ArtRio chega à 14ª edição com recorde de atrações e extrapola os limites da Marina da Glória

Buscando democratizar o acesso à arte, a feira, que acontece entre os dias 26 e 29 de setembro, se firmou como um dos eventos mais relevantes do setor no país

Por Kamille Viola
Atualizado em 26 set 2024, 12h46 - Publicado em 20 set 2024, 14h51
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ArtRio: feira atraiu 58 000 pessoas na edição do ano passado (./Divulgação)
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Foi em 2009 que a artista visual Brenda Valansi teve um estalo: com várias feiras de arte se espalhando pelo mundo, como é que o Rio de Janeiro, vitrine do Brasil e berço de diversos grandes artistas nacionais, não tinha a sua própria? Surgia ali o embrião da ArtRio, que neste ano chega à 14ª edição, entre os dias 26 e 29 de setembro na Marina da Glória. A feira se firmou no calendário cultural da cidade, tornando-se um dos mais relevantes eventos de arte do país, e não para de crescer: este ano, são cerca de noventa entidades participantes, entre galerias e instituições culturais, divididas pelos mais de 14 000 metros quadrados do espaço, entre área externa e interna. No ano passado, 58 000 visitantes passaram por lá. “Desde o Píer Mauá (onde a feira aconteceu até 2016), a gente tem essa intenção de fazer com que a ArtRio, além de uma feira de arte, seja também um local de encontros, e o Rio de Janeiro é perfeito para isso. A cada esquina que você vai, tem uma vista, uma experiência diferente”, explica Brenda, idealizadora e diretora da ArtRio.

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Brenda Valansi: artista plástica é a criadora da ArtRio (Bruno Ryfer/Divulgação)

Além de atrair a atenção de pessoas que já têm entrada no mundo da arte (os colecionadores), um dos objetivos do evento é contribuir para a formação de público. Por isso, a atuação da ArtRio acontece não só nos quatro dias em que ela ocupa a Marina da Glória. Ao longo do ano, ela realiza o CIGA — Circuito Integrado das Galerias de Arte, um roteiro de visitas aos espaços culturais da cidade; o ArtRio Educação, que leva mostras interativas a shoppings; o ArtRio Social, que promove visitas de alunos de escolas públicas e ONGs a centros culturais; e o ArtRio Convida, com encontros entre figuras do mundo da arte. Diretor artístico do MAM Rio (que também participa da feira), Pablo Lafuente observa que a ArtRio funciona como um catalisador e dinamizador da cena artística da cidade durante o ano todo, mas é durante a semana do evento que mostra toda sua capacidade de mobilização. “As muitas atividades que a feira organiza são amplificadas por outras ações paralelas, organizadas por instituições, artistas, galerias e produtores culturais. Pessoas de fora da cidade se juntam aos locais para visitar a feira e exposições, e participar de eventos. A discussão geral, na mídia e na rua, foca na arte, alimentando processos que continuam até a próxima feira”, enumera ele.

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Para os artistas, a ArtRio pode ser um impulso e tanto na carreira. Nesta edição, por exemplo, mais de 100 colecionadores e curadores convidados, vindos de outros estados e países, estarão presentes. Além disso, desde 2014 a feira realiza o Prêmio Foco, que já contemplou mais de trinta nomes com residências artísticas. Este ano, foram 654 inscritos de 24 estados, e cinco serão selecionados. Nome em ascensão no cenário artístico nacional, Rose Afefé, baiana de Varzedo, no interior do estado, hoje radicada no Rio, venceu a premiação em 2023 e fez sua residência no JA.CA – Centro de Arte e Tecnologia, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG). Lá, concebeu sua obra mais recente, Terra do Pé Vermelho, atualmente exposta na coletiva Por Uma Outra Ecologia: o Que a Matéria Sabe Sobre Nós, no Solar dos Abacaxis. Na residência, ela descobriu que as pessoas da região eram chamadas de “pé vermelho”, devido à coloração da terra. Ela, que tem como sua obra mais famosa Terra Afefé, uma microcidade na Chapada Diamantina, decidiu criar uma nova cidade, imaginária, contando com a ajuda do público para construir tijolos e fragmentos de parede. “Foi bem importante conseguir elaborar esse trabalho, que vai ter continuação por alguns anos. Eu nunca tinha tido a chance de fazer uma residência”, analisa Rose Afefé.

