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Lelo Forti

Por Lelo Forti, mixologista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Partiu Zona Norte: bares tradicionais que fazem parte da história carioca

Torresmo em barras, empadas, drinks on tap e muita resenha. A simplicidade e as tradições que ganham cada vez mais adeptos. Tudo longe da Zona Sul.

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Atualizado em 4 nov 2022, 13h35 - Publicado em 4 nov 2022, 12h38
PATRIMÔNIO
Zona norte: pastéis, torresmo, chopp gelado, simplicidade e muita resenha (./Veja Rio)
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O Rio de Janeiro sempre foi um lugar diferente no cenário nacional. Já foi capital federal, palco das finais das copas de 1950 e 2014, terra do Cristo Redentor e Pão de Açúcar, do calçadão inconfundível de Copacabana, cidade do mate gelado, berço da feijoada, terra de belas praias, lugar onde se aplaude o por do sol do Arpoador, esplendor do samba e da Sapucaí, reduto de Tom Jobim e sua garota de Ipanema e de uma boemia autêntica, tradicional e histórica.

Não se pode falar sobre a cidade maravilhosa sem citar, descrever e até se emocionar com seus bares, seus famosos e indescritíveis “pé limpo” e “pé sujo”, definições essas que somente os cariocas conseguem entender. Explicar para um visitante o que define um bar do outro é uma missão impossível. Dane-se. Afinal, o que importa é ser feliz em qualquer um deles. Mas, afinal, o que existe por trás desta magia carioca de amar e frequentar bares, botecos, pequenas portas que abrem diariamente e fazem a alegria de seus frequentadores? Comentários mais rasos podem descrever situações do cotidiano, como calor frequente, cidade de praia, local turístico, ótimo local para se ver e ser visto, fome, sede, e por aí vai. Até aqui nada de anormal, pois tudo isso é verídico. Mas, prestando um pouco mais de atenção, observa-se um comportamento totalmente diferente dos cariocas da gema em seus cotidianos. O Rio é diferente. Quem vem nos visitar sabe disso e se comporta, ou melhor, se insere neste contexto rapidamente, e passa a viver seus dias, seu tempo na cidade como se fosse um autêntico carioca. Isso é um fato. Quando um carioca vai para São Paulo, por exemplo, ele jamais abdica de suas manias e, principalmente, de seu linguajar. Pode ele estar numa reunião importante ou num almoço de negócios. Ao final do dia, esse carioca estará em algum bar bebendo um chope paulista, falando seu “carioquês” super puxado, e dizendo que o chope do rio é infinitamente superior.

Há tempos os bares cariocas possuem fama nacional e até internacional. Do “Amarelinho” do centro da cidade, inaugurado em 1921, passando pelo lendário Café Lamas, com seus 148 anos de história, ou ainda pela Pizzaria Guanabara, reduto de artistas como Cazuza nos anos 90, (hoje uma incógnita), Bar Jobi, Bracarense, Bar Belmonte, Bar do Oswaldo e tantos outros de extrema relevância que se confundem com a história da cidade. Estes tradicionais pontos de encontro sempre foram frequentados por cariocas e todas as pessoas que nos visitam. Vir ao Rio e não frequentar algum desses é o mesmo que não subir o Morro do Corcovado para apreciar a vista da cidade e o monumento do Cristo Redentor, pelo menos uma vez na vida.

Mas há, ainda, um movimento cada vez maior de cariocas “fugindo” destes tradicionais points e frequentando redutos boêmios (também diurnos) de bares tão bom quantos os da Zona Sul, porém em locais mais distantes do conhecimento dos visitantes. Bairros como Tijuca, Grajaú, Maracanã, Benfica e muitos outros da Zona Norte carioca estão sendo “invadidos” por esta explosão de redutos simplesmente maravilhosos de se comer & beber. Há tempos venho assistindo com alegria a essa força de bares extremamente simples, sem frescura e que estão entre os melhores locais para conhecer, se divertir e ter uma experiência legitimamente carioca.

