 do século XX, principalmente durante a ditadura militar. Essas músicas, de décadas passadas, foram as minhas principais fontes de inspiração.

FP: O trágico assassinato da Marielle Franco inspirou a canção Maré. A execução aconteceu há três meses. Esta canção foi a última a entrar no disco? Como foi feita a escolha do repertório?

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AM: Maré foi a última música a ser composta para o repertório do álbum. Quando eu me deparei com o tragédia, fiquei extremamente sensibilizado com o simbolismo de um assassinato tão brutal que demonstrava o quão grande era e é nosso abismo. Marielle, uma mulher negra – que sob todas adversidades alcançou um espaço relevante na política – era a representação da voz dos excluídos; não falar sobre isso no álbum seria fazer um trabalho parcial. Tirei do repertório uma faixa que já ia gravar e corri para o violão. Foi uma música muito dolorosa de se compor. 

O repertório não foi exatamente escolhido, ele foi composto toda vez que um fato político me chamava a atenção: desde a interpelação de Chico Buarque na rua, por pessoas conservadoras, passando pela apreensão de fantasias carnavalescas pela polícia em Pernambuco, chegando até em fatos pitorescos da mídia, como a notícia que Caetano Veloso havia estacionado no Leblon (e a simbologia disso em um Rio sob intervenção federal).

FP: Maré tem a participação do músico pernambucano Almério. Por que chamá-lo pra esta parceria nesta faixa em especial?

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AM: Eu vejo a presença de Almério no palco como uma ação política. Ele tem o poder de transformar a música em uma força da natureza, com aquela voz que faz o mundo parar. Eu  já havia composto uma faixa para ele cantar. Mas quando compus Maré senti que precisava de algo mais forte do que minha presença para as pessoas sentirem a urgência da mensagem. E só Almério poderia dar o recado dessa urgência.

FP: Pólis é seu segundo álbum. Há dois anos você lançou No Morro da Minha Cabeça. Quais as principais diferentes artísticas que o ouvinte encontra nestes dois trabalhos?

AM: Eu acho o primeiro álbum mais doce e feliz. É um álbum que comemora nossas tradições no centenário do samba. Musicalmente, “No Morro da Minha Cabeça” tem arranjos mais coesos, mais eruditos. “Pólis” é um álbum mais agressivo, mais interpelador do ouvinte. Essa agressividade fica bem evidente nos instrumentos que escolhemos para as músicas. Contudo, não nos desviamos das convenções do samba, não o alteramos tanto assim. Lá ainda estão o cavaco, o pandeiro e o tamborim.

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FP: Você é um músico que transita entre a nova cena musical pernambucana. Como você vê o atual momento da música brasileira e de que forma, você como músico independente, se articula pra promover a circulação do seu trabalho?

AM: A música brasileira atual, sobretudo a independente, quebrou as fronteiras internas do país. Não existe mais uma geografia limitadora e, por isso, há uma multiplicidade de sons e estilos sendo produzidos. Mais do que o mercado consegue absorver. Fazer música ficou menos burocrático, não há mais a necessidade de intermediação de uma gravadora, de uma pessoa jurídica. Você faz a música em casa, lança na plataforma digital por uma distribuidora e está concorrendo com músicos já consagrados. Lógico que isso tem um preço. Para seu trabalho circular e chegar nas pessoas é preciso um trabalho estratégico de divulgação que vá além da música. Tal estratégia envolve desde encontrar parceiros musicais, produtores consagrados, até transformar a música em outros produtos mais imagéticos. Você tem que ser sua própria gravadora.

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