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Rita Fernandes

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Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca

Paraphernalia: no Centro do Rio, para se jogar nas cervejas artesanais

Fábrica de cervejas artesanais e bar em casarão do século 18 oferece diversos tipos da bebida, em ambiente descontraído para happy hours

Por Rita Fernandes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
29 jul 2024, 14h44
A cervejaria e bar Paraphernalia ocupa casarão do século 18
A cervejaria e bar Paraphernalia ocupa casarão do século 18 (Rita Fernandes/Arquivo pessoal)
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O nome em si já é uma novidade: Paraphernalia. Foi dado por Isabelle, a filha de Rubens Rogério Komniski, 54 anos, o dono da marca de cervejas artesanais cuja fábrica fica ali na Rua dos Inválidos 23, no Centro do Rio. “Quando recebi quatro caixas enormes com equipamentos para produção caseira, que havia comprado no Rio Grande do Sul, minha filha disse: ‘onde você vai guardar toda essa parafernália’?”, conta Rubens.

Fomos conhecer a fábrica da Paraphernalia numa quinta-feira, convidados para ver uma brassagem – que é o processo inicial de produção de cerveja, em que se misturam os ingressos na água quente -, ainda no espírito da nossa Caravana de Botecos. Rubens e a esposa Renata estavam naquela maratona e haviam levado duas garrafas para que pudéssemos experimentar.

E que delícia de cerveja e de lugar encontramos por lá! Em um casarão do século 18, que mantém até hoje paredes originais, estão a fábrica e o bar, onde se pode ver o processo de fabricação e, ao mesmo tempo, degustar os vários tipos de cervejas produzidos no local. Ipa (American Pale Ale), Red Ale, Witbier, Munich Helles, Belgium Strong Golden Ale, tem cerveja para todos os gostos, dos mais suaves aos mais exigentes em termos de amargor. Eu amei a Witbier, já que sou das mais suaves, enquanto meus companheiros de jornada, o especialista em botecos Guilherme Studart e o fotógrafo Publius Vergilius, ficaram com a IPA.

O bar Paraphernalia no Centro do Rio tem ambientes no primeiro e no segundo andar.
O bar Paraphernalia no Centro do Rio (Rita Fernandes/Arquivo pessoal)

A fabricação da Paraphernalia não começou no Brasil, mas em Albany, capital de Nova York, em 2013, nascendo como cerveja cigana nos Estados Unidos. “Alugávamos uma cervejaria para produzir a receita”, vai contando Rubens, enquanto mistura os ingredientes.

Kibes feitos com malte de cerveja, pastéis e sanduiches para acompanhar as cervejas tiradas dos tanques.
Kibes feitos com malte de cerveja, pastéis e sanduíches para acompanhar as cervejas tiradas dos tanques (Miguel Aldanato/Divulgação)

Pudemos experimentar todos os tipos naquele lugar que é uma delícia, feito para happy hours com diversos ambientes, que começam na calçada, com cadeirinhas de praia, ao segundo andar, onde é possível fazer comemorações e pequenas vernissages. Para acompanhar as cervejas, pedimos pastéis de carne e kibes, esses últimos feitos com reaproveitamento de parte do malte da própria cerveja, e não com trigo tradicional. De longe preferimos os kibes, levíssimos, sem abrir mão dos pastéis, feitos pelas mãos de D. Glaucia, que comanda a cozinha.

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Durante a brassagem, descobrimos a importância da qualidade dos ingredientes para as cervejarias artesanais, como o lúpulo, que na maioria dos casos é importado, mas que já está sendo cultivado no interior do estado, principalmente na Região Serrana, que tem condições climáticas favoráveis e terra fértil para produzir variedades especiais.

Rubens Komniski, criador da Cervejaria Paraphernalia.
Rubens Komniski, criador da Cervejaria Paraphernalia (Miguel Aldanato/Divulgação)

Naquele dia, no momento de adicionar o lúpulo na cerveja que estava sendo produzida, eu e Guilherme Studart fomos convidados a colocar, cada um, uma quantidade do produto na mistura. Agora, o dono da Paraphernalia espera um nome para batizar a nova cerveja. E que Deus nos ajude no que vai dar, tanto na qualidade, quanto no nome. Aviso que estamos abertos a sugestões.

Confira abaixo a entrevista com Rubens e a história dessa marca que vale a degustação e a visita à fábrica/bar no Rio. Um programa muito carioca e divertido, para quem gosta de uma boa cerveja, bom papo e muita descontração.

