A ajuda vem de mãos miúdas
Clichê falar que a esperança vem das crianças. Mas como não se render se, na mesma semana, dois pequenos dão uma lição: pra ajudar, basta estar disposto
Duas histórias emocionaram muita gente lá no Rio de Boas Notícias esta semana. Em uma delas, Enzo, 11 anos, decidiu fazer e vender pavês, sua sobremesa favorita, para arrecadar dinheiro e montar cestas básicas. Em outra, Lua, 12 anos, teve a ideia de confeccionar mil máscaras e trocá-las por um quilo de alimento para ajudar moradores da comunidade onde vive.
O que mais me marcou nestas duas histórias, além da solidariedade das crianças, foi a capacidade que mostraram de colaborar com o outro mesmo tendo recursos escassos.
Enzo preparou o primeiro pavê com itens que havia na despensa de casa. Vendida a primeira leva, separou uma parte do dinheiro para comprar mais ingredientes e ampliar a produção. E foi assim que chegou ao centésimo doce vendido no condomínio onde mora, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio.
“Eu vendo cada um por cinco reais. Estou animado porque até agora consegui arrecadar R0 para fazer as cestas básicas”, contou o menino, que se surpreendeu por conseguir clientes até no prédio vizinho.
Lua é uma inspiração que se renova a cada dia. Foi ela quem, no ano passado, mobilizou a cidade para arrecadar livros e criar uma biblioteca na comunidade do Tabajaras, na Zona Sul do Rio, onde vive (leia esta história).
Logo que o isolamento social entrou em vigor no Rio, Lua, preocupada com os moradores do Tabajaras que ficariam sem renda, gravou um vídeo pedindo a doação de alimentos. Conseguiu mais de meia tonelada de mantimentos. Obteve também R$400 em contribuição.
E foi aí que a menina teve uma ideia para multiplicar este dinheiro: em vez de comprar alimentos, compraria tecido, linha e elástico para confeccionar máscaras e trocar cada uma delas por um quilo de arroz, feijão ou óleo. Arrecadaria, no mínimo, uma tonelada de mantimentos, o que não conseguiria comprar com os R$400.
De quebra, com a fabricação das máscaras ainda vai proteger muita gente da contaminação pelo novo coronavírus nas ruas da cidade.
Tá certo, vai dar o maior trabalho. Mas a menina está disposta a fazer a sua parte: “Neste momento a gente não pode ficar sentado em casa sem fazer nada”, disse.
E aí, o que você tem realizado para tornar a vida no Rio um pouquinho melhor durante esta pandemia? Confesso, fiquei pensativa por alguns minutos.
Patrícia Pereira é jornalista e há dois anos criou o Rio de Boas Notícias (www.riodeboasnoticias.com.br). Lá publica diariamente histórias positivas que ocorrem em solo carioca.