Bares como o Angu do Gomes (Rua Sacadura Cabral 75 ), com sua batidinha de coco e cerveja de Garrafa no Bafo da Prainha, na Gamboa. Local este da famosa Pedra Do sal, onde, às segundas, rola um samba raiz que arrasta multidões há anos. Viver esses locais é viver o que o Rio tem de melhor. Sua gente. Bairros como a Tijuca, de onde saem os tijucanos, são cheios de botecos maravilhosos. Começando Pelo Restaurante Salete (Rua Afonso Pena 189) e seus azulejos azuis, que desde 1957 serve uma das melhores empadas do Rio. Às quintas-feiras a programação da casa é voltada para o público feminino, desde dose dupla de drinques on tap da mais nova marca carioca, Bica, empresa de drinques em barris que está revolucionando o serviço de bar, trazendo agilidade, qualidade e lucratividade. O movimento é tamanho, que recentemente a casa começou seu projeto de expansão e já pegou a loja ao lado. Nosso tour segue agora para o Grajaú, onde nasceu, em 1991 o Bar do Adão, (Avenida Engenheiro Richard 105). Por lá, além do chope geladíssimo, tem os pastéis mais loucos que se pode experimentar na cidade. São mais de 50 variedades de recheios, doces e salgados e ainda um menu executivo muito atrativo em quantidade e preço. Rodar pelas verdes ruas do bairro, que mais parece uma cidade do interior, é um convite super agradável e “off label” que todo mundo deveria experimentar.

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Em pé, sem problemas

Rodar a Zona Norte em busca do bar perfeito é uma missão como o homem habitar Marte. São muitas as possibilidades e diferentes experiências. Em dias de jogo do Flamengo, por exemplo, o entorno do Estádio do Maracanã se confunde com a saída do metrô da Carioca às 18 horas. Um formigueiro de pessoas se amontoa em frente aos bares como Bode Cheiroso e Bar dos Chicos, (ambos na Rua General Canabarro, 218 e 119, respectivamente). Além dos bares, ainda existe uma invasão de ambulantes que vendem de tudo. Todo mundo em busca de um lugar ao sol. No Bode Cheiroso, o queridinho dos cariocas na atualidade, o movimento começa cedo e as 16h já não tem mais mesa disponível. O que o bar tem de diferente? Simplicidade. Cerveja de garrafa gelada, um atendimento rápido e um torresmo comercializado em barras que você come rezando. Mesas postas até o outro lado da rua, cheias de gente bebendo e comendo são uma rotina diária. O local é eclético, simples e cheio de vida.

É sabido que carioca que se preze bebe chope em pé, ou apoiado em algum barril que virou uma espécie de mesa de apoio, de preferência na calçada ou na mureta. Viver o Rio é também, por muitas vezes, passar perrengue, segurar um chope com uma mão e um torresmo na outra. Ninguém liga. Essa é a rotina dos frequentadores do Bar do Velho Adonis, (Rua São Luiz Gonzaga, 2156), no bairro de Benfica, também Zona Norte. O lugar é um fenômeno. Localizado em uma esquina, sua simplicidade provinciana é um reduto de gente que adora comer bem, sem frescura, sem pressa. O menu é cheio de opções e vive lotado. Já estive por lá algumas vezes, em diferentes dias e horários e não teve jeito. Tive que encarar, de bom humor, a espera por uma mesa, bebendo boas tulipas, beliscando seus quitutes. Quando a mesa liberou, já estava em resenha com meus “novos” amigos que eu nunca havia visto, e permaneci na calçada, mais feliz que pinto no lixo.

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Existem muitas outras opções incríveis pelos bairros nas redondezas. Cachambi, Engenho de Dentro, Vila Isabel, e Méier, para não me estender. Quando você, carioca ou não, quiser conhecer a essência da cidade, olhe para a Zona Norte. Você pode se surpreender com tantas coisas simples, deliciosas e provincianas que fazem a cabeça de muita gente. Basta querer. Se quiser, pode me chamar. Vou com você.

Cheers.

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