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Thalita Reboucas

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Blog da Thalita Rebouças

Dia de final

Vou confessar num fôlego só: não tive a menor paciência para a Copa das Confederações desde que ela começou. Podem me chamar de louca, mas é tanto trabalho e tanta coisa rolando na minha cabeça que a bola rolando em campo (e todo o frisson em torno do assunto) não me causava nenhum interesse. Copa […]

Por thalita
Atualizado em 25 fev 2017, 19h03 - Publicado em 1 jul 2013, 16h33

Vou confessar num fôlego só: não tive a menor paciência para a Copa das Confederações desde que ela começou. Podem me chamar de louca, mas é tanto trabalho e tanta coisa rolando na minha cabeça que a bola rolando em campo (e todo o frisson em torno do assunto) não me causava nenhum interesse. Copa das Confederações? Eu nunca tinha nem ouvido falar disso! Se ainda fosse a do Mundo, tudo bem, mas das Confederações… Não. Preferi trabalhar durante os jogos. Ou ouvir música.

Para dar uma noção exata do meu desprendimento futebolístico em relação a essa copa, assim que a final entre Brasil e Espanha começou fui para o quarto com os fones do meu ipod no ouvido. Levei um susto quando o Cao entrou -– dois minutos depois! — para avisar que o Fred tinha feito um gol deitado. Fiquei curiosa e corri para a sala para ver o replay. De lá não saí, embora meus olhos estivessem vidrados não na tela da tevê, mas na do iPad. Resolvi conversar com o Google sobre Lucrécia Bórgia.

– Cao, é uma pena que você não esteja vendo The Borgias, sabia? Uma das melhores séries que já vi. O quinto episódio da primeira temporada foi incrível. Você acredita que o Papa…

– Amor! AMORRR!!! É sério isso? Tá louca? Shhh! – reagiu fofamente meu marido.

Entendi o nada sutil recado e calei a boca.

Com um olho na tevê e outro na Wikipédia, vi o David Luiz arrasando, o gol elegantésimo do Neymar e o principal, pude finalmente observar atentamente a bunda do Hulk. Além disso, teci comentários sobre algumas chuteiras (só eu implico com as de cores berrantes, meu Deus?) e questionei o corte da maioria dos jogadores em campo.

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– Que cabelo é esse, Cao? Esse cara não tem mãe? Namorada? Espelho?

– Shhh!

– Tudo bem, se ele tá feliz assim, isso que importa, né?

Depois dessa nem “Shh!” eu ganhei. Apenas um olhar para lá de revoltado com minha tagarelice fora de hora.

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Brasil 2, Espanha 0. Intervalo. Chamada do Fantástico no ar mostrou o que íamos ver no Show da Vida: os preparativos para o casamento de Naldo. Eu, como toda leitora de site de fofocas, sei que a boda vai ser nababesca. Enquanto penso “, nossa, como sou bem informada”, entra a sonora da noiva do funkeiro falando sobre caviar. Cao pergunta:

– Quem é essa mulher?!

– A mulher do Naldo!

– Quem é ela?

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– A Mulher Moranguinho! Caramba!

Que cara sem cultura!, quase emendei. Mas achei que ele podia magoar. Cao não tem a menor intimidade com o mundo das subcelebridades. Outro dia fiquei chocada quando ele contou que não sabia que a irmã do Neymar anda por aí de lentes azuis nem que a filha do Renato Gaúcho (ou seria do Bebeto? Ou a do Romário?) tinha tirado foto de short curtinho. Como pode uma pessoa tão interessada em futebol com tanto desinteresse em notícias sobre futebol?

Aos 11 minutos do segundo tempo, Brasil 3 (gol do meu Fred), Espanha 0, perguntei:

– O que vamos fazer agora? – resolvi implicar.

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– Terminar de ver o jogo.

– Mas ainda faltam 34 minutos! – insisti na implicância. – E já está três a zero. Ganhamos. Pronto, acabou! Cabô!

Mais uma vez fiquei no vácuo. O meu dileto marido realmente não estava a fim de conversa.

Depois do apito final, achei que a vida ia voltar ao normal.

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– Vamos sair pra jantar?

– Só depois da entrega da taça.

Puuutz!, resmunguei em pensamento. E continuei a resmungar quando percebi que antes da taça ainda seria obrigada a ver a entrega das chuteiras de bronze, de prata e de ouro, das bolas de bronze, de prata e de ouro e da luva de ouro. Ufa! Esqueceram as luvas de bronze e de prata. Que sorte a minha!

Ok, confesso que achei bonita a emoção de Felipão e companhia ao receber as medalhas e a taça. E que me encantei com o carisma e a garra da nossa seleção. Mas a imagem da Copa das Confederações que vai ficar na minha memória é outra, que se repetiu em várias partidas: jogadores e arquibancadas lotadas cantando em uníssono, a plenos pulmões, o hino nacional — mesmo depois que a melodia parava de tocar. Sensacional. Viva o Brasil!

Podemos jantar agora?

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