Jardim das delícias

Polo da Érico Veríssimo ganha um restaurante fino a cada seis meses e derruba mais um preconceito relativo à Barra: o de que seus moradores gostam apenas de churrascaria

Por Lais Botelho e Lula Branco Martins
Atualizado em 5 jun 2017, 14h46 - Publicado em 11 nov 2011, 17h00
A filial do Gero, recém-aberta na região: 140 lugares (70% a mais do que no ponto de Ipanema) e movimento acima do esperado
A filial do Gero, recém-aberta na região: 140 lugares (70% a mais do que no ponto de Ipanema) e movimento acima do esperado (Lipe Borges/)
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Aboa mesa carioca, se não está mudando definitivamente de endereço, vem ao menos experimentando um novo caminho: começa a descobrir os encantos e as vantagens de se expandir em direção à Barra da Tijuca. Num movimento silencioso, mas contínuo, restaurantes de grife até então estabelecidos apenas na Zona Sul passaram a erguer elegantes filiais no bairro, uma tendência que começou em 2009 e continua firme. Em paralelo, e muito devido a um mercado imobiliário menos enlouquecido, algumas casas têm optado por fincar suas matrizes diretamente por ali. Resultado: no recanto mais pacato da vizinhança, o Jardim Oceânico, uma rua está se destacando das demais e se transformando em um polo de endereços finos. Trata-se da Avenida Érico Veríssimo.

Mais sofisticada casa italiana da cidade, o Gero, do grupo paulista Fasano, abriu no mês passado uma filial naquele pedaço. Erigido em um terreno de 1 500 metros quadrados, com varanda e jardim interno, o restaurante comporta cerca de 140 pessoas, 70% a mais que o ponto de Ipanema. E com um detalhe crucial: ele foi comprado pela metade do preço que custaria se fosse na Lagoa ou no Leblon. Ou seja, os pratos podem ser requintados, mas a conta é simples ? mais mesas, mais clientes, rotatividade e lucro. “Estamos impressionados com o movimento dessas primeiras semanas”, conta Atagerdes Alves, o experiente maître da grife.

Não é exagero dizer que a matemática financeira exerce profunda influência no interesse do setor pela Barra. Desde os anos 80, um pedaço importante do poder aquisitivo da cidade vem fluindo para a região. Batizada de “emergente”, essa turma, encastelada entre as avenidas Lúcio Costa, Américas, Ayrton Senna e Embaixador Abelardo Bueno, sabe que hoje em dia pode não apenas morar no bairro mas também trabalhar, ir ao cinema, se divertir e comer bem sem ter de deixar seus limites geográficos. De olho nesse mercado, foi inaugurado, em janeiro, na mesma Érico Veríssimo, o requintado Duo, casa de Nicola Giorgio e Dionísio Chaves (sommelier do ano na eleição do guia “Comer & Beber” de VEJA RIO), onde um nhoque não sai por menos de 50 reais. “Estudamos pontos por toda a Zona Sul, mas os valores eram absurdos e os espaços, pequenos”, diz Nicola.

Antiquarius Grill, no Boulevard Gourmet do BarraShopping: um dos pioneiros no bairro
Antiquarius Grill, no Boulevard Gourmet do BarraShopping: um dos pioneiros no bairro ()
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Com ares de Zona Sul, a rua do momento no Jardim Oceânico, com pouco mais de 1 quilômetro de extensão e dividida por um aconchegante pomar (veja o quadro), liga a praia à Igreja de São Francisco de Paula. Ali, o bairro que sempre falou inglês agora está aprendendo um pouquinho de italiano. Há dois meses, mais uma opção de massas surgiu: a pizzaria Fornazzo, no lugar antes ocupado por um restaurante a quilo. Val Santos e Rafael Marinho, seus proprietários, investiram 2 milhões de reais na compra e na reforma do imóvel, e o retorno financeiro já está chegando: são 500 comensais a cada fim de semana, entre eles executivos que moram em condomínios situados à beira-mar. Embora seja uma casa dedicada às redondas, a sofisticação sobressai nos trinta sabores, com destaque para o uso de ingredientes como presunto pata negra e queijo da Serra da Estrela. Val (que antes tocava a Mamma Jamma, no Jardim Botânico) acrescentou também uma carta de azeites com mais de trinta variedades. “Queremos oferecer o melhor, sempre com o atendimento nota 10. Se errarmos na cozinha, as pessoas podem até relevar, mas uma leve descortesia significa que nunca mais voltarão”, explica.

Em um bairro que dobra de população a cada dez anos (está com 250?000 habitantes), existem clientes de todos os perfis, mas um grupo, especificamente, chama atenção. Chefs e restaurateurs atestam que as mesas repletas de engravatados, cena comum nos endereços finos da Zona Sul, vêm dividindo espaço na Barra com outro nicho de público: as famílias. “Muitas senhoras têm vindo aqui para comemorar seu aniversário”, festeja Manoel Pires, maître do Antiquarius. Manoelzinho fala com propriedade, já escolado em modos e manias locais. A versão grill da premiada casa portuguesa do Leblon chegou há três anos ao Boulevard Gourmet, outro centro gastronômico da região. Vive cheia. No estacionamento do BarraShopping, divide a atenção com restaurantes como Zuka (cuja matriz, na Rua Dias Ferreira, é bem menos espaçosa), Le Vin e Garcia & Rodrigues. A área foi o primeiro sopro de sofisticação numa região que costumava se destacar como reduto de boas churrascarias-rodízio. Não mais. Aos poucos, a melhor gastronomia do Rio vai descobrindo e se encantando com a Barra da Tijuca. E o sentimento de satisfação parece ser recíproco.

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