A história de sucesso da carioca Jeffrey

Com o Rio dominado, a cervejaria chega a São Paulo, vai abrir mais uma fábrica e se prepara para cruzar o Atlântico

Por Fabio Codeço
Atualizado em 2 jun 2017, 12h25 - Publicado em 26 set 2015, 01h00
Sócios Jeffrey_Alle Vidal
Sócios Jeffrey_Alle Vidal (Alle Vidal/)
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Um pileque foi o marco zero. Há quatro anos, enquanto esvaziavam as garrafas que haviam comprado juntos em viagem à Bélgica, os amigos Eduardo Brand, Gilson Val, Raphael Bloise e Renato Monteiro começaram a desenvolver a ideia de criar uma marca própria de cerveja. Entre as geladas importadas e o debate em torno do projeto, o grupo deve ter se divertido um bocado naquela noite. Razões para sorrir, aliás, não faltam até hoje: resultado do papo, a Jeffrey Niña, com seu inconfundível patinho verde no rótulo, vende 60 000 litros por mês, em 320 pontos pela cidade, incluídos aí restaurantes prestigiados como Mr. Lam, Olympe, Roberta Sudbrack e Irajá. Promovida através de uma estratégia que jamais recorreu a anúncios ou comerciais de TV, é a cerveja premium de maior saída na rede de supermercados Zona Sul — ao abstêmio mais distraído, basta uma olhada nas gôndolas abarrotadas para constatar que a concorrência no setor é forte. No mesmo Zona Sul, ela fica em quarto lugar no ranking geral de geladas, que inclui as populares Antarctica e Brahma. Com o Rio dominado, o pato se prepara para voos mais altos.

Jeffrey_1 ano da loja
Jeffrey_1 ano da loja ()

Em São Paulo, mercado mais recente, as garrafas do, por enquanto, único produto da Jeffrey já podem ser encontradas em vinte endereços. Brilham na lista o complexo gastronômico Eataly e o restaurante Vito, do chef e celebridade de TV André Mifano. A demanda crescente inspirou a construção de uma fábrica de 1 000 metros quadrados em Petrópolis, com inauguração prevista para janeiro. O complexo terá capacidade para chegar, em três anos, a 200 000 litros mensais. Antes, em novembro, um novo rótulo virá fazer companhia à Jeffrey Niña. Trata-se de uma red pilsen, na definição dos sócios. Feita com malte alemão e fermento da República Checa, repousa nos tonéis de inox de uma fábrica arrendada no Rio Grande do Sul. Quartel-general da produção atual, a unidade gaúcha não será desativada quando os trabalhos começarem na serra fluminense. E mais: uma linha de sucos naturais de uva estará nas lojas em dois meses. Em sua composição haverá diferentes castas (niágara branca, niágara rosa, francesa e bordô), colhidas a mão, sem conservantes, corantes ou açúcar.

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Origem de tudo, o patinho dos ovos de ouro surgiu antes mesmo da cerveja. “Não éramos do ramo, mas naquele momento decidimos montar a empresa dos nossos sonhos, uma marca que traduzisse nossas paixões e fosse a cara do Rio”, lembra Gilson Val, que já era sócio de Eduardo Brand em uma produtora audiovisual. Renato Monteiro, dono de uma fábrica de cosméticos, e Raphael Bloise, profissional do mercado financeiro, embarcaram com gosto na proposta. Símbolo desenhado, passaram-se seis meses — e 8 000 litros — de testes até a definição, em 2012, da fórmula da Jeffrey Niña, aromática witbier (estilo belga) com malte alemão de aveia e trigo, raspas de limão-­siciliano e semente de coentro. O bom desempenho inicial levou à inauguração da sede, na Rua Tubira, pedaço do Leblon maltratado pela presença de várias oficinas mecânicas. Craques do marketing, os sócios fizeram do lugar um ponto de encontro de chefs famosos, artistas e outros cariocas badalados, reunidos em torno de eventos de música, literatura e arte. Em maio, o primeiro aniversário da loja ganhou dois dias de festa, com cerca de 6 000 pessoas espalhadas pela rua e, claro, de garrafinha na mão.

No 2º piso do endereço no Leblon funciona um laboratório para o desenvolvimento de edições limitadas, parcerias com chefs e artistas. No momento, maturam nos tonéis locais criações feitas com os cozinheiros Thomas Troisgros e Roberta Sudbrack. O pintor e gravador Carlos Vergara está na fila. A fértil usina de ideias do quarteto de donos da Jeffrey, empreendedores cariocas na faixa dos 30 anos, não dá sinais de fadiga. Encontram-se em negociação contratos com uma grande rede de mercados nos Estados Unidos e uma distribuidora de produtos brasileiros na Austrália. Em janeiro de 2016, caixas de garrafas embarcarão para um festival cervejeiro no Japão. Já em discussão, mas embrionário, também está na agenda um acordo com o restaurante dinamarquês Noma, eleito por duas vezes o melhor do mundo, segundo a revista inglesa Restaurant. Esse pato vai (ainda mais) longe.

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