Imagem Blog

Manoel Carlos

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do novelista Manoel Carlos

Por trás das grades

Na crônica de Manoel Carlos da semana, o desabafo real de uma mãe sobre a filha que está namorando um presidiário

Por Manoel Carlos
Atualizado em 8 jun 2018, 07h30 - Publicado em 8 jun 2018, 07h30
 (Léo Martins/Veja Rio)
Continua após publicidade

Uma amiga, a quem vou dar o nome de Isabel, está vivendo um drama familiar, pequeno ainda, mas que pode caminhar para um desfecho imprevisível.

— Juro que não há o mais tênue sinal de preconceito na minha objeção a esse namoro.

— Tenho certeza disso, Bel. Você tem a cabeça aberta. E o Fábio também.

Fábio é o marido da Bel. Ela torceu o nariz sutilmente:

— Obrigada pela “cabeça aberta”. Faço um grande esforço para manter acesa essa tênue chama de juventude que me restou. Quanto ao Fábio, você sabe, homem é homem, morre mas não perde a pose. E por isso mesmo não se conforma com o que está acontecendo. Balançou e perdeu o rumo. Uma hora quer comprar uma arma e matar todo mundo. Outra hora chora, esmurra as paredes, diz que vai saltar da Ponte Rio-Niterói…

— Posso imaginar…

Continua após a publicidade

Ficamos pensativos por um pequeno tempo… Ela percebeu que eu não tinha o que dizer. Afinal, trata-se de um assunto delicado.

Vocês, leitores, devem estar querendo saber a razão dessa história. Eu conto. O problema que vem amargurando meus amigos tem nome: Flávia, filha única do casal, que vai completar 18 anos.

— E…?

— Flavinha se apaixonou por um rapaz que está preso, Kiko…

Continua após a publicidade

— Kiko?

— Esse rapaz que participou de um assalto no Museu de Arte alguns anos atrás.

— Já sei, já sei — e lembrei do caso —, saiu até no Jornal Nacional.

— Esse mesmo — confirmou ela. — Foi condenado, está preso.

Continua após a publicidade

— Mas como é que ela se apaixonou por um presidiário?

— Ela está fazendo estágio na redação de um jornal. Quer porque quer ser jornalista. Pois bem: lá no jornal pediram uma pesquisa sobre jovens encarcerados e ela foi escolhida para tocar esse trabalho.

— E aí, claro, a proximidade…

— Insegura como ela é, o rapaz é bonitão, fama de Robin Hood, deve ter uma boa conversa, foi sopa no mel. Estou aflita, ela quer levar o rapaz lá em casa… e não sei o que pode acontecer…

Continua após a publicidade

— Mas ele não está condenado, preso, atrás das grades?

— Mas vai sair. Foi beneficiado por uma lei — não sei o nome.

— Progressão de pena?

— Não sei se é isso, mas pode ser.

Continua após a publicidade

— Caramba, Bel, que situação. Se eu puder ajudar em alguma coisa…

— Talvez possa. Você escreve para a TV, faz novela… inventa aquelas histórias mirabolantes… Quem sabe pode vir aqui em casa…

Dei mil razões para não ir, mas ela foi irredutível, encantadoramente irredutível, e eu fiquei de pensar. Voltou na semana seguinte.

— Preciso mesmo da sua ajuda. O aniversário dela é daqui a dez dias. Dezoito anos! Vai receber alguns amigos lá em casa e quer que o Kiko jante entre nós.

E vi quando os olhos dela lacrimejaram.

Não sou de resistir a lágrimas de mulher. Resolvi que vou ao jantar e depois conto a vocês o que aconteceu. Como sou novelista de TV, faço esta crônica em dois capítulos.

Aguardem o próximo.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

a partir de 39,96/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.