Avatar do usuário logado
Usuário
OLÁ, Usuário
Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Imagem Blog

Lu Lacerda

Por Lu Lacerda Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Jornalista apaixonada pelo Rio

Crônica, por Eduardo Affonso: Labareda temporã

É possível voltar a se apaixonar com meio século de vida? Acreditar em amor eterno depois de amores eternos terem durado tão pouco?

Por Daniela
21 dez 2025, 07h00 •
labareda tempora
 (IA/Divulgação)
Continua após publicidade
  • É possível voltar a se apaixonar com meio século de vida? Acreditar em amor eterno depois de amores eternos terem durado tão pouco? Em amor sem traição depois de ter traído tanto?

    E por que querer de novo a ansiedade diante do telefone que não toca, da carta que não chega, da campainha que não soa? Agora, bem sei, seria diferente – não há mais cartas, quem chama é o porteiro, pelo interfone. Mas abriríamos quantas vezes a caixa de entrada dos e-mails, verificaríamos de quantos em quantos segundos se a mensagem foi visualizada?

    Drummond derrapou na curva dos 50; Borges, na dos 75; Niemeyer, perto dos 100. Eram gênios, e aos gênios são concedidos dons inacessíveis aos mortais. Como o de transformar sílaba e concreto em poesia – logo, também, resignação em esperança.

    Para a maioria de nós, entretanto, a paixão não sobrevive ao advento do juízo, dos cabelos brancos, do direito de estacionar nas melhores vagas e de furar a fila nos bancos.

    É que, assim como os ossos se tornam menos densos, o coração enrijece. Se enche de sangue mais vagarosamente. Não consegue acelerar nas subidas íngremes que a geografia do desejo nos reserva.

    Continua após a publicidade

    Já teremos, nessa idade, descoberto que há a paixão e a paixão.

    São, ambas, substantivos femininos, mas tão diferentes entre si quanto duas mulheres podem ser.

    Uma é “sentimento, entusiasmo, predileção ou amor tão intensos que se sobrepõem à lucidez e ofuscam a razão”. É a paixão de Riobaldo, de Anna Karenina, de Florentino Ariza.  A outra, “sofrimento, martírio”, como a paixão de Cristo.

    Continua após a publicidade

    Vivenciamos as duas, misturadas, impelidos pelos hormônios, pelo relógio biológico, pela urgência de “Sentir tudo de todas as maneiras, / Viver tudo de todos os lados, / Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo, / Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos / Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.”  Fernando Pessoa pode ter sido contido e prosaico nos seus parcos amores, mas Álvaro de Campos sabia o que era estar apaixonado.

    A paixão é mais fácil quando a carne é firme e, paradoxalmente, fraca. Quando os olhos enxergam melhor e veem menos. Quando a memória é perfeita e, ainda assim, se esquece tudo com maior facilidade.

    Aprendemos a distinguir a paixão adolescente – essa vocação para idealizar, essa aventura de estar à deriva – do amor maduro, cheio de compreensão pelos defeitos do outro, ancorado do porto seguro do companheirismo. Cada um viria a seu tempo, cada um teria sua ocasião – como o tempo de plantar, o tempo de colher.

    Continua após a publicidade

    Mas e quando os batimentos cardíacos aceleram e não há cloridrato de propafenona ou chá de casca de limão que deem jeito? Quando a ansiedade não baixa nem com o combo de maracujina, Netflix e diazepam?

    A única coisa a fazer é aparar a barba, cortar o cabelo e tocar um tango argentino.

    Eduardo
    (arquivo pessoal/Arquivo pessoal)

     

    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Domine o fato. Confie na fonte.
    15 marcas que você confia. Uma assinatura que vale por todas
    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

    Assinando Veja você recebe semanalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
    *Assinantes da cidade do RJ

    A partir de R$ 29,90/mês