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Teatro de Revista

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Espetáculos, personagens, bastidores e tudo mais sobre o que acontece na cena teatral carioca, pelo olhar do crítico da Veja Rio

Uma conversa com Márcio Vito sobre A Geladeira, sua nova peça, sobre o sucesso de Tá no Ar e sobre… A Ponte do Rio que Cai

Dramaturgo, performer e cartunista, o franco-argentino Raul Damonte Botana, mais conhecido como Copi (1939-1987), é homenageado com a Ocupação Copi, que leva montagens de duas peças de sua autoria no Espaço Sesc, a partir de quinta (11): O Homossexual ou A Dificuldade de Se Expressar e A Geladeira. Nesta última, um monólogo, Márcio Vito interperta […]

Por rafaelteixeira
Atualizado em 25 fev 2017, 18h04 - Publicado em 4 jun 2015, 19h37
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Ocupação Copi

Dramaturgo, performer e cartunista, o franco-argentino Raul Damonte Botana, mais conhecido como Copi (1939-1987), é homenageado com a Ocupação Copi, que leva montagens de duas peças de sua autoria no Espaço Sesc, a partir de quinta (11): O Homossexual ou A Dificuldade de Se Expressar e A Geladeira. Nesta última, um monólogo, Márcio Vito interperta L., ex-modelo que faz 50 anos e recebe uma geladeira de presente da mãe. A partir daí, desenrola-se uma série de acontecimentos absurdos, com Vito se multiplicando em diversos outros personagens.

Em entrevista ao blog, Vito falou sobre a peça, que ele já encenara brevemente em 2007, e sobre a obra de Copi. Além disso, comentou a repercussão do elogiado programa de televisão Tá no Ar, cujo elenco ele integra. E ainda lembrou uma experiência profissional desconhecida de muita gente: durante três anos, ele foi o canhoneiro que tentava derrubar os participantes da prova A Ponte do Rio que Cai, no Domingão do Faustão. Confira:

Você apresentou A Geladeira em 2007, em algumas cidades, incluindo o Rio, no festival riocenacontemporanea. Você pode contar um pouco como surgiu o projeto do monólogo?

Vou responder longamente para tentar ser fiel a complexidade afetiva que está por trás desta peça. Em 2007, fui convidado a fazer um teste. A atriz Larissa Siqueira, amiga e parceira de Thomas (Quillardet, diretor do monólogo), me indicou. Eu fiz uma leitura da peça de primeira em Curitiba para Thomas e Nadja Naira, da Companhia Brasileira de Teatro, e, depois disso, soube que faria a peça com eles, mas antes de começarmos a ensaiar pra valer, Thomas foi a Salvador e dirigiu a mesma peça com a Companhia Teatro dos Novos, que na época era o grupo residente do Teatro Vila Velha. Nesta época, Thomas estava junto com a Companhia Brasileira, realizando um projeto de divulgação da obra de Copi no Brasil através da bolsa de pesquisa Villa Médicis – Hors les Murs, oferecida pela instituição francesa Cultures France. Chamava-se Projeto Copi. Havia então as montagens, uma exposição de desenhos e fotos, tradução e edição dos textos Eva Perón, Loretta Strong e A Geladeira, e leituras dramáticas de Copi que foram dirigidas por Márcio Abreu (Eva Perón) e Camilo Pellegrini (As Quatro Gêmeas). Eu encenei, nessa ocasião, junto com Claudete Pereira Jorge, e sob direção do Thomas, um espetáculo que continha dois monólogos de Copi: A Geladeira e Loretta Strong. Não havia intervalo. Era uma peça só, mesmo. Depois deste projeto, a ideia de refazer a peça me rondava ha alguns anos. Cheguei a apresentar uma leitura dramática na Alianca Francesa de Botafogo, sob direção de Tania Alice e com participação da atriz e bailarina Eléonore Guisnet-Meyer. Avisei ao Thomas que tentaria remontar a peça, de fato eu e Tania tentamos viabilizar a peça na época, mas não conseguimos o valor dos direitos autorais e o projeto nao foi adiante. No ano passado, eu e Thomas falamos sobre a vontade de trabalhar juntos novamente, e revisitar Copi através de A Geladeira pareceu uma experiência para ambos muito especial e provocante artisticamente. Apresentamos o projeto a Bia Radunsky, do Espaço Sesc, e numa parceria com a Quintal Produções e com o Teatro de Extremos, compramos os direitos autorais para cairmos na vida novamente.

