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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

Crônica, por Eduardo Affonso: Se nada mais der certo…

Vou ser gerente de supermercado. Expertise não me falta, depois de tantos anos frequentando (a contragosto) os da Barra da Tijuca. Sei tudo do metiê

Por lu.lacerda
17 ago 2025, 07h00
coluna affonso
 (ChatGPT/Reprodução)
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Se nada mais der certo, vou ser gerente de supermercado. Expertise não me falta, depois de tantos anos frequentando (a contragosto) os da Barra da Tijuca. Sei tudo do metiê:

Regra número 1: Mude regularmente os produtos de lugar. Onde esta semana está o pão, semana que vem estará o detergente – em cujo lugar estarão as geleias ou os congelados, quiçá os xampus ou as gelatinas.

Não mexa na posição dos caixas (sempre na entrada), mas o resto deve ser um jogo de caxangá: tira, bota, deixa ficar; isqueiro e hortifrutigranjeiros fazendo zig zig zá.

Assim, quem quer comprar açúcar e vai aonde o açúcar sempre esteve (pelo menos até a última ida ao mercado) vai dar de cara com outro produto e, quem sabe, não leva um balde, uma picanha maturada, uma lâmpada, um amaciante de roupa?

Regra número 2: Mantenha sempre alguns postos de caixa fechados, de modo a garantir que haja filas. Filas são a alma do negócio. Um supermercado sem filas é como um unicórnio sem chifre, uma centopeia bípede, uma zebra de bolinha.

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Mesmo que as funcionárias estejam no local, cumprindo seu horário, deixe-as longe das vistas dos clientes – ou, no máximo, sentadas em seus postos, contando moedas, comentando a novela, mas com a plaquinha de “FECHADO” até que comece a haver reclamações nas filas contíguas. Murmúrios e muxoxos não servem: tem de ser reclamação mesmo, com invocação do Procon ou de um tio coronel da reserva.

Regra número 3: Garanta que em todos os carrinhos pelo menos uma das rodas tenha vontade própria.

Regra número 4: Designe os funcionários mais mal-humorados para a seção de queijos. Não basta ficar de costas para o cliente, fatiando muzzarela como se não houvesse amanhã – ou alguém impacientemente esperando para ser atendido. É preciso não ter a mínima paciência nem saber a diferença entre 250 g e um quilo e meio, na hora de pesar.

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Regra número 5: Seja criativo na forma de apresentar os preços. Alguns produtos serão vendidos a quilo, outros por unidade, e os mais caros, por 100 g.  Nada disso deverá, entretanto, estar claro na tabuleta. E não se esqueça de deixar alguns produtos sem preço algum – não porque sejam de graça, mas para que o cliente só descubra o valor quando for tarde demais.

Regra número 6: Nunca coloque uma ao lado da outra duas caixas que não se deem. É fundamental que elas sejam amicíssimas e tenham intermináveis assuntos para pôr em dia ao longo do expediente. Sim, entre uma encomenda de cosmético e uma fofoca, elas conseguem passar um ou dois produtos no leitor de código de barras.

Regra número 7: A reposição das prateleiras deve ser feita nos horários de pico, de preferência interditando o corredor e impedindo o acesso do cliente à gôndola.

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Regra número 8: Se houver terminais de autoatendimento, pelo menos 50% deles devem estar inoperantes, 25% não conseguirão ler a etiqueta e os restantes serão ocupados por quem não sabe a diferença entre batata baroa e mandioquinha, ou se alcachofra é fruta ou legume.

Regra número 9: O locutor das ofertas deverá ser contratado com base na sua capacidade de improvisação e domínio do enrolation para dizer o óbvio e o ululante sobre o que encontrar pela frente – seja uma pitaia, uma lasanha vegana ou um pregador de roupa. Saber imitar o Silvio Santos é critério de desempate.

Regra número 10: Nunca estar presente no momento (seja qual for o momento) em que alguém subir nas tamancas e quiser falar com o gerente – por causa das filas, da falta de preço, do mau humor reinante no setor de queijos ou da tagarelice das caixas.

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Se alguém souber de uma vaga, me informe que eu mando o CV. E o melhor é que – como se depreende da regra número 10 – dá pra fazer tudo em romiófice.

Eduardo
(arquivo pessoal/Arquivo pessoal)
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