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Rafael Mattoso

Por Rafael Mattoso, historiador Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Curiosidades sobre o subúrbio carioca

Os subúrbios nossos de cada dia

Conhecer a história, a geografia e a cultura suburbana é a melhor forma de combater preconceitos

Por Rafael Mattoso Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 set 2021, 03h03 - Publicado em 27 ago 2021, 20h10
foto da Velha Guarda da Portela, em 1970, em frente à casa de Iara, no subúrbio de Oswaldo Cruz. São identificados, em pé, da esquerda para direita, Paulinho da Viola, Aniceto, Alberto Lonato, Chico Santana; atrás dele, encoberto, Antônio Caetano, e também Armando Santos, Vicentina, o sobrinho dela e Manacéa. Agachados estão Casquinha, o neto de Iara, a própria Iara, Monarco, Alcides Lopes, Cláudio e Miginha
Foto da Velha Guarda da Portela, em 1970 (José Ramos Tinhorão/Internet)
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Faltando poucos dias para o término de agosto me dei conta que só restam quatro meses para chegarmos ao final deste ano. Poucos dias para superar mais um longo e doloroso ano de pandemia que, particularmente pela segunda vez consecutiva, não vejo a hora de deixar pra trás.

Desde o início das primeiras medidas de isolamento social, em março de 2020, tenho reparado que a nossa percepção em relação a passagem do tempo tem sido afetada. Atualmente, com certa frequência, tenho tido dificuldade de identificar qual foi a última vez que fiz algo, que vi alguém ou visitei um determinado lugar.

Na última semana, enquanto pensava com expectativa na chegada de setembro, aguardando a minha segunda dose de vacina, assim como, a proximidade do aniversário do meu filho, também refletia sobre algumas datas representativas de agosto. Especificamente as datas do Dia Nacional do Patrimônio Histórico (17), Dia do Historiador (19) e do Dia do Folclore (22), comemorações que chamam nossa atenção sobre como registramos e transmitimos as vivências contemporâneas em relação as ações dos que viveram antes de nós.

Uma rápida pesquisa etimológica ajuda a constatar que a origem da palavra folclore nos remete a Inglaterra de meados do século XIX e corresponde a junção de “folk”, popular, com “lore”, tradição ou cultura, logo produzindo a interpretação de folclore como “saberes tradicionais de um povo”. Entendimento que faz todo sentido ao olharmos para os nossos subúrbios, principalmente após conversar com meu amigo historiador e militante suburbano, Vitor Almeida, criador do personagem “Padrinho Suburbano”.

Coincidentemente, neste mesmo mês completaram nove anos de humor, críticas e muito sucesso nas redes sociais, pois foi a partir de 2012 que a página “Suburbano da Depressão” começou a ganhar milhares de seguidores no Facebook. Vale destacar que Vitor também lançou, em 2016, o livro “Suburbano da Depressão: causos, contos e crônicas”, que procura contestar certos estereótipos depreciativos em relação aos moradores dos subúrbios, baixadas favelas e periferias.

Aproveitei a data e a camaradagem para lhe fazer algumas perguntas:

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– Você acha que encarar as adversidades da vida com humor é uma estratégia suburbana, por que?

“Sem dúvidas. O humor é uma tática de subversão da realidade. Talvez possamos dizer que é uma forma de protesto e oposição à romantização da pobreza por parte de uns e outros que se valem das precariedades históricas dos subúrbios do Rio. Fazemos nossas reivindicações e protestos tocando nas feridas crônicas e mal cicatrizadas dessa cidade usando também o humor.”

– Nessa trajetória de nove anos nas redes o Suburbano da Depressão teve grande visibilidade e cresceu muito em seguidores, na sua opinião a que se deve esse sucesso?

