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Rita Fernandes

Por Rita Fernandes, jornalista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca

Elza: mulher do início ao fim do mundo

Nunca mais teremos uma cantora igual a Elza Soares. Perde o Brasil, perde a cultura, perdemos todos nós

Por Rita Fernandes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
21 jan 2022, 15h45
Elza Soares, em 2010, no Grito da Sebastiana, baile na Fundição Progresso realizado pela associação de blocos de rua da zona sul, ao lado do Cordão da Bola Preta.
Elza Soares, em 2010, no Grito da Sebastiana, baile na Fundição Progresso realizado pela associação de blocos de rua da zona sul. (Alex Ferro / Sebastiana/Divulgação)
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Elza, a mulher do fim do mundo. Ou do início. Não dá nem pra saber, de tão gigante que ela se tornou. Mas certo é que Elza Soares foi a mulher-ícone do Brasil no século 21, quando ela lançou o seu último CD, o 32º da sua carreira.  Com 11 canções inéditas, veio rasgando o ventre de uma sociedade preconceituosa, na voz rouca e potente da cantora que mostrava orgulho, garra e unhas. A Mulher do Fim do Mundo veio em 2015, como um grito contra Benedita e a forte Maria da Vila Matilde.

Frases como “Eu quero cantar até o fim” e “Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim” imprimiram ainda mais marca à voz da cantora. Que coragem essa moça tinha! Elza, que sofreu tanto em vida, se tornou a principal voz feminina contra das mazelas e desigualdades desse Brasil machista e racista. Mulher negra, forte, intensa, que desceu o morro de Água Santa, no subúrbio do Rio, para cantar pela primeira vez, em 1953, o samba-canção Lama, de Paulo Marques e Alice Chaves), em programa de calouros comandado por Ary Barroso (1903/1964) na Rádio Tupi.

Inúmeras foram as vezes que Elza subiu no palco dos nossos carnavais. Um deles, inesquecível, foi em 2010, no Grito da Sebastiana, baile na Fundição Progresso realizado pela associação de blocos da zona sul, quando se apresentou ao lado de Sombrinha, do Cordão da Bola Preta e da bateria da Sebastiana.

Do alto dos seus 91 anos, Elza estava com agenda cheia. Que orgulho deve ser viver uma vida inteira e ainda ter mais pra viver. Ia se apresentar no Universo Spanta, evento que precisou ser cancelado em cima da hora em função da nova onda da Ômicron. Nos últimos dias 17 e 18, estava em São Paulo gravando álbum e DVD ao vivo, com retrospectiva da sua carreira. Em fevereiro, estaria no palco da Casabloco, junto com Renegado, num show ainda inédito por aqui. Dolorido substituir Elza Soares. Impossível substituir Elza.

Asas ela já tinha! Agora, vai alçar novos voos em outras esferas. Que essa deusa-mulher brilhe em todas as dimensões por onde passar!

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Rita Fernandes é jornalista, escritora, pesquisadora de cultura e carnaval.

 

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