Vodca: história, curiosidades e elaboração
Para uma bebida cuja grande qualidade é ser pura, na forma de ausência de cheiros e aromas...
Por Marcelo Copello
Para uma bebida cuja grande qualidade é ser pura, na forma de ausência de cheiros e aromas, portanto, ao menos em teoria, insípida, a vodca surpreende ao conquistar cada vez mais adeptos. A típica bebida dos russos representa o segmento que mais tem movimentado o mercado dos destilados nos últimos anos. Esta ausência de cores e sabores do líquido é amplamente compensada por seu marketing, que tem suscitado uma verdadeira guerra entre as principais marcas.
As origens do nome são controversas. Segundo o polonês W. V. Polkhlióbkin, no livro “Uma História da Vodca” (editora Ática), vodka, significa simplesmente “água” (em russo vodá), em sua forma diminutiva: “aguinha”, como autêntica linguagem popular. Uma outra versão sugere que o nome vem do polonês zhiznennia voca que significa “água da vida”. Este termo teria sua origem no medievo, quando se cogitava que o processo da destilação supostamente poderia levar à descoberta do elixir da eterna juventude.
Mais controvertida ainda é a paternidade da bebida, reivindicada tanto por russos quanto por poloneses. Se não se sabe quem é o pai, ao menos estima-se que seu surgimento tenha sido entre os séculos VIII e IX, e que certamente os créditos por construir a fama da bebida são da nobreza Russa. Vários historiadores ressaltam que um produto como o álcool de cereal só poderia ter surgido em Estado centralizado e autocrático. Como Moscou foi o primeiro Estado centralizado da Rússia, foi lá que a vodca encontrou condições políticas, econômicas, sociais e tecnológicas para evoluir, independente de quem a tenha inventado.
O destilado, pelas mãos da Rússia tsarista, alcançou um padrão de qualidade elevado e já na segunda metade do século XIX começou a ser exportado. No século XX a vodca conquistou os EUA para tornar-se, por conta de sua neutralidade, a base dos mais variados coquetéis.
Hoje o mercado mundial da vodca é liderado pela Smirnoff, de origem russa, seguida pela sueca Absolut.
Veja o gráfico abaixo, em milhões de caixas de 12 garrafas (9 litros) – números de 2015.
COMO A VODCA É FEITA
A vodca pode ser produzida partir de qualquer matéria orgânica. As matérias primas mais comuns são trigo, cevada, centeio, sorgo, soja, batata, arroz, milho, melaço e até uvas. Alguns exemplos mais conhecidos são: Absolut (sueca) e Stolichnaya (russa), feitas de trigo; Belvedere (polonesa), de centeio; Finlandia (finlandesa) de cevada; Chopin (polonesa), de batata, e Cîroc (francesa) de uvas.
O primeiro passo na elaboração da bebida é o cozimento da matéria prima sob alta pressão que em seguida é resfriada e misturados com água e leveduras para provocar a fermentação. A mistura final é destilada a temperaturas elevadas, a fim de extrair todos os possíveis sabores ou aromas da bebida. A destilação produz um álcool bastante puro, com ao menos 96% por volume, que é retificado com o acréscimo de água destilada. O líquido também é filtrado, normalmente através de carvão ativado, que remove impurezas e odores. O resultado é uma bebida de sabor neutro e incolor. As vodcas de alta qualidade são destiladas e filtradas várias vezes, com o objetivo de aumentar sua pureza. Este processo reduz os efeitos do temido “dia seguinte” torna a bebida mais equilibrada e macia.
A água também é um dos segredos da qualidade das boas vodcas. Na Rússia, por exemplo, é muito utilizada a água do rio Vazuza, a oeste de Moscou, que contém entre 2 e 3 equivalentes-miligramas por litro de minerais dissolvidos, sendo assim considerada “leve”. A água ideal deve ter um máximo de 4 equivalentes-miligramas por litro de minerais dissolvidos.
Normalmente vodcas de trigo são mais macias e leves, já as de centeio são mais robustas e com toques de especiarias, enquanto as de batatas tendem a ter textura mais cremosa.
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