Correr é só um detalhe
Com diversões como pista de dança, malabaristas e até go-go boys, as provas de rua atraem praticantes que querem mais do que só se exercitar
O Aterro do Flamengo virou uma grande pista de dança na noite do sábado passado (24). Eram cerca de 11?000 pessoas, reunidas ali ao som dos hits mais tocados nas boates cariocas. Ao mesmo tempo, lindas malabaristas jogavam claves iluminadas para o alto, enquanto um dançarino, todo coberto com microlâmpadas de LED, fazia uma apresentação performática no meio da multidão. Uma grande parede negra ainda servia de mural para recados escritos com tinta fluorescente. O cenário, que à primeira vista poderia lembrar uma animada festa de música eletrônica, era na verdade o palco para a corrida de rua que estava prestes a começar, a Night Run, já em sua segunda edição só neste ano. “As provas deixaram de ser restritas apenas a um trajeto para se transformarem em grandes eventos, em que cada detalhe é pensado para atrair e divertir o público”, explica Eduardo Rodrigues, da Esfera BR, empresa que até o fim de 2013 terá realizado dezesseis competições esportivas desse tipo na cidade.
Tão variado quanto os tipos de atração oferecidos nessas provas é o perfil dos participantes. De diferentes faixas etárias e níveis de treinamento, há aqueles que levam a coisa a sério, querem cruzar a linha de chegada e ir embora para casa. Outros estão ali em busca de badalação. Dá para reconhecer de longe a turma que põe a curtição em primeiro lugar. É gente que anda anda em bandos e tem gritos de guerra. Em resumo: está ali para “confraternizar”. “Há uns dois meses dei a largada nos treinos e me amarrei no evento. Com certeza farei outras participações nesse mesmo estilo”, diz, animado, o estudante de medicina Alberto Araújo, 20 anos. Para descontraírem no fim do trajeto de 5 quilômetros, ele e o colega de faculdade Gabriel Baptista compraram cervejas de ambulantes e aproveitaram para curtir a noite. Era fácil entender o que motivava a esticada dos meninos. Ao redor, havia grupos de moças com cabelos escovados, olhos pintados de lápis e rímel e camisetas que deixavam à vista a barriga de tanquinho. “Antes da corrida rola aquela troca de olhares, dá para reparar em algum corredor mais bonitinho. Mas depois, com todo mundo suado, não acontece muita coisa”, lamenta a supervisora comercial Luisa do Valle, 30 anos, que estava acompanhada de mais três amigas. Todas produzidas à altura.
O mercado de corridas de rua começou a ganhar força por aqui em meados da década passada. Hoje, são mais de 5 milhões de participantes em todo o país. Essa popularização, que pode ser vista nas praias e pistas da cidade, levou à criação de provas cada vez mais incrementadas ? e segmentadas. No Circuito Vênus, que aconteceu em julho, só se aceitam participantes do sexo feminino. Com direito a mimos variados, as 7?000 inscritas podem fazer as unhas, ver desfiles de moda e frequentar aulas de dança. Tudo no local da competição, que ainda tem go-go boys espalhados pelo percurso. Já na The Color Run, voltada para os jovens, a brincadeira é pintar-se com as tintas em pó distribuídas pela organização. Na última edição, no fim do ano passado, a bagunça foi tão grande que muita gente nem chegou a completar o circuito. Nesse calendário, a próxima corrida a agitar a turma será a Sephora Beauty Run, também exclusiva para mulheres e já com todas as vagas esgotadas. Serão 6 quilômetros do Leblon a Copacabana. Na chegada, o grand finale: as 2?000 atletas poderão desfrutar serviços de beleza, levar para casa produtinhos da marca francesa e saborear comes e bebes naturebas. A corrida, de fato, é apenas um detalhe.