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Mundo cão

Por Luciana Neiva, jornalista e cachorreira apaixonada Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Histórias, sugestões e pensatas sobre o melhor amigo do homem (e da mulher)

E chega o dia do adeus (ou como enfrentar o luto por seu cão)

Cachorros vivem pouco tempo, mas a existência deles cria laços profundos em nós. É preciso se preparar para a chegada da despedida.

Por Luciana Neiva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 out 2025, 10h33 - Publicado em 19 out 2025, 21h25
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 (Acervo pessoal/Divulgação)
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Muita gente ainda torce o nariz quando ouve alguém dizer que é mãe ou pai do cachorro da casa. Mas vamos analisar: você adota um cachorro, ou seja, um ser vivo que é apenas de outra espécie, mas é uma vida; você dá comida, dá banho, ensina algumas coisas, passeia, faz carinho, beija… Cachorros são, sim, nossos filhos do coração. E aí entra a história que eu quero contar sobre a dor de ver um filho morrer. Pra mim, foi um mês de uma despedida sofrida da minha filha peluda, a Neném.

Primeiro, o diagnóstico inesperado: tumor inoperável. Depois, as dúvidas sobre o tratamento. E o pior: vê-la emagrecer, ir perdendo a vontade de brincar, ter dificuldade para respirar, deixar de comer, deixar de latir… Encontrar médicos empáticos que estiveram comigo diariamente orientando, torcendo, oferecendo ajuda foi fundamental para encontrar serenidade e, conformada, calculando os prós e os contras, decidir viver com ela os últimos melhores dias de sua vida. Descobri os cuidados paliativos, rezei e pude falar para a Neném tudo o que eu queria. Prometi a ela que ficaria a seu lado até o final e assim foi. Neném morreu em casa nos meus braços.

Cachorro marrom deitado na cama com uma mão segurando sua pata
Neném tinha oitos anos e morreu por causa de um tumor no coração (Luciana Neiva/Divulgação)

No decorrer do processo, ouvi opinões mais práticas que, ao menor obstáculo, já avaliavam que a eutanásia era a solução. Não descartei essa opção, pois ninguém merece agonizar – penso o mesmo em relação aos humanos -, mas como decretar a morte de uma cachorrinha que ainda abana o rabo quando te vê? Impossível. Fomos levando, com homeopatia, remedinho pra dormir e muito amor. Felizmente sou cercada por pessoas sensíveis, muitas cachorreiras como eu, que me apoiaram, entenderam meu recolhimento e validaram minha tristeza. Nem todo mundo tem essa sorte.

O luto por um bicho de estimação, que eu acho que é filho mesmo, não é levado a sério por muita gente. Segundo a psicóloga Déria de Oliveira, que entrevistou várias pessoas para sua tese de doutorado, os entrevistados relataram mentir para o chefe, colegas de trabalho, de faculdade e pessoas ao redor para faltar aos compromissos rotineiros, pois a sociedade não tolera essa dor e a entende como superestimada. A necessidade do tutor de estar ao lado de seu peludo nos cuidados, em caso de doença terminal, não é compreendida. Mas é uma vida que está ali em sofrimento! Como negar a ela atenção e carinho neste momento?

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Foi esse pensamento que me fez parar de sofrer por mim. Só importava o bem-estar da Neném. Descobri que existem doulas de fim de vida para gatos e cachorros, que existe uma associação de cirurgia espiritual, que existem pessoas que fazem comunicação intuitiva com os bichos para saberem se eles já querem ir, se estão precisando de algo… É tudo válido, mas como na vida, acho sempre melhor não cair em exageros. A despedida ideal de seu cachorro tão amado, a meu ver, deve ser vivida passo a passo: compreensão, aceitação, desapego.

Pessoas em pé na grama em um cemitério vertical
Cemitério de animais em Ilha de Guaratiba garante respeito e acolhimento na cerimônia de despedida (Luciana Neiva/Divulgação)

Escolhi não cremar. Queria ter em mente o lugar onde ela estava agora – ao menos, seu corpinho peludo macio que eu acariciava o dia todo. Foi meu jeito de lidar com sua ausência diária em casa. Pesquisei e achei um cemitério na Ilha de Guaratiba, um pequeno sítio com muitas árvores, flores e passarinhos. A cerimônia de adeus foi emotiva, meio triste, meio alegre, porque ao entrar no Pets Garden, um mini cão veio a meu encontro, o funcionário me recebeu com muito carinho e disse que Neném já estava preparada para eu me despedir e completou: “Fique o tempo que precisar com ela”. Matei um pouco as saudades,dei vários beijinhos e a acomodei melhor na manta que a cobria. Fui então passear pelo jardim onde ficam os túmulos dispostos na vertical. Nada ali parecia triste, ao contrário, os dizeres das placas instaladas em forma de lápide só falavam de alegria, amor, companheirismo, brincadeiras, lambeijos, bagunça. Pra mim foi mais uma prova de como esses seres maravilhosos tornam a vida de quem os têm por perto uma experiência muito melhor. E, nas lembranças, só coisa boa. Neném presente!

 

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