Falando de Literatura na Firjan
Teve também exposição imersiva e edição do jornal "O Gráfico", produzido e impresso durante o seminário com os destaques do mercado
O melhor foi que ninguém trouxe o clichê “literatura-não-dá-dinheiro” ao auditório da Firjan, em Botafogo, no “III Seminário Internacional Gráfico”, para cerca de 500 pessoas. Para Itamar Vieira Jr., autor de “Torto Arado” e “Salvar o fogo”, por exemplo, dá — e sobra. Ele abriu o seminário falando sobre “O futuro da literatura e dos leitores”. Também estiveram em pauta inovações editoriais, no Brasil e no exterior, com nomes como Eliana Alves Cruz e a cantora-autora Zélia Duncan.
Um dos assuntos discutidos foi o paradoxo entre leitores e autores negros: embora negros e pardos representem 53% da população brasileira (IBGE), apenas 25% dos leitores se identificam assim. O descompasso mostra que representar não é apenas publicar — é incluir quem lê. Outro dado: a produção literária afro-brasileira cresce. Nos anos 1980, havia apenas uma editora especializada no tema; na última década, surgiram pelo menos cinco.
“O movimento ‘Vidas Negras Importam’ ajudou a impulsionar essa conscientização. Um exemplo concreto é o aumento de 90% nos pedidos de uso de textos da Conceição Evaristo em livros didáticos — um reconhecimento histórico que antes só era dado a autores como Machado de Assis (que nem sempre foi reconhecido como negro). Publicar populariza o pensamento de quem não tinha voz, e a indústria gráfica vem tornando isso mais democrático”, disse Vagner Amaro, ex-aluno de Design Gráfico da Firjan SENAI e hoje editor e fundador da Editora Malê, especializada em literatura afro-brasileira.
Também foi discutida a exportação de conteúdo editorial. Em 2024, editoras brasileiras movimentaram cerca de US$ 13 milhões (R$ 78 milhões) com venda de direitos autorais internacionais — quase 200% a mais do que no ano anterior. O dado mostra um interesse externo crescente por obras brasileiras.