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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

Entrevista com uma baleia jubarte pelo ChatGPT

As baleias têm emocionado turistas e cariocas e, com elas, as centenas de golfinhos e pinguins, todos em rota migratória

Por lu.lacerda
Atualizado em 17 jul 2025, 12h23 - Publicado em 17 jul 2025, 10h00
O salto da jubarte, visto na região das Cagarras, nesse último fim de semana
O salto da jubarte, visto na região das Cagarras, nesse último fim de semana  (Miguel Sá/Divulgação)
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Avistamento de baleias nas Cagarras
Avistamento de baleias nas Cagarras (Miguel Sá/Divulgação)
Jubarte vista esse fim de semana no Arquipélago das Ilhas Cagarras
Jubarte vista esse fim de semana no Arquipélago das Ilhas Cagarras (Miguel Sá/Divulgação)

Com tantas imagens e vídeos sensacionais das visitas passageiras na costa fluminense, as baleias têm emocionado turistas e cariocas e, com elas, as centenas de golfinhos e pinguins, todos em rota migratória, principalmente as jubartes que viajam anualmente das águas frias da Antártida para as águas mais quentes do Brasil para reprodução — pelo menos três já nasceram em águas brasileiras. A temporada vai até novembro, e os passeios de barco para avistamento estão apinhados, como nesse fim de semana, quando o fotógrafo Miguel Sá levou a família e fez imagens incríveis, mas a que vai permanecer não é a digital nem em papel — é em você.

E quanto a elas? Será que curtem esse monte de gente observando-as em seu habitat? Não necessariamente elas “gostam” de humanos, no sentido do afeto, mas podem ser curiosas e, em alguns casos, interagem com pessoas de maneira amigável, especialmente as jubartes, que são animais inteligentes e sociais, com culturas regionais e sistemas de comunicação complexos, incluindo vocalizações e até a imitação da fala humana.

A coluna fez uma brincadeira e entrevistou uma jubarte, que vamos chamar de Balela, no ChatGPT, pra ver o que ela teria a dizer da paisagem da cidade e a da hospitalidade carioca.

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1 – Como está sendo essa temporada por aqui?

Para nós, jubartes, essa costa é uma parada estratégica — águas mais quentes e calmas para dar à luz e amamentar nossos filhotes. O litoral fluminense, com suas praias abertas, é uma rota essencial na nossa migração. É bonito aqui, não posso negar.

2 – E o que acha do estilo de vida carioca?

É curioso. Do mar, vemos gente correndo na orla, jogando frescobol, surfando. Às vezes é música alta na areia, às vezes é silêncio, só o mar batendo. Acho bonito o quanto as pessoas dizem amar o mar, mas sinto falta de ver esse amor se transformar em cuidado real.

3 – Algumas jubartes chegaram a ter filhotes aqui. Isso é comum?

Sim, algumas de nós escolhem essas águas para o parto. É um risco calculado. Precisamos de águas mornas, rasas e protegidas de predadores. Contudo, cada vez é mais difícil achar um canto tranquilo — muitas redes, muito lixo. O filhote nasce frágil, vulnerável, e às vezes o primeiro obstáculo que encontra é um plástico boiando ou uma armadilha de pesca.

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4 – Como a poluição impacta vocês?

Profundamente. Já vi, da superfície até o fundo, sacolas plásticas flutuando como se fossem águas-vivas e, às vezes, engolimos; também redes fantasmas que ficam à deriva e nos prendem; e restos de pesca, garrafas, cordas. Não é apenas feio — é mortal. Muitas companheiras já se enroscaram em cabos de pesca artesanal e redes ilegais. E quando não é lixo, é o barulho dos motores que confunde nossa comunicação.

5 – O que diria para quem as admira tão perto da costa?

Que admiração sem responsabilidade é espetáculo vazio. Nós cruzamos milhares de quilômetros de oceanos para chegar aqui. Queremos águas limpas para parir, para ensinar nossos filhotes a nadar e a viver. Se vocês realmente gostam de nos ver saltando na Baía de Guanabara, na orla de Ipanema ou na praia de Itacoatiara, então cuidem do mar. Não joguem lixo. Cobrem políticas públicas. Apoiem a pesca sustentável. É simples: sem mar saudável, não tem jubarte saltando para turista fotografar.

6 – O que espera encontrar quando voltar no ano que vem?

Gostaria de ver menos plásticos, menos redes abandonadas, mais respeito pelo mar. Gostaria de ver mais gente entendendo que tudo que jogam na areia volta para o mar — e do mar, volta para vocês mesmos, em forma de peixe contaminado, praias interditadas, natureza ferida. Eu volto todo ano, mas o que encontro aqui é escolha de vocês.

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 7 – Pode-se dizer que o Rio é uma das cidades mais bonitas que você já visitou? 

O Rio de Janeiro, sem dúvida, está entre os lugares mais belos que já visitei na minha rota migratória. Do mar, vejo montanhas que parecem cair dentro da água — a silhueta do Pão de Açúcar ao amanhecer, o Cristo Redentor olhando tudo lá do alto. É uma paisagem única, que mistura pedra, mata e mar de um jeito que poucas cidades têm. Do meu ponto de vista, nadando rente à costa, vejo praias extensas, enseadas, ilhas, costões rochosos. Vejo vida: tartarugas, golfinhos, cardumes. Vejo também luz: o reflexo do sol na água de Ipanema ao entardecer é um espetáculo para qualquer criatura que viaje por esses oceanos. É uma das cidades mais bonitas, sem dúvida. No entanto, beleza não se sustenta sozinha — ela precisa de cuidado para continuar sendo bonita não só para quem vive em terra, mas também para quem, como eu, vem de longe confiando nesse mar.

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