Falando especificamente do texto, o que o atraiu nele?

A Geladeira caiu sobre mim como um piano na cabeça de um desenho animado. Digo isso porque não morri, mas quase, vi estrelas como num desenho. Porque esta peça fez com que as coisas que eu pensava sobre dramaturgia fossem rasgadas por todos os lados. Há em A Geladeira um jogo vivo de autorreferência, de exposição e crítica bem humorada de si próprio, emocionante. Uma sensação de “caramba, claro que isso pode ser assim” ou “por que ninguém brincou com isso antes?” percorria a minha cabeça durante a primeira leitura desta peça e ainda percorre cada vez que a leio, estudo ou enceno. A solidão está lá sem autopiedade ou sentimentalismo, o encantador está sendo criado e vivido ao mesmo tempo que temos contato com a peça. O texto de A Geladeira fez com as minhas ideias sobre dramaturgia, algo que só tenho como comparar ao que eu senti sobre atuação vendo Rubens Correa encenar Artaud.

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O que você diria para quem viu a montagem de 2007 e não sabe se deve ver novamente? Algo mudou no espetáculo de lá para cá?

Eu só fiz duas apresentações no Rio de Janeiro e dos poucos que eu conheço que assistiram, já sei que desejam ver de novo. A peça está diferente porque mudamos muito, eu e Thomas. Nos surpreendemos com novas afinidades e tivemos o cuidado de sermos honestos com nossas referências e escolhas atuais. Em 2007 a peça era encenada dentro de uma composição em que outro monólogo de Copi, Loretta Strong, acontecia no mesmo espaço, sem intervalo. O espetáculo está mais maduro, mais realista, não dá para saber ao certo se está melhor, mas está diferente. Sempre se deixa algo pelo caminho na estrada da evolução pessoal. Mas minha sensação pessoal é de que a peça está muito melhor porque estamos ambos muito melhores do que há oito anos.

Para você, qual é o desafio específico de fazer um monólogo, especialmente um em que você se multiplica em vários personagens?

Eu me preocupo em me cercar de pessoas que admiro e que tenham alguma marca própria em sua arte. Um monólogo tem muita pesquisa, muita conversa, antes de ir a cena. Eu gosto de monólogos. Por mais personagens que possam passar por mim em cena sempre serão em menor quantidade que na vida. O desafio é não deixar que a distinção entre os personagens esteja na frente do que se passa por dentro de cada um deles. Se os personagens estiverem bem construídos, não há necessidade de vozes ou corpos diferentes para apresentá-los. Sabemos quando uma mesma pessoa de nosso convívio está mais bem humorada ou triste só em olhar para ela. Só em vê-la chegar no trabalho ou em casa. A ideia é que os personagens possam ser, como na verdade são, faces divergentes, aspectos inexatos da alma de uma mesma pessoa. Ainda que numa olhada superficial ou por curta exposição.

Você conhecia o trabalho do Copi antes da fazer a peça ou só veio a conhecer depois?

