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Ike Cruz

Por Ike Cruz, empresário artístico Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

O caso Camila Queiroz expõe apenas a ponta do iceberg

Em qualquer ambiente cercado de exposição, fama repentina e egos aflorados, a melhor forma de gerenciar uma crise é se antecipar a ela

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Atualizado em 3 mar 2022, 12h16 - Publicado em 27 nov 2021, 14h50
Camila Queiroz
Camila Queiroz: atriz deixou a segunda temporada de Verdades Secretas (Divulgação/Divulgação)
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Na era das redes sociais, qualquer que seja a polêmica, a imprensa procura apurar os meandros dos acontecimentos, mas o tribunal da internet acaba gerando mais versões do que fatos. Por isso, e principalmente por não ter conhecimento suficiente do que de fato ocorreu, não me cabe aqui analisar o desligamento da atriz Camila Queiroz da segunda temporada da série Verdades Secretas, da emissora ou comentar qualquer circunstância desse caso. A coluna não é sobre o ocorrido. É apenas uma reflexão que o caso despertou.

Sem entrar no mérito de quem está certo ou errado, o fato é que esse imbróglio trouxe a tona uma situação da qual eu já havia sinalizado, anos atrás, numa reunião com alguns executivos da indústria audiovisual. Acredito que para uma grande empresa obter um boa gestão de profissionais, seja um atleta, “trader” ou artista, seria importante contar com um suporte psicológico profissional e específico. Porém, diferente do que num primeiro momento isso possa remeter, não se trata de cuidar de nenhuma disfunção mental. É sobre a importância de um novo talento saber lidar com três elementos muito delicados em qualquer trajetória profissional:  ascensão rápida, dinheiro e fama. E isso não é missão pra qualquer um. São raros os exemplos que passaram por essa fase sem deslizes. Os que se atentaram ou foram bem orientados a tempo, seguiram em frente, outros se machucaram e foram esquecidos.

Pela minha experiência, posso garantir que é mais fácil lançar um talento do que administrá-lo.

Quanto mais jovem, mais vulnerável fica pra se perder nesse mar de tentações. É nesse estágio que clubes, empresas e etc devem se atentar, se quiserem, de fato, cultivar um talento promissor. A família não dá conta pois, geralmente, fica tão extasiada quanto a personalidade. Às vezes, até mais. Sem contar que, muitas vezes, a questão financeira fala mais alto e fica difícil confrontar quem proporciona a entrada da maior parte da grana na casa.

Por isso, em tom de brincadeira, sempre digo que talentos não devem levar em conta dois tipos de elogio: o familiar e o dos fãs. Massageiam o ego, mas podem ofuscar uma realidade importante de ser observada.

Em todos esses anos no mercado artístico, não foram poucos os relatos que ouvi de jovens artistas, que se perderam em deslumbramentos, baladas até ao amanhecer, amizades frívolas e gastos desnecessários (se não gastou muito dinheiro, gastou um tempo valioso). Alguns chegaram a admitir que iam direto para as gravações, virados da noite anterior.

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Não há carreira que resista a tanta irresponsabilidade, dispersão e futilidade. Com isso, é muito comum ver jovens promissores, hoje mais maduros, arrependidos de muitas atitudes e inversão de valores que, possivelmente, abreviaram uma carreira promissora. E é dentro desse cenário que entram todas as outras variáveis comportamentais. Se não houver um acompanhamento muito próximo desse jovem, a tendência é que o trabalho mais exaustivo à frente, seja gerenciar uma crise ou recolher os cacos.

Por outro lado, cabe ao jovem promissor valorizar as oportunidades, ter responsabilidade, trabalhar com afinco para se estabelecer e principalmente, entender que nenhum profissional, por melhor que seja, está acima de uma instituição. Sem o veículo condutor, o craque ou a estrela, jamais conseguiria mostrar o seu trabalho e, consequentemente, se promover.

Portanto, se alguém (agentes, empresários, clubes ou instituições) pensa realmente em formar talentos, não pode ficar restrito apenas em transformá-los em estrelas da noite por dia. É preciso conscientizá-los de toda responsabilidade que envolve a profissão, amparar e sinalizar para as diversas armadilhas do sucesso. Autossuficiência e soberba são as mais comuns.Deve se entender a diferença entre escutar o que eles tem a dizer e “ouvir” o que eles estão pensando ou sentindo. É sobretudo, entender sobre seus possíveis dilemas e conflitos pessoais.

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No mundo moderno, não adianta possuir a melhor estrutura, máquinas e tecnologia, e não entender de ser humano. Tudo na vida passa por pessoas. É imprescindível saber lidar com gente. Se não houver uma dedicada atenção ao profissional, nem o mais moderno avião, decola.

É preciso estar atento aos sinais e, para isso, é fundamental estar realmente próximo, dando todo tipo de suporte, assim como muitas empresas e clubes já o fazem na Europa e nos EUA. Em qualquer ambiente cercado de exposição, fama repentina e egos aflorados, a melhor forma de gerenciar uma crise é se antecipar a ela. Caso contrário, todo resto será consequência.

* Ike Cruz é empresário artístico e fundador do Actors & Arts

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