Cadê o eldorado?

Com os atrasos na obra do Comperj, a cidade de Itaboraí não vê o anunciado progresso e sofre com a baixa ocupação de hotéis e condomínios

Por Sofia Cerqueira
Atualizado em 2 jun 2017, 13h09 - Publicado em 23 abr 2014, 17h53
Felipe Fittipaldi
Felipe Fittipaldi (Redação Veja rio/)
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A expectativa gerada foi proporcional à dimensão gigantesca do projeto. Assim que o então presidente Lula pôs os pés em Itaboraí, em março de 2008, para anunciar o começo das obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), a cidade entrou em um ciclo de euforia sem precedentes. Afinal, o município de 225?000 habitantes, que vivia da cerâmica e do cultivo da laranja, foi eleito para abrigar o maior empreendimento da história da Petrobras. Pelos cálculos iniciais, a estrutura, instalada em uma área de 45 milhões de metros quadrados, criaria 200?000 empregos. A partir de então, o que se viu foi uma corrida de investidores para a região, com uma enxurrada de lançamentos residenciais e comerciais, além da chegada de grandes cadeias de lojas e da construção de shoppings e hotéis de padrão internacional. Passados seis anos, porém, a anunciada pujança ainda é um sonho distante. Prometida para 2011 e depois adiada para o ano passado, a primeira etapa da construção do Comperj agora está prevista para agosto de 2016. A segunda fase, esperada para 2018, nem sequer foi aprovada. Apontada como um novo eldorado, Itaboraí está apreensiva quanto ao reluzente futuro. “Os constantes atrasos e as mudanças no projeto têm causado enorme preocupação”, diz o prefeito, Helil Cardozo. “Muita gente investiu aqui. Não queremos virar uma cidade fantasma.”

Felipe Fittipaldi
Felipe Fittipaldi ()

À primeira vista, a Avenida 22 de Maio, a principal do município, impressiona pela quantidade de espigões que estão sendo erguidos. Só a imobiliária Brasil Brookers vendeu 6?500 imóveis desde 2010, quando fincou base na região. Empreendimentos como o Hellix Business Center, com duas torres de 156 salas, 57 lojas, hotel e heliponto, por exemplo, tiveram 90% das unidades comercializadas logo no lançamento. Mas a grande questão é que as obras do complexo petroquímico não avançaram com a mesma velocidade. Diversos condomínios estão entregando as chaves agora, e a mão de obra qualificada e bem remunerada que a indústria em operação atrairia está longe de chegar. Para piorar, muita gente adquiriu uma ou mais unidades com o intuito de lucrar com a revenda ou o aluguel dos imóveis. No entanto, a demanda é pífia e o panorama, desalentador, com vários prédios novos completamente desertos. Dos 160 apartamentos do Mais Reserva Imperial, um dos quatro projetos da construtora Rossi em Itaboraí, cerca de vinte unidades estão habitadas. A situação se repete em outros endereços. “Muita gente se entusiasmou e agora tem um problema na mão”, lamenta o empresário Rotchild dos Santos Mata, que comprou um dois-quartos como investimento e tenta revendê-lo há quatro meses, em vão. “Esta crise está começando e pode se agravar”, avalia Rubem Vasconcelos, presidente da Patrimovel, a maior imobiliária do Rio, que desistiu de abrir um escritório no município. “Suspendemos os planos de um segundo hotel até termos certeza do que vai acontecer”, diz Franck Pruvost, diretor-geral para a América do Sul da Rede Ibis, que inaugurou um estabelecimento de 200 quartos no ano passado, ao custo de 50 milhões de reais. A princípio, apostava-se numa taxa de ocupação na faixa de 80%, mas ela tem chegado no máximo a 50%.

Felipe Fittipaldi
Felipe Fittipaldi ()

De acordo com o planejamento, a expectativa era que o Comperj já estivesse a pleno vapor. Nos últimos anos, porém, a planta industrial sofreu várias alterações. Os cronogramas foram sucessivamente alterados, e ocorreram atrasos devido a entraves no licenciamento ambiental. Houve outros percalços. Empreiteiras como a Delta, envolvida numa rede de escândalos, tiveram de ser substituídas. Isso sem contar as constantes greves de operários, como a que terminou em meados de março, após quarenta dias de paralisação. Segundo a Petrobras, a primeira refinaria, com previsão de entrar em funcionamento daqui a dois anos, será capaz de processar 165?000 barris de óleo por dia. Orçada em 6,5 bilhões de dólares, essa etapa teve seu custo ampliado para 13,5 bilhões. Por meio de sua assessoria, a empresa petroleira afirma que não apresenta problemas de caixa. Diante de tantas dificuldades, resta a moradores e investidores torcer para que a obra saia do campo das promessas e o eldorado vire realidade.

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