Conheci a obra de Copi através deste projeto do Thomas de 2007. Acho que o que ele fez nas peças se comunica muito diretamente com meus anseios e questões de pessoa de teatro no Brasil. As personagens de Copi me são estranhamente familiares. Não sei dizer por que. A tentação de arriscar falar da origem latina dele (já que o Copi morou e morreu na França, escreveu em francês, mas era argentino) para justificar isso é grande, mas parece que não seria suficiente. A tentação de dizer que ha algo universal no que ele escrevia tambem é grande, mas o que ele nos deixou é tão profundamente pessoal que também me parece presumido demais arriscar alguma coisa sobre a obra que já não esteja nela. Eu acho incrível. Tudo. As peças, as tirinhas e a vida dele. E lembrei agora de uma imagem que a Renata Pimentel, que é estudiosa de Copi, nos oferece num texto que estará no programa da Ocupação Copi do Espaço Sesc. Talvez isso seja legal de dizer. É algo sobre a obra do Copi ser uma espécie de casa de espelhos. Isso parece encaixar com o que sinto. Porque embora as formas que vemos no teatro de Copi nos pareçam engraçadas, “de outro mundo”, exageradas, assustadoras, fofas ou feias, aquilo que está diante de nós, são apenas pequenas distorções de nós mesmos.

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Saindo um pouco da peça propriamente dita: a Ocupação Copi talvez seja o último ou um dos últimos projetos encampados pela Bia Radunsky, ex-gerente do Espaço Sesc, recém-desligada, a integrar a programação do endereço. Como você vê a saída dela da gerência?

Com a tristeza e emoção dolorida de viver o final de um trabalho muito importante para minha vida e para toda uma geração. A curadoria da Bia Radunsky no Espaço Sesc vai dar frutos à vida cultural do Rio por mais uns 100 anos. Sem exagero. Ela, com seu olhar delicado e firme, poderia ser fundamental a alma artística de qualquer cidade do mundo. Por sorte nossa esteve no Rio. Se pudéssemos fazer nascer agora o Festival Bia Radunsky de Teatro, com as peças que ela quiser juntar, teríamos uma seleção de alto nível para rodar o país inteiro e fazer bonito no exterior.

Você sempre fez muita TV, mas imagino que a repercussão do Tá no Ar seja algo inédito na sua carreira televisiva. Como tem sido o trabalho no programa e a reação do público nas ruas?

É realmente abrangente o alcance do programa. Ele tem um humor de turma que vem sendo trabalhado ha muito tempo pelo Marcius Melhem em especial e que, de encontro com o talento imenso do Marcelo Adnet, e sob os cuidados do Mauricio Farias, deu no que deu. É realmente importante falar deles como um todo porque foi uma mistura especialíssima. É uma realização que eu não conhecia em TV, participar de um programa que tenha dado tão certo. A gente torce muito pelo programa junto. Toda a equipe. Tem ideia por todo lado, mas as etapas são claras e as funções, bem definidas. Os roteiristas são realmente geniais. Somos todos muito dedicados. Além da direção, dos roteiristas e dos atores, o pessoal de arte, cenário, figurino, maquiagem, luz, todos, estao sempre preocupados em afinar suas questões sobre a melhor maneira de valorizar um gênero parodiado e fazer a piada com o foco necessário, sem exageros e sem dispersões. Em outro nivel de envolvimento, a gente acompanha discussões que em outro projeto de TV seriam invisíveis aos atores. Os autores nos conhecem e nós a eles cada vez mais. Fico realmente muito feliz em fazer parte deste projeto e este sentimento, posso dizer sem erro, é o de toda equipe.

Por fim: é verdade que você vez o canhoneiro da Ponte do Rio que Cai, prova em que os participantes tentavam atravessar uma ponte sobre uma piscina sob uma chuva de boladas, nas Olimpíadas do Faustão?

É verdade. Foi uma experiência deliciosa. Mauricio Nunnes era o diretor, eu fiquei mais de três anos dando bolada nos participantes e fazendo caretas de felicidade sádica para a câmera. Eu entrei com 18 anos e já era ator profissional. Na minha cabeça eu fazia um trabalho que tinha referências dos mestres do cinema mudo e da arte da palhaçaria. E pode ser que isso passasse de alguma maneira aos espectadores. Porque as reações das pessoas quando descobriam que eu era aquela figura nariguda e envelhecida eram sempre carinhosas e divertidas. O fato é que eu levava a sério aquilo lá. Me esmerava em ser preciso e fazer rir nos poucos segundos de câmera que eu tinha pra isso.

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