A escola entre a herança iluminista e os dilemas do século 21
As habilidades insubstituíveis e urgentes são a de pensar criticamente, fazer conexões, criar, escutar, interpretar, colaborar.

Entre a herança iluminista e os dilemas do século 21, será necessário criar uma nova pedagogia do pensamento. Nossa escola nasceu do projeto moderno de organizar o saber, transmiti-lo, formar cidadãos racionais, capazes de compreender o mundo por meio da ciência e da lógica – uma herança iluminista que formou gerações e criou um currículo enciclopedista baseado na erudição, no acumulação de conhecimento e no domínio das disciplinas. Fez sentido durante muito tempo. Mas no século 21, não é suficiente.
A tecnologia digital, a inteligência artificial, a crise climática, as novas formas de trabalho e as transformações nas relações humanas redesenharam profundamente a experiência de estar no mundo. O aluno que chega hoje à escola vive uma outra temporalidade. É conectado e exposto a uma avalanche de dados e estímulos e nem tem como lidar com toda a complexidade que isso exige. Nesse cenário, a escola precisa re-encantar o pensamento, dar um novo sentido ao saber.
Estocar dados na memória perdeu relevância diante da possibilidade de acesso instantâneo. As habilidades insubstituíveis e urgentes são a de pensar criticamente, fazer conexões, criar, escutar, interpretar, colaborar. É uma pedagogia do pensamento vivo, que valoriza o espanto, a dúvida, a escuta e o diálogo. Uma pedagogia que ensine a construir sentido em um mundo em constante mutação.
A escola precisa continuar a ensinar a ler, escrever e operar matematicamente. Não por tradição ou prestígio, mas porque são as ferramentas estruturantes da linguagem e da lógica — eixos fundamentais para pensar o mundo. Mas é preciso mais: aprender a formular perguntas, a buscar sentidos, a conviver com a incerteza e com a diversidade de olhares.
Re-encantar o pensamento é re-encantar a escola, redescobrindo sua potência de encontro, encontro entre gerações, entre saberes, entre perguntas. Encontro com o outro, com os grupos. A escola é um espaço de conversas significativas, de partilhas, de troca. Um espaço em que se aprende a perguntar. Por que as folhas caem? Por que há cobras aparecendo nas cidades? Existe pensamento sem linguagem? Questões que atravessam disciplinas, provocam o pensamento e despertam o desejo de saber.
É preciso também redescobrir a dimensão ética e coletiva do aprender. O pensamento não é solitário. Ele se fortalece na troca, no conflito construtivo, no exercício de compreender o ponto de vista do outro. Formar sujeitos éticos é formar sujeitos capazes de viver juntos — e isso começa na escola, nas conversas, na valorização da palavra.
Acreditamos na razão, na ciência, na capacidade humana de compreender e transformar o mundo. A escola reafirma isso e se atualiza diante das mudanças atuais que exigem um pensamento fluido, plástico, afetivo — sem perda da precisão.
Re-encantar a escola é reaproxima-la da vida, em contatos com os problemas reais do mundo. É tornar a aprendizagem uma aventura intelectual e sensível, em que o conhecimento nasce do desejo, do espanto, da convivência e da escuta. É ensinar a pensar com o outro.
A escola é o lugar em que o pensamento está sempre em construção. Um espaço onde não se vai apenas para ouvir, decorar ou repetir, mas para criar sentidos. Um espaço onde se aprende a pensar junto e, assim, a reinventar o mundo.