 

Como você começou a fazer a cerveja? De onde veio isso?

Rubens: Eu sou paranaense. Na minha cidade, Irati, era comum as mulheres fazerem cerveja para as festas de final de ano. Minha avó fazia, minha mãe, as vizinhas. Sempre foi uma memória afetiva.

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Você me contou que começou nos Estados Unidos. O que te levou a iniciar esse processo fora?

Rubens: O que me incentivou a fazer cerveja nos USA foi a facilidade com a burocracia. Pode-se obter as licenças por e-mail, com cópia simples do seu passaporte, nada de reconhecer firma, cópia autenticada, essas coisas que no Brasil ajudam a emperrar qualquer processo. Em duas semanas eu tinha uma licença para produzir cerveja nos USA.

 

Que desafios você encontrou para se tornar um produtor de cerveja artesanal?

Rubens: Os desafios no Brasil, naquela época, 2012, eram enormes. Você não conseguia um alvará em zonas que favorecessem o negócio. A micro cervejaria era vista como uma indústria e só poderia ser estabelecida em zonas industriais. Zona Sul, nem pensar. O Ministério da Agricultura não estava acostumado a tratar com pequenos produtores, e as exigências eram enormes. Para se conseguir um registro de um produto, era muito demorado. Hoje é automático. Não existiam muitas indústrias de equipamentos. Os preços eram exorbitantes. Hoje a concorrência ajudou a baixar os preços dos equipamentos a preços aceitáveis.

 

Como você avalia o mercado de cervejas artesanais no Brasil? Onde estão os mercados consumidores?

Rubens: O mercado de cervejas artesanais é um mercado em franca expansão, mas não temos nem 5% do mercado de cervejas. Temos que lutar com os grandes players do mercado que concorrem de maneira desleal, no meu ponto de vista, impedindo, por intermédio de contratos de exclusividade, a entrada das artesanais nos grandes pontos de vendas. Elas patrocinam a reforma, mobiliário, uniformes e bonificações em troca da exclusividade da venda, e, quando nós, artesanais, chegamos, não conseguimos colocar nossas cervejas na maioria dos bares.

 

Quando você abriu a Paraphernalia e quando trouxe ela pro Rio? Tem encontrado incentivo para expandir?

Rubens: Paraphernalia foi fundada em 2013, na cidade de Albany, capital de Nova York, começando como cigana nos Estados Unidos. Ou seja: alugamos uma cervejaria para produzirmos nossa receita. Uma blonde com mel e camomila, chamada Lá Vie est Belle, em homenagem a minha filha Isabelle.

Em 2021 iniciamos o projeto da cervejaria no Rio, depois de ter voltado para cá, em 2019, por um motivo muito especial: meu casamento com a Renata. Hoje, a prefeitura do Rio tem criado vários incentivos para as micro cervejarias, criando leis que possibilitam sua instalação em qualquer área da cidade, está criando a Rua da Cerveja, na Rua da Carioca, com incentivos financeiros. Isso é uma oportunidade para expansão das operações das micro cervejarias.

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Quanto tempo leva para fazer a cerveja? E que tipos você faz?

Rubens: Uma boa cerveja artesanal demora, em média, 20 dias para ficar pronta, utilizando-se os métodos tradicionais. Hoje existem leveduras que fermentam as cervejas muito rapidamente, reduzindo este período para 7 a 10 dias. Metade do tempo. Mas, normalmente, são utilizados 20 dias para fermentar e maturar uma boa cerveja. Nós aqui na Paraphernalia fazemos os estilos das quatro escolas cervejeiras, Alemã, Inglesa, Belga e Americana: Ipa (American Pale Ale), Red Ale, Witbier, Munich Helles, Belgium Strong Golden Ale.

 

Qual seu tipo de cerveja predileto?

Rubens: Meu estilo preferido é uma boa IPA.

 

De onde veio o nome da cervejaria?

Rubens: O nome veio quando recebi 4 caixas enormes com equipamentos para produção caseira que havia comprado no Rio Grande do Sul e minha filha disse: “onde você vai guardar toda essa parafernália?”

 

Quais os planos futuros?

Rubens: Nossos planos para o futuro são a expansão do volume produzido, a abertura de uma nova unidade, uma linha de envase e a comercialização regional de nossas cervejas.

 

Rita Fernandes é jornalista, escritora, presidente da Sebastiana e pesquisadora de música, cultura e carnaval.

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