Bienal do Livro chega aos 40 anos reinventando o conceito de feira

Em meio a um mundo hiperconectado, evento se renova para oferecer experiências em diversos formatos e linguagens de narrativas para atrair o público

Por Kamille Viola
Atualizado em 1 set 2023, 11h04 - Publicado em 18 ago 2023, 06h00
O festival da leitura: 600 000 pessoas são aguardadas durante os dez dias de Bienal
Bienal do Livro: 600 000 pessoas são aguardadas durante os dez dias do festival da leitura (Fernando Souza/Divulgação)
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Na década de 1930, o best-seller A Vida Começa aos Quarenta, do filósofo e psicólogo americano Walter Pitkin, chamou atenção para o leque de oportunidades e desafios que se abriam nesse marco etário da vida humana. É com tal espírito que a Bienal do Livro estreia sua edição de 2023, justamente a quadragésima de sua história, entre 1º e 10 de setembro, no Riocentro, na Barra. A meta do evento quarentão é magnetizar leitores em uma sociedade cada dia mais acelerada e fascinada pelas telas. A percepção dos organizadores era de que, para o evento se manter atraente, não dava para se aferrar ao tradicional modelo, limitado a estantes de livros e sessões de autógrafos, mas era preciso proporcionar experiências variadas a um público de distintas idades.

Com mais de 300 autores e personalidades de outras áreas envolvidos em mais de 200 horas de programação, as atividades abrangem diferentes formatos e linguagens — do audiovisual ao teatro, da música aos games, com o plano de levar 600 000 pessoas para lá. O livro, claro, segue no protagonismo. “A nova Bienal será uma experiência imersiva nas histórias, nas narrativas. Preparem-se para entrar na Disney da leitura”, avisa Tatiana Zaccaro, diretora da GL Exhibitions, à frente da Bienal ao lado do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel).

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Bienal remodelada: experiências imersivas nas histórias são a aposta da diretora Tatiana Zaccaro
Bienal remodelada: experiências imersivas nas histórias são a aposta da diretora Tatiana Zaccaro (Marcio Mercante/Divulgação)

Citado pela primeira vez em um artigo dos pesquisadores americanos Joseph Pine e James Gilmore, em 1998, o conceito de “economia da experiência”, muito em voga nos dias de hoje, defende que as empresas devem seguir a trilha da promoção de momentos únicos, gerando emoções memoráveis para atrair uma plateia fiel. Nos corredores da Bienal, esse é o propósito, por exemplo, do projeto Páginas no Palco, que acontece no espaço Café Literário e contará com grandes nomes do teatro, como Vera Holtz, Cláudia Abreu e Beth Goulart, em performances, leituras e monólogos adaptados de obras literárias.

No Páginas na Tela, com curadoria da escritora, diretora e produtora Rosane Svartman (autora da novela Vai na Fé, sucesso na Globo), voltado para as narrativas audiovisuais, vão ocorrer discussões sobre livros que deram origem a filmes, novelas, séries e minisséries. “Muita gente acha que não é leitora. Mas se você joga videogame, assiste a uma série, tem uma história aí, só que num dispositivo diferente do livro”, pontua Tatiana Zaccaro.

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Outra aposta desta edição são os autores do gênero young adult (jovem adulto), que escrevem sobre temas dedicados a adolescentes, como dúvidas quanto ao futuro, descoberta da sexualidade, problemas entre amigos e nos relacionamentos. Muitos desses autores hoje dialogam com as redes sociais, o que faz com que cultivem forte apelo entre gerações que já cresceram em um mundo inteiramente digitalizado.

São nomes como as americanas K.L. Walther, de Uma Tempestade de Verão (Rocco), repleto de referências a músicas da cantora pop Taylor Swift e sucesso no TikTok (por sinal, um dos patrocinadores da Bienal neste ano), e Lynn Painter, de Melhor do que nos Filmes (Intrínseca), outro que vai bem no aplicativo de vídeos. “A Bienal é um local de encontro para essa comunidade leitora desses escritores que estão sabendo usar a tecnologia a seu favor”, observa Martha Ribas, da Lerconecta, responsável pelo espaço infantil imersivo, batizado de A Grande Aventura Leitora.

