Milhazes, recordista na Casa Roberto Marinho: “Engarrafou o Rebouças”
Na abertura para convidados, oficialmente eram 936 pessoas, mas parecia bem mais
O que mais se viu foram promessas de reencontro sob o mesmo teto da Casa Roberto Marinho, para rever “Pinturas Nômades”, de Beatriz Milhazes — como deve ser, com tempo e em detalhes. Na abertura para convidados, oficialmente eram 936 pessoas, mas parecia bem mais: a certa altura a rua parou, ninguém entrava ou saía, e alguns cariocas, com rara noção de ética, chegaram a organizar uma fila de estacionamento que não existia. “Foi nosso recorde de público aqui; até o Rebouças engarrafou”, dizia Lauro Cavalcanti, diretor da CRM.
Lá dentro era o oposto: o clima era leve, a artista, serena e atenciosa no beija-mão, comentou: “O ambiente de trabalho aqui é maravilhoso, a gente ficava se elogiando o tempo todo durante a montagem”.
A mostra revela um lado “urbanista” de Milhazes, com reconstituições de trabalhos em outros países: maquetes, painéis inéditos, tapeçarias e, claro, os quadros que todo mundo reconhece, exuberantes em cor e alegria.
Logo na entrada, a escultura Mariola (2010–2015) parece flutuar no ar, capturando o olhar do visitante. Em seguida, as janelas em arco ganham vinil translúcido no inédito projeto Corumbê, em vitrais. “Fui seduzida! O salão estava vazio e as janelas emolduravam o jardim de Burle Marx. Imediatamente me veio a imagem de um vitral envolvendo o espaço interno”, conta a artista.
No coração da exposição, intervenções como a fachada da Ópera de Viena, o metrô de Londres, painéis para o Long Museum, em Xangai, e para a Fundação Gulbenkian, em Lisboa, surgem em maquetes e estudos que quase fazem esquecer que são “reconstruções”.
Na sala de gravuras estão 11 peças que, segundo Beatriz, “se aproximam plasticamente dos murais e painéis maiores” — um exercício em escala reduzida que fala alto. Já na ala dedicada às pinturas da Bienal de Veneza, como O céu, as estrelas e o bailado (2023), a artista combina telas com sua própria mesa de tecidos e a tapeçaria inédita Dance in Yellow (2020), uma constelação visual de memórias culturais.
E, naquele vaivém sem fim da exposição-celebração, nada lembrava aberturas com garçons eventuais que se vê por aí: eles circulavam generosamente com tacinhas e comidinhas, sustentando o clima de festa.