Miolo – fazendo história
Por Marcelo Copello Uma pergunta que sempre me fazem em entrevistas é sobre a qualidade do vinho brasileiro. Minha resposta já é conhecida, “o vinho brasileiro melhora a cada ano” e “caminha alguns centímetros a cada safra, em uma estrada de quilômetros”. Pois nesta semana que passou pude comprovar meu moto-perpétuo ao ver em perspectiva […]
Por Marcelo Copello
Uma pergunta que sempre me fazem em entrevistas é sobre a qualidade do vinho brasileiro. Minha resposta já é conhecida, “o vinho brasileiro melhora a cada ano” e “caminha alguns centímetros a cada safra, em uma estrada de quilômetros”. Pois nesta semana que passou pude comprovar meu moto-perpétuo ao ver em perspectiva este percurso de evidente evolução.
A Miolo Wine Group celebrou no dia 7 de julho em São Paulo seus 9 anos de parceria com o enólogo de mais prestígio no mundo, Michel Rolland. Na ocasião Adriano Miolo (diretor superintendente da MWG) e Rolland deram uma entrevista coletiva e apresentaram as novas safras dos vinhos da empresa, na bela Casa da Fazenda no Morumbi.
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Michel Rolland e Adriano Miolo
Tive o privilégio de ter sido o primeiro brasileiro a entrevistar Michel Rolland em 2004, para meu então programa de TV, Vinho & Algo Mais e para a Gazeta Mercantil (esta entrevista pode ser lida em www.mardevinho.com.br/site/colunas/2004_07_16.htm ). Na ocasião, em um conversa informal depois da entrevista, perguntei em off qual ele achava ser o real potencial do Brasil para a produção de vinhos. Ele me respondeu com muita sinceridade: “realmente não sei, é cedo para dizer, me pergunte isso daqui a uns 10 anos”.
Pois cá estamos juntos de novo 7 safras depois. Rolland e Miolo (uma empresa que nunca teve medo de investir) juntos já aprenderam muito sobre os terroirs do Brasil e sobre suas potencialidades. Neste meio tempo a Miolo fez seu dever de casa, arrancou (e isso custa caro) centenas de hectares de vinhedos no problemático sistema de latada, replantando no sistema de espaldeira, o ideal. Rolland e Miolo hoje já sabem bem melhor que castas plantar aonde, por exemplo: espumantes e Merlot na Serra Gaúcha; na Campanha Cabernet Sauvignon, castas portuguesas e Petit Verdot; em Vacaria Pinot Noir e Viognier, e no nordeste Syrah e Moscatel. Isso parece básico, mas na coletiva Rolland nos lembrou muito bem que este tipo de conhecimento (o que plantar onde) já existe há séculos na Europa, mas aqui não. “Meu avô em Bordeaux só repetia o que o avô dele fazia, não precisava pensar o que fazer, era só fazer. Aqui não temos história, estamos começando o zero, temos que pensar o que fazer. Aqui estamos fazendo história”. Falou bonito o francês.
Sede da Miolo no Vale dos Vinhedos
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A Miolo está assim escrevendo belas páginas da história do vinho brasileiro. A empresa investiu nos últimos 10 anos mais de R$ 100 milhões e hoje é a líder do mercado nacional de vinhos finos, com 12 milhões de litros ao ano e 1.200 hectares de vinhedos, todos de uvas viníferas, conduzidas pelo sistema de espaldeira.
Uma declaração interessante foi dada por Rolland quando perguntado sobre o potencial de envelhecimento dos vinhos brasileiros. A resposta (óbvia) é que ainda é cedo para julgar, pois ainda não existe histórico, mas ele acrescentou que o consumidor hoje pouco se interessa por vinhos mais velhos. “Minhas duas filhas, que podem se servir à vontade em minha adega de grandes vinhos de safras antigas e famosas, como Château Latour ou Pétrus de 1982, preferem sempre degustar vinhos mais novos, nunca com mais de 12 ou 13 anos” disse ele, me causando espanto. Ah se eu tivesse Pétrus 1982 à vontade…
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Sala de barricas na sede da Miolo
Os vinhos lançados no evento foram:
– RAR Viognier 2010
– RAR Pinot Noir 2010
– Bueno Paralelo 31 2009
– Bueno Cuvée Prestige 2009
– Cuvée Giuseppe Chardonnay 2009,
– Miolo Lote 43 2008
– Miolo Merlot Terroir 2009
– Gran Lovara 2006
– Miolo Millésime 2009
– Terranova Brut Rosé, Terranova Late Harvest
– Sesmarias 2008
– Quinta do Seival Castas Portuguesas 2008
– Quinta do Seival Cabernet Sauvignon 2008
Não cheguei a analisar os vinhos, pois o ambiente era inadequado para avaliações mais técnicas (degustação de pé em meio a um grande coquetel). Eu prefiro degustar às cegas, sentado e em silêncio. Farei uma análise completa em breve, em uma grande prova de vinhos nacionais. Aguardem.
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Vinhedo em espaldeira
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Depois da coletiva, em um bate papo com Rolland lembrei a ele de nossa entrevista de 2004. Ele riu (e o riso veio bem mais fácil do que 7 ano atrás) e concordamos que o público nacional é ansioso, quer resultados já, mas que fazer vinho bom leva tempo. Pois o público nacional já pode provar hoje o resultado destes anos de trabalho e constatar uma evidente evolução. Fica agora a expectativa para a chegada dos vinhos da safra de 2011, considerada histórica pelo especialista francês.
Parabéns à Miolo, parabéns ao vinho brasileiro, continuamos firmes em nosso caminho de evolução.
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Marcelo Copello (mcopello@bacomultimidia.com.br)
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