Calainho: “O Blue Note ajuda a resgatar o glamour da Avenida Atlântica”

Empresário inaugura nesta quinta (5) mais uma empreitada, a nova encarnação do Blue Note Rio, com vista para a Praia de Copacabana

Por Kamille Viola
Atualizado em 4 out 2023, 15h35 - Publicado em 4 out 2023, 14h00
Luiz Calainho sorri. ELe usa óculos e camisa preta com casaco preto, e está sobre um fundo cinza escuro.
Luiz Calainho: empresário está à frente do Blue Note Rio, que abre as portas nesta quinta (5) (./Divulgação)
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Depois de uma experiência em outro endereço entre 2017 e 2019, Blue Note Rio se prepara para abrir as portas nesta quinta (5), agora de frente para um dos cartões-postais da cidade e do país: a Praia de Copacabana. Empolgado, o empresário Luiz Calainho, um dos sócios à frente da empreitada, defende que a casa de shows pode ajudar a Avenida Atlântica a recuperar o glamour de outrora.

“Eu acredito que outros empresários podem, da mesma forma que e eu meus sócios, se entusiasmar para voltar a investir em alta excelência lá”, diz, contando que recebeu um telefonema de Ricardo Amaral, empresário da noite que marcou época, falando do potencial do lugar para resgatar a aura elegante da região. Entre as atrações agendadas, estão João Bosco Trio, Hermeto Paschoal, Azymuth e The Martin Pizzarelli Trio.

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O novo endereço da franquia carioca da famosa casa nova-iorquina, na Avenida Atlântica, 1910, quase esquina com a Rua República do Peru, é cheio de história. Ali, nos anos 50, funcionou o mítico restaurante Bolero, um dos pontos de encontro mais concorridos da noite carioca. Na década seguinte, entrou em decadência, se transformando em um inferninho.

Mas continuou tendo o que contar: em 1970, recebeu ninguém menos que Janis Joplin em seu palco, e serviu de cenário para o filme Sem Essa, Aranha (1970), de Rogério Sganzerla. Outros empreendimentos passaram por lá, sendo o mais recente a casa de shows Copa Bacana, aberta em 2022. Mas o Blue Note, garante Calainho, chega ao endereço “para nunca mais sair”.

VEJA RIO: O novo Blue Note vai ser de frente para a Praia de Copacabana, um ícone internacional. Para você, qual a importância de ser nesse lugar?

Luiz Calainho: Absolutamente mágico esse lugar. A essência do Blue Note Rio, no lugar da excelência da música, da gastronomia — que vai privilegiar a gastronomia dos anos 60 e 70 —, daquela atmosfera intimista, essa grande alma do Blue Note permanecerá existindo mais pulsante, mais vibrante do que nunca. Mas de fato esse lugar é muito icônico. A gente está falando de uma das praias mais conhecidas no mundo, de uma das avenidas mais reconhecidas no mundo, que é a Avenida Atlântica. A gente está falando do oceano Atlântico a metros do palco do Blue Note Rio. Inclusive, de dentro, você vê o mar. Isso tem um emblema muito grande. Parte importante da música do Brasil nasce naquela praia. Tudo que aconteceu no Copacabana Palace, a casa do pai da Nara [Leão], que ficava ali no Posto 6, o Beco das Garrafas ali em Copacabana também, isso tem um emblema muito grande. Para mim também: eu sou brasileiro, mas nasci em 1966, o meu pai trabalhava fora, e em 1969 a gente volta para o Brasil, e eu vou morar exatamente em Copacabana, na Domingos Ferreira. Eu não tenho dúvida: em um ano, o Blue Note Rio vai se transformar em algo muito reconhecido no planeta. Inclusive porque não há no mundo país com a diversidade artístico-musical que o Brasil tem. Então, não bastasse isso tudo, você ali, naquele lugar histórico, mágico, você também ouvir belas performances de jazz, MPB, samba raiz, pop, bossa nova. De fato, o entusiasmo é imenso por esse lugar para onde o Blue Note Rio volta para nunca mais sair.

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Então a curadoria vai ser uma aposta na diversidade musical brasileira?