“Vejo que a estratégia do deboche, a falta da informalidade no trato de assuntos sérios e elevar coisas simples do cotidiano ao patamar de representatividade são os elementos de sustentação desse ‘sucesso’. Ao longo desses anos foi colocado ao público e ampliado pela ascensão das mídias digitais e redes sociais o questionamento sobre o porquê de uns terem mais direitos do que outros dentro da cidade e da Região Metropolitana. Aliás, é impossível falar de subúrbios da capital sem falarmos da Baixada Fluminense e municípios como São Gonçalo, Itaboraí, Niterói e arredores. Estamos interligados e muitas das demandas das áreas marginalizadas desses locais compartilham da realidade dos subúrbios, favelas e periferias da capital. Eis aí um elemento essencial”

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– Ao longo desse tempo o que mais mudou e o que se mantém no olhar do historiador Vitor Almeida sobre os subúrbios cariocas?

“Mudou bastante as formas de pensar estratégias e táticas de construção social e política, principalmente. Antes, lá no começo, era muito cru no que diz respeito ao debate e ampliar alguns olhares e perceber que já existiam lutas antes da página. Hoje, não. Hoje, como historiador social, não posso deixar de fazer constantes autocríticas a respeito de tudo o que já li e vivi graças ao “Padrinho”. Foram críticas positivas e negativas, exposições pro bem e pro mal, ameaças e agradecimentos… Enfim, lidar com o público, ainda mais com um público de milhões de pessoas que circulam nos perfis do Facebook, Instagram e Twitter e você nunca nem viu pessoalmente, é extremamente transformador a medida que sua responsabilidade como comunicador, relator do cotidiano e criador de conteúdo só aumenta como referencial.”

Desenho do personagem Padrinho do Suburbano da Depressão, homem sorrindo de óculos escuro
Charge: Padrinho do Suburbano da Depressão (William Rabello/Internet)

Seguindo as dicas do Vitor também acreditamos que conhecer a história, a geografia e a cultura suburbana seja o melhor caminho para combatermos os preconceitos que infelizmente ainda existem sobre os suburbanos.

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E para procurar conhecer melhor os subúrbios nossos de cada dia organizamos um curso gratuito que acreditamos ser muito interessante. Neste sábado, dia 28 de agosto, terá início uma formação que visa desenvolver o Turismo de base comunitária na Grande Madureira.

Intitulado de “Histórias de Madureira: aldeias, quilombos e encruzilhadas culturais”, o curso visa valorizar a história e os modos de vida suburbano, fortalecendo assim a cultura local e possibilitando a geração de benefícios econômicos, tal como, a conservação dos patrimônios materiais e imateriais da região.

As aulas são virtuais e ocorrem todas as quintas-feiras, das 19:30 às 21h, e sábados, das 10 às 11:30h, pela plataforma GoogleMeet.

Com organização da Rede Madureira Criativa, em parceria com Karolynne e Vilson, do Guiadas Urbanas, e Rafael Mattoso, do Diálogos Suburbanos, os encontros pretendem apresentar um panorama histórico, geográfico, cultural e turístico de Madureira ao longo de mais de quatro séculos e meio de história.

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As aulas também contam com a participação de renomados pesquisadores, autores e ilustres moradores da região. Nomes como Luiz Antônio Simas, Gabriel Cid, Elias José Alfredo, Victor Andrade Melo, Adelaide Chao, Cristina da Conceição Silva, Marcelo Durval, Rogério Rodrigues, Luiz, Espirito Santo, Margareth dos Anjos Santos, Valéria Guimarães, Vítor Henrique Guimarães, entre outros mestres.

O temas também serão diversos e abordaram desde as potencialidades históricas e culturais de Madureira, memórias e patrimônios, quilombos e heranças africanas, o turismo e as relações étnico-raciais, esportes e lazer, musicalidade e territorialidade, Feira das Yabas: gastronomia, música e resistência, história das ruas e lugares de Madureira, um Mercadão de encontros e comércio, além do Jongo e o Samba de Madureira.

O link para o curso é no Turismo de base comunitária é : https://forms.gle/pxXsY5wA6BwyNJJp9

Cartaz do Curso de História de Madureira
(Rede Madureira Criativa/Divulgação)
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Vale lembrar que neste sábado também teremos a ocupação da Praça de Rocha Miranda, com uma série de atividades, a partir das 13h, promovidas pelo movimento em prol do Centro Cultural no Cine Guaraci.

 

 

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