Afeto nas paredes, jardim que abraça e o tempo no ritmo certo
Erika Januza, abre o seu lar com cheiro de passado, luz de recomeço e objetos que narram sua trajetória com afeto e verdade

Tem casa que é bonita. E tem casa que, além disso, pulsa. A nova morada de Erika Januza apresentadora do Saia Justa no GNT faz parte do segundo grupo, daqueles lares que acolhem, contam histórias e revelam a alma de quem vive ali, mesmo no silêncio. Depois de anos de estrada, entre personagens intensas, viagens, conquistas e batalhas invisíveis, a atriz e apresentadora finalmente abriu as portas do seu próprio refúgio. E fez questão de levar com ela tudo o que realmente importa: as memórias, as raízes e as alegrias da vida.
Nada ali foi escolhido por impulso. Nem mesmo o colchão que hoje descansa num cantinho da casa e que, para muitos, poderia parecer descartável. Mas não para Erika. Foi o primeiro colchão onde dormiu ao chegar no Rio, emprestado por um amigo, depois presenteado. Já esteve em outras casas, já foi a única peça de mobília que possuía. Hoje, mesmo cercada de conforto e design, ela faz questão de tê-lo por perto. “Ele me lembra tudo o que vivi para chegar até aqui”, diz.
Essa memória afetiva se espalha por todos os cômodos. Peças que vieram de viagens, como um colar africano da África do Sul ou um livro do Louvre. Cabeças de cerâmica da artesã nordestina Cida Lima. Ímãs de geladeira de cada canto por onde passou. E uma colcha de retalhos feita pela avó, à mão, ponto por ponto, com os tecidos das roupas de infância. São objetos que transformam a casa num retrato vivo de sua história, não apenas decoram, mas emocionam.
A casa de Erika é também um tributo às suas origens. A pedra que reveste a piscina veio de Diamantina. Outra, do chão da casa, veio de Contagem. Minas está presente nas cores, nas texturas, nos cheiros e até na luz que entra pelas janelas. “Quis trazer muito da minha terra para cá”, conta ela. O jardim, cheio de plantas em cada cômodo, inclusive no banheiro resgata as lembranças da infância, quando cuidava das plantas com a avó.
Para Erika, uma casa com alma tem movimento. Não precisa estar sempre perfeita, mas precisa ser real. Pode ter o chinelo largado num canto, a escova de cabelo esquecida sobre a pia. “Queria uma casa com aquele charme de Casa Cor, que eu adoro, mas que também tivesse bagunça de vida. Que tivesse a minha cara”.
Hoje, ela toma água na taça bonita mesmo estando sozinha. Arruma a mesa posta só para ela. “As coisas especiais têm que ser para a gente também”, diz, sorrindo. E assim, dia após dia, vai vivendo em um lar que tem tudo o que sempre sonhou não só porque é lindo, mas porque tem história, suor e verdade.
O jardim com a piscina de pedra mineira é seu canto favorito. É ali que ela para, respira e agradece.

Manu: Você trouxe objetos de casas anteriores? Pode contar a história de algum que tenha um valor especial?
Erika: Sim, trouxe objetos de casas anteriores, inclusive uma coisa que guardo e tenho muito carinho, é o primeiro colchão onde dormi no Rio de Janeiro. Eu dormia de favor na casa de um amigo. Depois, passei a pagar um pouco pelo quarto onde dormia e o colchão ficava na casa dele. Ele me deu esse colchão porque o colchão estava ruim e ele iria jogar fora, e eu guardei. E esse colchão foi o meu colchão numa outra casa que tive, onde era a única coisa que tinha na casa, inclusive. Desde então, eu venho guardando esse colchão como uma memória afetiva de um tempo difícil da minha vida. E mesmo hoje, na minha casa, com tudo que sonhei, com colchões incríveis, com móveis incríveis, eu guardo esse colchão. Ele está lá, é algo que me lembra muito de tudo que vivi para chegar até aqui. Esse tem um valor muito especial.