Sem dúvida. Quando eu começo a conversa com a família Bensusan, que é proprietária da marca -—em 2015, fui algumas vezes a Nova York, alguns grupos, inclusive, já haviam tentado trazer o Blue Note para o Brasil, mas não tinham logrado sucesso —, desde sempre, falei: é claro que a gente vai estar no jazz, no blues e no pop, que é a diversidade artística inclusive que o Blue Note tem não só em Nova York, mas no mundo. Mas eu fiz questão de frisar que aqui no Brasil a gente tem — eles sabem disso, evidentemente — uma pluraridade muito gigantesca, muito rica e que a gente teria que ter no palco do Blue Note Rio samba raiz, a bossa nova, a MPB, essa pegada tão poderosa dessa identidade brasileira da nossa música. Eles super toparam e hoje são apaixonados pela diversidade artística que só o Blue Note no Brasil — São Paulo, e agora o Rio — tem. Inclusive abrindo espaço para novos talentos em dias alternativos, como segunda ou terça.

Esse endereço foi um restaurante emblemático nos anos 50…

Foi o Bolero. Onde Janis Joplin cantou, inclusive.

Quando a Janis Joplin cantou, já era uma fase diferente, já era um inferninho, não tinha mais aquele glamour. Você falou da pegada da gastronomia dos anos 60 e 70. A ideia é trazer aquela aura de glamour de Copacabana de antigamente?

A Avenida Atlântica tinha, de fato, altíssimo glamour. Nos anos 50 e 60, depois de Paris, a cidade que mais consumia champanhe no mundo era o Rio de Janeiro. Tem a ver com aquele glamour, claro, da Avenida Atlâtnica, de Copacabana. Já havia evidentemente o Copacabana Palace. Ao longo dos últimos anos, outros hotéis de alta excelência, o Fairmont, o Emiliano mais recentemente, estão pintando. Mas operações de gastronomia com música etc., você outras lá, mas elas não estao exatamente com esse posicionamento que terá o Blue Note Rio. Mais ou menos uns 40 dias atrás, o nosso Ricardo Amaral — um dos grandes precursores do entretenimento de excelência, das coisas de alta qualidade, ele vem lá dos anos 60, 70, é um absoluto gênio, um grande professor para todos nós, é um grande amigo hoje —, ele me telefona para dizer: “Estou te ligando para te dar meus parabéns, mas sobretudo para te dizer que o Blue Note Rio nesse endereço tem um punch, ele certamente tem a força para recuperar o glamour da Avenida Atlântica lá dos anos 50, 60″. Eu acredito que outros empresários podem, da mesma forma que e eu meus sócios, se entusiasmar para voltar a investir em alta excelência lá. Quem sabe, daqui a dois, três ou quatro anos, a gente vai estar conversando novamente, e aí voltaremos para agora: “Que legal, o Blue Note Rio começou ali, a partir dele se iniciou o processo do retorno do glamour que a Avenida Atlântica teve lá atrás”. Eu realmente acredito nisso.

O Blue Note já teve uma encarnação antes no Rio (ficou dentro do Lagoon, de 2017 a 2019, ia reabrir em Ipanema 25 de março de 2020, mas veio a pandemia) e chegou a ter uma questão de contas, não funcionou muito lá. O que vai ter de diferente agora que te deixa entusiasmado?

Infelizmente, quando nós iniciamos a operação lá no Lagoon, teve a não exatamente feliz coincidência de casar com a intervenção militar que o Rio de Janeiro sofreu naquela época. Foi um período de imensa insegurança, de imenso problema com relação ao poder público etc. A gente enfrentou problemas extras, para além do que a gente poderia prever. De fato, ainda que o público estivesse feliz, os artistas etc., não foi, sob o ponto de vista econômico, uma operação que tenha efetivamente gerado os resultados esperados. Razão pela qual a gente fechou e começou todo um processo de mudança. Até porque a gente precisava passar aquele período, que foi muito complexo. Qual a diferença para hoje em dia? Primeiro, o Blue Note São Paulo é um verdadeiro fenômeno. A gente essencialmente é sold out de segunda segunda. Muitos paulistanos vêm para o Rio e perguntam do Blue Note Rio. Assim como muitos brasileiros que vão a São Pauo perguntam também. Assim como muitos cariocas que ficam na ponte aérea e frequentam o Blue Note São Paulo perguntavam sobre o do Rio. Primeiro, um fenômeno chamado Blue Note São Paulo. Depois, um certo clamor das pessoas pela volta do Blue Note Rio. E também porque o Rio de Janeiro está vivendo uma fase muito vibrante. O pós-pandemia deu muita força ao Rio de Janeiro. O Noites Cariocas, que acontece no Morro da Urca, faz parte do nosso grupo também. A gente fez duas temporadas no pós-pandemia, está indo pra terceira: sold out todas as noites. Fazem parte do nosso grupo três teatros: o Riachuelo, o Prudential e, mais recentemente, a Ecovilla Ri-Happy: sold out direto. Fora isso, vários restaurantes surgiram. O Rio está muito pulsante. A taxa de ocupação dos hotéis, muito alta. Essa vibração do Rio está numa ponta oposta ao que a gente viveu lá atrás, quando do início do Blue Note. E também o lugar, de alto volume de pessoas, com muitos hotéis na região.

