Zeca Werneck: o empresário que virou mentor de autoconhecimento
Dizem que baiano não nasce, estreia, mas, na verdade, nenhum de nós nasce
Dizem que baiano não nasce, estreia, mas, na verdade, nenhum de nós nasce — todos estreiam. O planeta Terra é o maior palco que existe. Todos nós somos atores nessa peça: quando chegamos aqui, a cortina se abre. Recebemos um nome, um papel, uma história. E começamos a interpretar.
A atuação é tão natural que esquecemos quem está por trás da máscara. Desde cedo, aprendemos o jogo: um olhar de aprovação vale como aplauso; uma cara feia pesa como vaias. E, sem perceber, começamos a ajustar falas, esconder gestos, exagerar comportamentos.
Assim, o personagem nasce, cresce, ganha força. Passa a falar por nós, a reagir por nós, a decidir antes mesmo que possamos pensar. A hipnose é tão profunda que o ator esquece que está atuando.
Nesse esquecimento, a vida se reduz a um ciclo de repetições. Relacionamentos mudam, mas as cenas são as mesmas. Empregos mudam, mas os conflitos se repetem. É sempre o mesmo roteiro, só com cenários e figurinos diferentes.
Eu vivi isso na pele. Enquanto acreditava ser apenas o personagem, parecia que a vida andava para frente, mas, por dentro, eu rodava em círculos. Vieram as noites em claro — a insônia que parecia não ter cura. Veio o álcool: primeiro, como refúgio; depois, como prisão. Vieram a ansiedade, a angústia, o pânico.
E eu acreditava que era inevitável, mas não era. Descobri que a raiz de tudo estava na identificação com o personagem. Foi acreditar que eu era o personagem… que abriu as portas para os transtornos mentais. E foi ao enxergar que eu não era ele, que encontrei a cura.
Foi libertador, porque o contraste é radical. Quando vivemos como personagem, cada desafio parece ameaça, cada falha parece derrota, cada crítica parece um golpe. No entanto, quando o ator desperta… A mesma realidade se transforma. O desafio vira convite; a falha, aprendizado; a crítica, espelho. E nada se perde, porque tudo é vivido com consciência.
Eu também descobri que plenitude não é objetivo — ela não está em metas cumpridas, nem em vitórias acumuladas. Plenitude é consequência. Ela nasce quando estamos presentes, mesmo quando nada sai como planejado.
Hoje, meu personagem continua existindo: ele insiste em voltar, insiste em se passar por mim. Agora, porém, eu o reconheço; ele pode até entrar em cena, mas já não tem mais o comando. E só isso… já muda completamente a vida.
Porque não se trata de abandonar papéis — eu continuo com funções, responsabilidades, compromissos, mas agora atuo sabendo que é atuação. E essa consciência transforma tudo. O espetáculo continua, contudo eu não esqueço mais quem está por trás da atuação.
O personagem busca vencer, o ator busca ser. Essa diferença muda tudo. Foi dessa travessia que nasceu “O Jogo da Vida” — fruto direto da saída da prisão do personagem para a liberdade do ator.
E foi, nesse despertar, que compreendi o propósito mais profundo da vida: viver com liberdade. Porque a plenitude não está no papel que representamos, mas, sim, na consciência de sermos quem interpreta.
Zeca Werneck é carioca apaixonado, foi durante muitos anos empresário, sócio de casas noturnas como Baronneti, Redondo Lounge, Bar da Praia e dos restaurantes Pato com Laranja e Bentô. Essa vida ficou no passado. Hoje é escritor e mentor de autoconhecimento. Além da autobiografia Eu Não Vim do Macaco, é autor de Revolução Espiritual e O Jogo da Vida. Zeca conecta espiritualidade e tecnologia tentando traduzir a profundidade das sabedorias ancestrais.