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Vinoteca

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Marcelo Copello dá dicas sobre vinhos

Vinho & Cobiça

Por Marcelo Copello (trecho do livro “Vinho e Muito Mais”, editora BestSeller)

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13 jul 2017, 12h21
 (marcelo copello/Vinoteca)
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Por Marcelo Copello (trecho do livro “Vinho e Muito Mais”, editora BestSeller)

(texto de ficção)

Após juntar din-din um bom tempo finalmente realizei um sonho antigo, o de provar a maior lenda entre os vinhos do mundo, o La Romanée-Conti, e logo um 1978! Foi em uma degustação horizontal de todos os vinhos da Domaine nesta safra histórica, conduzida pelo próprio Albert de Villaine, proprietário da empresa. Esta extravagância custou mais caro que uma passagem para a Europa, mas valeu cada centavo, pois foi o melhor vinho que provei na vida (até agora).

A única coisa chata neste tipo de degustação é que servem em geral apenas 50ml  de cada vinho. São dois goles de clímax, e litros de água, ou anticlímax. Taí uma boa definição para água: “o anticlímax do vinho”. Como consolo para minha sensação de “quero mais” ao menos tive a sorte de poder levar para casa a garrafa vazia como um troféu, devidamente autografada pelo ilustre anfitrião.

Em casa, ainda inebriado, pensei: “venderia minha alma para que esta garrafa se enchesse de novo e eu pudesse bebê-la toda sozinho, à vontade, sem contar mililitros…”

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Puf! Em meio a uma névoa eis que surge o inominável, com bafo de sangue de boi e sulfuroso e diz: “pois que assim seja, por sua alma, você poderá beber deste vinho sempre e sempre, à vontade, na quantidade que quiser, sem dividir com ninguém”. Puf! Mais fumaça de enxofre e a besta some.

Ao me recuperar do choque reparei que a garrafa do La Romanée-Conti 1978 estava de novo cheia! Incrédulo servi-me imediatamente de uma taça enorme e bem cheia. Ahhhh! Que milagre! Que delícia! Eu não sabia que a minha pobre alma estava valendo tanto no mercado das almas, uma garrafa cheinha La Romanée-Conti 1978 só para mim. Enquanto tentava dar cabo da Riedel cheia que estava em minha mão notei que a garrafa continuava cheia até a boca. E assim foram várias taças até eu adormecer.

No dia seguinte acordei tarde e faminto. Normalmente antes do café eu não acordo de fato, e as vezes nem lembro dos fatos da véspera sem uma ajuda da cafeína. Estava de bom humor e resolvi preparar um farto desjejum, com ovos, panqueca, café, leite, frutas. Servi-me de café, coloquei leite e sorvi o primeiro gole – ,aquele gole-remédio, para dar boot no cérebro.

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Hum?! Mas este café parece Romanée-Conti. Ao olhar para a xícara estava lá o inconfundível líquido cor granada clara, com reflexos alaranjados, exalando toda a elegância e complexidade do grande Borgonha. Romanée-Conti no café da manhã! Que luxo! Servi-me de mais café e lá estava ele, o legendário caldo, meu novo “vinho do dia a dia”. Sorvi-o lentamente, gole a gole, xícara a xícara.

Depois de foi escovar os dentes. Abri a torneira e começou a jorrar vinho, o mesmo vinho. Corri para minha adega, abri uma garrafa qualquer, de novo estava lá, o La Romanée-Conti 1978. Que maldição!

Nota do autor:

A obra acima é de ficção, inspirada na sala de minha casa, onde em frente à mesa onde almoço e janto todos os dias, há uma estante com alguns “troféus”: garrafas de grandes vinhos, caros, raros, famosos, infelizmente vazias, recordações de grandes degustações. Várias vezes peguei-me olhando estas garrafas e relembrando do gosto do líquido que cada uma delas continhas. Penso sempre que se o gênio da lâmpada me aparecesse eu pediria que estas garrafas se re-enchessem automaticamente e permanentemente… Cheguei a pensar que se fosse condenado a beber só destas garrafas pela eternidade não estaria tão mal, pois há grandes Bordeaux, Borgonhas, Champagne, Madeiras do século XIX… mas depois pensei: isso seria uma maldição, pois onde estariam os grande Barolos, os Riojas etc… Por melhor que seja o vinho, bom mesmo é a diversidade que esta bebida global proporciona.

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