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Os escritores Clara Alves, Mateus Baldi e Stephanie Borges: jovens talentos na curadoria
Os escritores Clara Alves, Mateus Baldi e Stephanie Borges: jovens talentos na curadoria (Monica Ramalho/Divulgação)

Difícil não se divertir nos 600 metros quadrados de área inspirados no clássico Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Nele, dezoito célebres personagens da literatura brasileira irão se reunir para celebrar os 60 anos da Mônica, icônica personagem dos quadrinhos de Mauricio de Sousa, tendo o Chapeleiro Maluco como mestre de cerimônias e, quem diria, também DJ. O lugar foi pensando para a chamada geração alfa, tecnicamente os nascidos de 2010 para cá, a primeira que surgiu em um mundo já digital, imersa no universo virtual.

Uma pesquisa conduzida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic) apontou que 93% dos brasileiros entre 9 e 17 anos usam a internet. O desafio então era planejar um lugar em que essas pessoas pudessem criar um vínculo com o livro. Primeiro passo: dissolver a fronteira entre o on e o off-line, um muro que não faz sentido nenhum para esses adolescentes. Criou-se aí o conceito de “leituras elásticas”, que orienta toda a Bienal. “Em vez de fazer uma linguagem versus a outra, buscamos mesclá-las, tendo o livro no centro, para que esse leitor tenha interesse em navegar por todas as plataformas”, explica Carolina Sanches, da Lerconecta.

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A editora Martha Ribas, da Lerconecta: tecnologia como aliada para atrair o público infantil
A editora Martha Ribas, da Lerconecta: tecnologia como aliada para atrair o público infantil (Monica Ramalho/Divulgação)

O coletivo curador formado pelos autores Clara Alves, Mateus Baldi e Stephanie Borges, que pilota os espaços Café Literário e Palavra-Chave, oferecerá conversas com autores a respeito de assuntos da atualidade, outra novidade desta edição. A ideia foi trazer novos talentos, com menos experiência em curadoria, para levar um frescor à programação e dialogar com o público jovem — cada vez mais relevante para o mercado editorial.

O trio foi em busca de diversidade em grau máximo em todos os debates. “Por exemplo: em vez de você ter a pessoa de literatura LGBT ou negra falando especificamente sobre esses temas, a gente quer que haja pessoas negras, da comunidade LGBT na curadoria do espaço de quadrinhos, de política, etc.”, explica Bruno Henrique, gerente de marketing da GL Brasil. Os autores, relatam os organizadores, adoraram poder, eles próprios, se desprender dos assuntos que mais os afetam e poder voar no inesgotável mundo do livre pensar. Como se vê, os 40 vêm acompanhados de uma bem-vinda dose de renovação.

Muito além do papel
As novas atrações da Bienal 2023

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A Grande Aventura Leitora
A Grande Aventura Leitora: desafio de atrair a atenção da geração alfa, nascida em um mundo hiperconectado (./Divulgação)

A Grande Aventura Leitora
A área imersiva terá cenários instagramáveis, com direito a bolo (cenográfico) para os 60 anos da Mônica. Contação de histórias e exibição de filmes estão entre as atrações

Em Primeira Pessoa
Novidade do Café Literário, o projeto Em Primeira Pessoa, semelhante ao TedTalks, trará autores consagrados para conversar com o público. Os escritores Conceição Evaristo e o Ailton Krenak fazem parte da programação

Jovens adultos
(./Divulgação)
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Jovens adultos
Diversos autores desse nicho estão na programação, a exemplo de Lynn Painter (Melhor do que nos Filmes), Neal Shusterman (O Ceifador), Cassandra Clare (Os Instrumentos Mortais) e Julia Quinn (Os Bridgertons)

Entra na Roda
Jenna Evans Welch: autora faz sucesso no nicho yong adult, um dos focos da Bienal, com o best-seller Amor & Gelato (Intrinseca/Divulgação)

Entra na Roda
Atração do espaço Palavra-Chave, tem formato inspirado no programa Roda Viva, com autores como Jenna Evans Welch (Amor & Gelato) e Abdi Nazemian (Tipo uma História de Amor) no centro dos entrevistadores

Ao vivo
Atendendo a uma demanda do pós-pandemia, o evento terá um maior aproveitamento da área externa, que pela primeira vez terá telões com exibição das atividades em tempo real

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