Manu: Como você enxerga a presença de memórias afetivas na decoração?
Erika: Cada lugar a que tenho ido, viagens que faço, a gente costuma trazer coisas de viagem que depois não sabe muito bem o que fazer com elas. Fiz muito isso, de trazer coisas que depois ficaram meio perdidas pela casa. Depois que conquistei a minha casa, pensei em todos os lugares que eu for, seja a trabalho, seja passeando, sempre vou levar alguma coisa que tenha significado para deixar lá e eu sempre olhar para aquele objeto e me lembrar de uma viagem que fiz e poder contar que aquele objeto veio de um lugar. E eu tenho feito isso, desde peças do Nordeste, como Cabeça da Cida Lima, que eu admirava muito, é uma artesã nordestina. Outro objeto também, que se chama baleia, são os cachorros de um artesão nordestino. Um colar africano, agora que estive na África do Sul, um livro de Paris, coisa do Louvre. Cada lugar que passei e tive oportunidade de viajar, seja no Brasil ou fora dele, eu tenho trazido algo que seja bem significativo para olhar e lembrar da oportunidade daquela viagem. E uma coisa que coleciono, que a minha coleção vai comigo, é ímã de geladeira. Qualquer lugar, cidade que eu vá, eu tenho um ímã de geladeira daquele lugar.
Manu: Tem alguma peça herdada, de família, que ganhou um novo lugar na casa?
Erika: Tenho uma colcha de retalho que a minha avó fez. Fui criada pela minha avó e ela fazia colcha de retalho. A gente fazia de fuxico e a minha avó pegava retalho, porque a gente tinha muita coisa, mandava fazer roupa na costureira, uma coisa que hoje em dia não se usa mais. A costureira mandava retalho para minha avó e eu lembro que eu cortava e ela ia costurando na mão. Ela faleceu no ano 2000, olha quanto tempo faz isso. Tenho muito apreço por essa colcha de retalho feita pela minha avó.
Manu: Qual o papel desses itens com história na construção do seu lar?
Erika: Acho que quando você olha para a sua casa e cada coisinha que você olha tem um significado, é muito bom. Na minha casa, por exemplo, tem muitas coisas que eu trouxe de Minas. A pedra da minha piscina veio de Diamantina, outra pedra veio de Contagem. Muitas coisas que estão na minha casa hoje vieram da minha terra. Primeiro, eu tenho um quadro em casa com a foto do cartaz de ‘Subúrbia’, que foi o meu primeiro trabalho. Então, tenho uma casa que, quando alguém for visitar, vai olhar para tudo que está ali e a maioria das coisas tem muito significado, desde a construção mais bruta até objetos.
Manu: Você acredita que uma casa bonita também precisa ter alma? O que dá alma à sua?
Erika: Sim, eu acho. Recentemente fui a uma casa que era linda, mas quando eu olhei não tinha um pente fora do lugar. Sabe quando você larga o pente em qualquer lugar, escova o cabelo ou tem uma roupa ali, ou tem um chinelo num canto? É uma casa viva, né? Uma casa com alma, porque não é só sobre ter uma foto na parede que diz que aquela casa é daquela pessoa, mas acho que tem cheiro, eu acho que tem interferência da pessoa naquele lugar. Por mais que a casa esteja arrumada, você entende que aquilo ali é algo que a pessoa colocou. É algo que tem significado, é algo que está vivo. Que não é uma casa somente que parece que veio da Casa Cor, que veio de uma amostra de decoração que amo, por sinal. Então, eu queria uma casa que tivesse uma interferenciazinha de Casa Cor, que eu adoro. Acho chiquérrimo e adoro visitar, ao mesmo tempo que tivesse a minha cara, que quem entrasse, tipo, ‘ah, a Erika deixou isso aqui’, porque faz parte, né? A vida da gente é assim. Não existem essas cozinhas que só têm aqueles pratos, aquelas xícaras, sempre limpas, impecáveis, né? Quisera a gente, né? Ter o copo que a gente usa no dia a dia e o copo que a gente guarda para a visita. Coloquei na minha cabeça que eu não vou guardar copo só para visita, que vou usar, porque acho que é isso, as coisas especiais têm que ser para a gente. Estou tentando fazer isso. Estou tentando tomar água na taça sozinha. Quero fazer mesa posta para mim sozinha e quando receber visita. Então, muitas das coisas que aprendi quero colocar em prática nessa casa.