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Rose Afefé: artista baiana ganhou o Prêmio Foco no ano passado (./Divulgação)

Atento aos novos tempos, em que a forma de fruir a arte passou por muitas mudanças, o evento está muito além de uma exposição tradicional, com o público olhando passivamente para as obras. Além de contar com as atrações do Jardim de Esculturas, com obras tridimensionais de grandes dimensões das galerias participantes, os artistas marcam presença e buscam interagir. Nome destaque no cenário nacional, o paulista Jaime Lauriano participou do evento no ano passado com um projeto concebido especialmente para a feira, passou quase todos os dias no estande, atendendo a todos que paravam para conversar, e ressalta a pluralidade do público que vem se formando. “Tem da pessoa que estava correndo nos arredores e entra à que vai especificamente para a feira. Pessoas que vão sabendo quem está lá, as que vão sem saber, que acham que arte contemporânea é uma coisa hermética e descobrem que é só arte feita nos dias atuais, o público internacional, os curadores que a feira convida. É muito rico”, celebra. Jaime venceu o Prêmio Foco em 2016 e fez sua residência na Casa Wabi, na Cidade do México. “Eu tinha uma mostra para fazer naquele mesmo ano, 2017, e a experiência me fez repensar toda a exposição e uma série de trabalhos que vieram nos três, quatro anos seguintes”, recorda.

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Jaime Lauriano: residência que o artista fez ao ganhar o Prêmio Foco mudou seu trabalho (Flávio Freire/Divulgação)

Ao longo do tempo, o evento foi naturalmente se adaptando às mudanças da sociedade, e a diversidade (de raça, gênero e de estado de origem, por exemplo) se tornou mais um fio condutor. Integrante do coletivo indígena Mahku (Movimento dos Artistas Huni Kuin), do município de Jordão, no Acre, a artista e professora universitária Kassia Borges será uma das atrações do programa Brasil Contemporâneo, destinado a artistas residentes fora do eixo Rio-São Paulo. Apesar de já ter participado da Bienal de Veneza, ela reforça a importância de chegar até as feiras locais e celebra o fato de que o cenário no país finalmente esteja se abrindo para os artistas originários. “Em 1994, no Museu de Arte Contemporânea de Copenhague, na Dinamarca, vi uma exposição de indígenas australianos. Fiquei tentando entender: como é que no Brasil, onde sempre estivemos, em todos os lugares, isso não era reconhecido? Está sendo um momento muito importante, de descolonizar”, pontua ela. Para Brenda Valansi, o aumento da diversidade dos artistas que participam da ArtRio foi algo natural. “A arte comunica. Quando a gente traz artistas mulheres, negros, indígenas, eles estão falando a língua deles por meio da arte. Isso é uma das coisas mais sensacionais que existem”, comemora ela.

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Kássia Borges: artista celebra a entrada de indígenas no mercado da arte (./Divulgação)
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SAIBA MAIS

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Cinco atrações para curtir na ArtRio

– O Panorama reúne as galerias com atuação estabelecida no mercado de arte moderna e contemporânea, tanto do Brasil quanto de outros países, trazendo obras de grandes nomes.

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– Brasil Contemporâneo é a área destinada a artistas residentes fora do eixo Rio-São Paulo, representados prioritariamente por galerias do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul.

– Na parte externa da Marina da Glória, o Jardim de Esculturas apresenta obras tridimensionais de grandes dimensões das galerias participantes dos programas da feira.

– Debates e discussões com a participação de curadores, artistas, colecionadores e críticos de arte acontecem no palco do Conversas ArtRio.

– Pelo site da ArtRio, é possível acessar a agenda do Respirando Arte. Em 2023, a programação cultural na semana da feira somou mais de 100 eventos paralelos.

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Marina da Glória. Avenida Infante Dom Henrique, s/nº. 26, 28 e 29 de setembro, 13h/21h. 27 de setembro, 12h/20h. R$ 40,00 a R$ 80,00. Ingressos pelo site da ArtRio.

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