Curiosidades da mostra sobre Vinícius de Moraes, no MAR
Com curadoria de Eucanaã Ferraz e Helena Severo, são mais de 300 itens entre manuscritos, fotografias históricas, vídeos, livros raros, capas de discos etc.
Se Vinicius de Moraes estivesse vivo, provavelmente teria perdido a hora da abertura da própria exposição — mas, como sempre, chegaria com um copo de uísque na mão e um poema pronto. No fim de semana de comemoração de 112 anos, o Museu de Arte do Rio (MAR) virou um cenário dos anos 60 com clima de “Chega de Saudade”, com a abertura da mostra “Vinicius de Moraes – por toda a minha vida”.
Logo na entrada, um visitante disse “Vinicius viveu tão intensamente que até o amor ficou com inveja”. Parte da árvore genealógica do poetinha (que casou nove vezes) estava lá: a filha Georgiana de Moraes (com Maria Lúcia Proença), e os netos Júlia e Emílio de Moraes (filhos do fotógrafo Pedro de Moraes — ele era o único filho homem de Vinícius com a jornalista Tati de Moraes). Pelo número de casamentos, foram relativamente poucos filhos: cinco, vindos de três casamentos (Suzana, Georgiana, Pedro, Maria e Luciana).
“Meu pai (Pedro) dizia que meu avô (Vinicius) enxergava o mundo como quem escrevia um bilhete de amor. E que nunca usava ponto final”, definiu Júlia.
Com curadoria de Eucanaã Ferraz e Helena Severo, são mais de 300 itens — manuscritos, fotografias históricas, vídeos, livros raros, capas de discos, objetos, documentos pessoais, instrumentos musicais, esculturas e obras de arte de artistas amigos de Vinicius. A mostra já passou por São Paulo e Porto Alegre, mas chega ao Rio com projeto expográfico novo, acervo ampliado e peças exclusivas.
“Vinicius foi um dos construtores do Brasil moderno — aquele que se reconhece na poesia, na música, no afeto e na liberdade. Sua obra atravessa o século XX como um fio de beleza e humanidade, revelando um país que aprendeu a cantar o amor e a emoção. Propomos um percurso sensível por sua vida e criação, pela alegria e delicadeza com que soube transformar o cotidiano em arte”, analisa Severo.
A mostra está dividida em núcleos temáticos, propondo um passeio afetivo e estético pela vida e carreira de Vinicius — o poeta, diplomata, dramaturgo, jornalista, compositor e cantor conhecido por várias gerações. “Não se trata apenas de uma mostra linear, didática. A ambição é bem maior: reconstituir visualmente a largueza do espírito de Vinicius”, comenta Ferraz.
O clima era de nostalgia e uma certa dose de inveja do romantismo de Vinicius. “Ele dizia que o amor é eterno enquanto dura. O problema é que o bar fechava antes”, comentou um jornalista. E as observações foram sem pressa, mas com muita gente fazendo planos de voltar.
Curiosidades e destaques:
— O núcleo dedicado ao livro infantil “A Arca de Noé” (lançado em 1980, com ilustrações de Elifas Andreato), com reprodução da arca, animais e ambientação sonora com músicas e desenhos;
— Manuscritos, livros, poemas, vídeos e fotografias — muitos inéditos ou mostrados pela primeira vez ao público — como versões preliminares de canções como “Chega de Saudade” e “Garota de Ipanema”;
— Instrumentos que pertenceram ao “Poetinha” — um piano e um violão — mostrados pela primeira vez;
— A importância de suas parcerias musicais (como Tom Jobim, João Gilberto) e artísticas (como Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Oscar Niemeyer, Elifas Andreato);
— Um espaço totalmente dedicado ao espetáculo “Orfeu da Conceição” (1956) — com cartazes originais, croquis de figurinos, fotografias de ensaios e um desenho em alto-relevo de Niemeyer para o cenário. Um convidado dizia: “Imagina se o Niemeyer e o Vinicius resolvessem decorar um apartamento juntos. Não sobrava parede pra tanta curva”;
— A carreira diplomática de Vinicius no Itamaraty e sua polêmica exoneração durante a Ditadura Militar — que, convenhamos, combina muito com sua máquina de expressar liberdade.
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