Manu: Qual cantinho da casa virou seu favorito, aquele que te dá prazer só de olhar?
Erika: O meu cantinho da casa favorito é a minha piscina, porque gosto muito de planta. Eu me lembro de que, quando eu estava buscando uma casa, o que eu menos encontrava eram casas com jardim. As casas hoje estão todas concretadas. Você olha, tem porcelanato por todo lado, concreto por todo lado. E eu sempre gostei muito de verde. Eu me lembro de mim e minha avó ficarmos molhando as plantas. A minha avó me cobrava ‘já molhou as plantas? ’. Gosto de plantas em casa, no quarto, no banheiro. Por mim, eu tenho uma planta em cada cômodo, inclusive, a casa onde vivo hoje é assim, cada cômodo tem uma planta. E elas não morrem, elas vivem, eu cuido delas. Quando coloquei o pé na minha casa pela primeira vez falei ‘é essa’. E eu lembro do corretor falando ‘calma, você nem entrou ainda’, mas no portão falei isso porque ela tinha jardim. E as casas hoje em dia quase não têm jardim. Então, o jardim que tenho hoje, combinando com essa piscina, que é uma pedra que vem de Minas Gerais, vem lá de Diamantina, para mim é um lugar muito energético. E eu gosto muito de iluminação e luz. Então, é um jardim com muita planta que tem essa pedra, que tem uma energia maravilhosa que veio de Minas e muita luz. Então, é um lugar da casa que gosto de ficar lá olhando e admirando. Fico assim: ‘caramba, essa casa é minha’. Muitas vezes, eu me pego pensando: ‘Essa casa é minha, sabe? ’ Porque tem muito suor para essa casa ficar pronta. E eu sei cada esforço, cada tijolinho, cada parceiro que acreditou em me ajudar. E foi uma casa de esforço. Trabalhei para conquistar, sabe? Fora os parceiros que me ajudaram, eu trabalhei muitos anos para conquistar essa casa. Então, eu dou muito valor a essa conquista.
Manu: A casa nova mudou sua rotina ou a forma como você vive os dias?
Erika: Mudou minha rotina total, porque todo tempo livre que tenho quero ir para a obra ver como está. Tem que ficar estimulando para a coisa andar, cobrando o pedreiro para não faltar. Só quem já passou por obras sabe que a coisa não é tão fluida como a gente gostaria porque tem interferência humana e, um dia, uma pessoa pode, outro dia não pode, você está esperando que a pessoa vá, a pessoa não vai. E aí você acha que está dando tudo certo e quebra uma coisa, precisa quebrar outra, arrumar outra. Então, demanda muito do meu tempo, mas cada vez mais, eu olho e posso colocar uma coisa decorativa no lugar e eu vejo que está chegando a hora da satisfação imensa. Dormi lá esses dias pela primeira vez e foi muito maravilhoso. Fui dormir 3 horas da manhã porque eu ficava colocando uma coisinha aqui, eu ficava olhando para o jardim e fico admirando tudo e pensando, ‘Meu Deus, como consegui construir isso? ’ Como eu consegui? ’ ‘Eu sou dona dessa casa’. Fico muito admirada e orgulhosa de mim por ter condições de lutar, trabalhar e ter essa casa.

