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Rafael Mattoso

Por Rafael Mattoso, historiador Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Curiosidades sobre o subúrbio carioca
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O Viradão Cultural Suburbano congrega Baixadas, Favelas e Periferias

Uma grande programação virtual, gratuita e coletiva celebra os subúrbios e suas belas histórias e manifestações

Por Rafael Mattoso Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 nov 2020, 21h23 - Publicado em 20 nov 2020, 19h44
Segundo Viradão Cultural Suburbano: Baixadas, Favelas e Periferias  (Divulgação/Arquivo pessoal)
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Pelo segundo ano consecutivo, um grupo se reúne em torno de um ideal comum para mostrar o grande potencial e a pluralidade das manifestações artísticas, culturais e intelectuais dos subúrbios cariocas.

Essa história começou com uma grande mobilização de agentes, ações e coletivos suburbanos, que decidiram não ficar esperando o poder público, e realizaram, em 2019, a primeira edição do Viradão Suburbano. Nos dias 9 e 10 de novembro do ano passado, um grande evento ofereceu arte e cultura, durante 36 horas, sem parar. O primeiro Viradão foi dedicado a Dona Ivone Lara e a Paulo da Portela, onde realizamos dezenas de reuniões itinerantes e também virtuais. A ideia sempre foi construir toda atividade de maneira horizontal, plural e coletiva, em busca da maior representatividade local e da adesão popular.

Agora chega a hora de aproveitarmos o Segundo Viradão Suburbano, inicialmente previsto para seguir os mesmos moldes do primeiro, com atrações culturais espalhadas pelos subúrbios. Entretanto, por conta da pandemia e para evitar aglomerações, este ano o festival será inteiramente virtual. Começando nesta sexta-feira, dia 20 de novembro, com uma série de atividades em comemoração ao feriado da Consciência Negra. A partir das 18h teremos palestras, apresentações musicais, debates e exibição de filmes.

Até domingo, 22 de novembro, ainda teremos muitas atrações, entre elas uma generosa contribuição do recém-vencedor do Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba, o grande mestre suburbano Cláudio Jorge, que levou o prêmio com seu magnífico trabalho Samba Jazz, de Raiz. A extensa programação conta ainda com nomes como Lazir Sinval, Robertinho Silva, Paulão Sete Cordas, El Efecto, Alan Rocha, Marquinhos de Oswaldo Cruz, entre muitos outros.

Samba jazz, de raiz
Cláudio Jorge 70 – Samba Jazz, de Raiz (Cláudio Jorge/Divulgação)

Em sua origem latina, a palavra cultura significa cuidar, tomar conta, se apropriar de algo que não precisa ser necessariamente material. Hábitos, crenças, tradições e vivências históricas que produzem signos e formas de sociabilidade geradoras de identidades.

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No Viradão passado, durante o encerramento da mesa Histórias e Sociabilidades Suburbanas, com o professor Luiz Antônio Simas, endossávamos o quanto os subúrbios foram capazes de produzir, ao longo da história, laços de sociabilidade e culturas associativas que são extremamente potentes até os dias de hoje.

A cidade do Rio de Janeiro, pelo menos desde a chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, passa por constantes transformações urbanísticas. A maioria de seus habitantes ainda continua a penar com falta de condições dignas de moradia e amplo acesso à cultura, à educação, à saúde e ao transporte de qualidade. Vejamos um exemplo. Embora atualmente cerca de 80% das cariocas e dos cariocas morem nas zonas Norte e Oeste da cidade, apenas pouco mais de 20% dos investimentos na Cultura são destinados a essas regiões. Já as zonas Centro e Sul, onde reside a menor parte da população do Rio, ficam com a maior fatia do bolo, como é possível perceber.

Embora convivendo neste contexto de negação institucional, o povo dos subúrbios resistiu e fez surgir, com engenho e arte, por exemplo, as escolas de samba e outras inúmeras formas de expressão cultural, as quais têm, nos dias de hoje, os coletivos culturais como articuladores fundamentais nestes territórios. Na intenção de contribuir para a maior visibilidade e valorização da potência cultural existente nos subúrbios – e também de contestar a lógica fomentada por narrativas que os associam quase que única e exclusivamente a lugares marcados pela carência e violência –, é que foi criado o Viradão Cultural Suburbano. Uma construção coletiva, composta por pessoas com formações diversas, suburbanos de nascimento ou de coração. Elas pertencem a instituições, coletivos e/ou associações com histórico de atuação nos subúrbios, e que têm em comum o interesse pelas manifestações culturais próprias desses lugares.

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Viradão Cultural Suburbano 2019 (Divulgação/Arquivo pessoal)

A abertura oficial do evento acontecerá mesmo na sexta-feira, dia 20, a partir das 18h, parte dos organizadores contará como surgiu a ideia de realizar o festival. Na sequência, haverá o debate “Vidas Negras Importam”, ao vivo, com a presença da deputada estadual Mônica Francisco (PSOL-RJ) e de Marcelo Dias, coordenador nacional do Movimento Negro Unificado, entre outros. Já no sábado (21), além da apresentação de trabalhos acadêmicos, promovida em parceria com o Diálogos Suburbanos, destaca-se também a apresentação da banda de rock El Efecto. Abrindo o domingo (22), último dia do evento, será exibido o curta “100% Suburbano” que conta um pouco da história deste outro coletivo que compõe a coordenação do Viradão. Na sequência tem roda de choro e jazz.

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Mesa do Diálogos Suburbanos no Viradão (Divulgação/Arquivo pessoal)

A programação completa pode ser vista nas redes do Viradão, Instagram @viradaosuburbano, Facebook Viradão-Cultural-Suburbano e também no Youtube.

Terminamos convidando a todos e lembrando que o Viradão Cultural Suburbano é uma obra em construção que só se torna possível por meio da participação de uma rede de relações formadas nas práticas cotidianas de lutas e vivências suburbanas.

 

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