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A discussão é antiga: culpar ou não os usuários de drogas pelo fortalecimento do crime organizado. Leia na crônica de Fernanda Torres

Por Fernanda Torres
Atualizado em 11 mar 2018, 10h00 - Publicado em 11 mar 2018, 10h00
 (Isabelle Barreto/Veja Rio)
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A discussão é antiga. Culpar ou não os usuários de drogas pelo fortalecimento do crime organizado.

O mercado paralelo da Rocinha, por exemplo, que abastece bairros nobres da capital fluminense, é o mais lucrativo do Rio. Não à toa, facções rivais, armadas de fuzis até os dentes, travam uma guerra acirrada pelo controle do varejo, espalhando terror na região.

Com os militares assumindo de improviso o comando da segurança do estado, medidas emergenciais, entre elas mandados coletivos de busca e prisão, entraram em discussão.

Os interventores justificam o pedido afirmando que famílias trabalhadoras são, muitas vezes, obrigadas a esconder armas e drogas em casa, tornando inócuas as ações policiais.

Os que repudiam o direito amplo, geral e irrestrito de prender, revistar e até matar suspeitos chamam a atenção para a violação de direitos constitucionais de cidadãos pobres e favelados. Se os sala ­e três quartos do Leblon estivessem entre os endereços violáveis, a grita seria outra.

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Talvez na tentativa de tocar nesse ponto nevrálgico, o recém-­empossado ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, no seu discurso de posse, tenha feito questão de lembrar que é o vício que sustenta o crime.

As drogas são o quarto mercado mais rentável da economia mundial. Dinheiro graúdo, que circula em bancos e paraísos fiscais, isento de imposto e operado por contadores e advogados. Trata-se de um poder que desconhece leis e fronteiras, suborna parlamentares, juízes e agentes de segurança, arregimentando crianças e jovens sem emprego ou perspectivas futuras.

Jungmann, pelo que pude entender, pretende coibir o comércio e a demanda, levando a sério o que diz a lei: é considerado contraventor não apenas o que vende mas também aquele que compra o papelote, o paco ou o sacolé.

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Num país que desponta como o segundo maior consumidor de cocaína do mundo e o primeiro de crack, seria o caso de meter os viciados todos na cadeia? Qual cadeia? As já superlotadas?

Como separar o vício da violência, o narcótico da arma? Eis a questão.

O Uruguai descriminalizou a maconha; na Europa, é possível comprá-la em lojas especializadas; na Califórnia, até os republicanos chiaram quando se cogitou reverter a lei que permite a sua comercialização. Devidamente taxada, a liberação da maconha deu dividendos legais e enfraqueceu um dos braços do crime.

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Não fumo maconha há muitos anos e tenho horror e pena de quem cheira cocaína. Mas é preciso separar a segurança pública da saúde pública.

Nenhum vício é saudável, o nome já diz, mas é preciso vencer barreiras morais e admitir a falência da política antidrogas.

Sou pró-Lei Seca no trânsito e contra a velha Lei Seca, que transformou Chicago numa praça de guerra.

Em tempo: o Brasil pediu a extradição do senhor das armas, Frederick Barbieri, preso em Miami. Para quê, eu pergunto. Para que ele se reúna com os sócios e continue a tocar os negócios numa prisão brasileira de segurança mínima?

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