Cineclubes do Rio

Filmes nacionais e formato descontraído formam a receita dos cineclubes cariocas

Por Louise Peres
Atualizado em 5 dez 2016, 15h54 - Publicado em 17 nov 2011, 21h12
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cineclub.jpg (Tomás Rangel/)
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Lá se vão 83 anos desde a criação do primeiro cineclube do Brasil. Em 1928 nascia, no Rio de Janeiro, o Chaplin Club, que reuniu figuras de prestígio no ambiente cultural carioca ao promover exibições de filmes seguidas de debates sobre os rumos do cinema da época. Oito décadas mais tarde, a cidade viu sua atividade cineclubista ressurgir com força. Promovidos em sua maioria por estudantes de Cinema, no início dos anos 2000 novos cineclubes vieram para dar visibilidade à efervescente produção nacional e reunir amantes da sétima arte em cinemas, escolas e até no bar. Quase dez anos depois, eles seguem como um movimento cada vez mais forte.

“A atividade cineclubista fluminense voltou a se desenvolver juntamente com a Retomada do cinema brasileiro, e não parou mais de crescer. Só em 2010, foram 493 filmes exibidos em 205 sessões, alcançando mais de nove mil pessoas”, informa Leonardo Oliveira, um dos diretores da Associação de Cineclubes do Rio de Janeiro (Ascine-RJ). Desde sua criação, em 2006, a Associação busca dar representatividade aos cineclubes do estado e já conta com 42 afiliados – 39 deles somente no município do Rio. No entanto, o número de não registrados, de acordo com o mapeamento da Ascine-RJ, chega a 120 cineclubes em todo o Estado. E o número deve subir. No ano passado, após reivindicações do movimento cineclubista, 50 projetos foram selecionados por um edital do Cine Mais Cultura, iniciativa do Ministério da Cultura que fornece equipamento audiovisual de projeção digital, obras brasileiras do catálogo da Programadora Brasil e oficina de capacitação cineclubista aos contemplados.

A fórmula não deixa de ser aquela adotada pelos pioneiros do cineclubismo no Brasil: um mix de exibições de filmes com debates sobre as obras e seus temas. A grande diferença é que, nesta nova geração de cineclubes, o que se produz aqui no Brasil é o foco principal das programações. E as discussões em torno dos filmes acontecem em formatos bem menos formais do que as antiquadas mesas-redondas.

“Tenho um amigo alemão que não acredita como a gente faz, há nove anos, um cineclube só de filmes brasileiros”, diverte-se Karen Black, produtora do Cachaça Cinema Clube, que uma vez por mês lota, desde 2002, os 600 lugares do Odeon. O cineclube, um dos mais representativos desta nova safra, conquistou um fiel público ao instituir, após as sessões, a já famosa festinha com degustação de pingas. “A primeira edição era a estreia de filmes nossos depois que nos formamos, uma coisa meio première, então quisemos servir um coquetel – com cachaça, pra ficar bem brasileiro. O formato deu muito certo, então continuamos realizando”, conta. A festa, para Karen, não impede o debate. Muito pelo contrário: é ela que impulsiona as discussões em torno das obras. “Exibimos filmes não óbvios, investigativos, desafiadores, para cutucar o público, provocar a troca de ideias mesmo. Ao mesmo tempo em que socializam, as pessoas opinam sobre o que viram, conversam, se divertem”, diz.

O ambiente informal também foi, durante cinco anos, o grande barato do cineclube Beco do Rato. Até fevereiro deste ano, as sessões aconteciam no boteco homônimo, que fica na Lapa. “A casa passou a cobrar entrada, e isso foi de encontro a tudo que nós pregamos, que é dar acesso gratuito aos filmes a qualquer pessoa que queira assisti-los. Por isso, preferimos transformar o cineclube em um evento itinerante”, explica o coordenador do cineclube, André Sandino. O Beco do Rato ampliou seus limites e ganhou viés educacional. Por mês, acontecem duas sessões em um ciep no Parque União, no conjunto de favelas da Maré, e duas na quadra do Coroado, na Cidade de Deus – local onde antes da pacificação da comunidade ocorriam bailes funk promovidos pelos traficantes -, além de exibições em outros cantos da cidade, sempre seguidas de debates. “Nossa filosofia continua sendo abrir espaço para a produção nacional, mas também programar filmes com temas relevantes para serem discutidos nesses locais”, diz André.

Em paralelo à onda de cineclubes universitários, grandes instituições culturais também criaram seus próprios ciclos de exibições. Por iniciativa do cineasta e imortal Nelson Pereira dos Santos, a Academia Brasileira de Letras ganhou, há dois anos, um cineclube. Sempre às sextas-feiras, o Cinema na Academia acontece em séries temáticas: literatura no cinema, filmes de suspense e música de filme, por exemplo. No início contemplava apenas produções nacionais, mas hoje já abre espaço para filmes estrangeiros, sempre com a curadoria de Nelson, que busca ainda trazer os realizadores das obras para conversar com o público após as exibições.

Onde assistir

É grande a lista de cineclubes hoje no Rio. Reunimos aqui alguns, com propostas e temáticas variadas. Confira!

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Atlântico Negro

Filmes que abordam a diáspora africana preenchem a programação do cineclube, criado pelo professor de História e Cultura Brasileira Clementino Junior. A ideia era exibir filmes com temática negra para complementar as aulas ministradas por ele em cursos de pós-graduação. O projeto cresceu e virou um cineclube com sessões mensais.

Onde: Tempo Glauber – Rua Sorocaba, 190, Botafogo

Informações em: https://atlanticonegro.blogspot.com/

Entrada: grátis

Beco do Rato

Criado por um grupo de amigos que trabalhavam em uma produtora de cinema na Lapa, em frente ao bar onde aconteciam as sessões. Hoje, o cineclube é itinerante.

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Onde: Por mês, são duas sessões na quadra do Colorado, na Cidade de Deus; duas Ciep no Parque União, na Maré; e em uma terceira, cada vez em um local diferente da cidade. As datas são publicadas no blog do cineclube.

Informações em: https://www.becodorato.wordpress.com

Entrada: grátis

Cachaça Cinema Clube

Uma vez por mês, a mistura de cinema brasileiro e cachaça toma conta do Odeon.

Onde: Odeon Petrobrás – Pça. Floriano, 7, Cinelândia

Informações em: https://www.cachacacinemaclube.com.br/

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Entrada: R$ 14 (inteira); R$ 7 (meia entrada para estudantes e pessoas acima dos 65 anos). O ingresso dá direito às sessões e à festa, que rola até 1 da manhã.

Cine ABL

Com o cineclube, a Academia Brasileira de Letras abre suas portas para os cinéfilos. A curadoria é assinada pelo imortal e ícone do cinema brasileiro Nelson Pereira dos Santos.

Onde: Academia Brasileira de Letras – Av. Presidente Wilson 203, Castelo

Informações em: https://www.academia.org.br/

Entrada: grátis

Cineclube LGBT

Dar visibilidade a filmes brasileiros de temática gay exibidos em festivais e que passam despercebidos em curtas temporadas nas salas de cinema da cidade é o objetivo do cineclube. Ao fim da sessão, djs agitam os cinéfilos.

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Onde: Odeon Petrobrás – Pça. Floriano, 7, Cinelândia

Informações em: https://cineclubelgbt.wordpress.com/

Entrada: R$ 14 (inteira); R$ 7 (meia entrada para estudantes e pessoas acima dos 65 anos). O ingresso dá direito às sessões e à festa.

Cinemaison

O cineclube da Embaixada da França no Brasil promove, sempre às segundas-feiras, sessões com clássicos do cinema francês. Produções franco-brasileiras também entram na programação.

Onde: Teatro Maison de France – Av. Presidente Antônio Carlos, 58, Centro

Informações: https://www.cinefrance.com.br

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