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Quando o Noites Cariocas estava para fazer a estreia pós-pandemia, em março de 2022, você me deu uma entrevista falando que a sua expectativa para a volta da cultura e do entretenimento era a melhor possível, que você estava muito empolgado. Quase dois anos depois, ainda tem essa visão? A expectativa se cumpriu? Superou?

Superou e muito, é impressionante. Eu tenho dito nas conversas: é claro que ninguém gostaria de pandemia, por todas as razões, sobretudo pelos óbitos, todo o sofrimento no Brasil e no mundo. Então eu sempre faço essa ressalva. Dito isso, eu entendo que a pandemia trouxe dois fenômenos. No momento que você estava lá, isolada em casa, qual foi sua grande válvula de escape? A música, o cinema, as lives, o teatro até em lives. De uma maneira geral, todas as pessoas. E muitas pessoas que, até então, não eram exatamente conectadas à arte, à cultura — e não tem juízo de valor com relação a isso. Muita gente preferia ir para a praia, para o bar, assistir a um jogo de futebol. Com a pandemia, eu entendo que houve uma amplificação exponencial de público. O primeiro fenômeno foi amplificar a audiência do mundo das artes, da cultura e, sobretudo, da música. O segundo fenômeno foi que as empresas patrocinadoras também perceberam, a partir da pandemia, a importância que a arte, a cultura, a música têm, no sentido de devolverem para o mercado, para as cidades, para os consumidores, conteúdo vivo, para além da publicidade — que segue sendo fundamental —, através de festivais, nos patrocínios, nos apoios, nos naming rights. Então olha que legal: de um lado você ampliou o público, de outro você tem mais empresas patrocinando e, portanto, viabilizando a realização de festivais, casas de shows. Na minha visão, é isso que explica esse verdadeiro fenômeno da retomada pós-pandemia. Tanto que a minha expectativa não se concretizou: o que está acontecendo está muito além do que eu poderia imaginar. É impressionante. Os meus negócios estao sempre sold out. E, eu obviamente, conheço muitos empresários, e isso que eu estou dizendo é unânime.

Você investe na música, teatro, atividades infantis. Tem alguma área em que você ainda não atue e que pense para o futuro? Ou algum próximo projeto vindo que possa adiantar?

A gente vai começar a investir no audiovisual, através do selo Aventura Imagem, a partir do ano que vem. Vamos gravar os nossos espetáculos com uma linguagem audiovisual. São produções muito grandes, e a gente quer amplificar isso para as plataformas de streaming. Além de todos os espetáculos que estao previstos, os projetos da minha gravadora, Musickeria — a gente está lançando o Sambabook da Beth Carvalho ano que vem, o Rockbook da Rita Lee, tem uma série de projetos. O Sambabook tem uma jornada longa: João Nogueira, Dona Ivone Lara, Zeca Pagodinho… E a gente decide gravar a plataforma com foco em rock, e aí, por óbvio Rita Lee seria a primeira celebrada. Nós fechamos com Rita ainda em vida, ela abençoou, ela assinou o contrato. Infelizmente ela nos deixou, mas o primeiro rockbook teria que ser com ela. E a cada ano, ou a cada dois, a gente vai lançar um rockbook. A gente vai gravar em São Paulo. Convidando grandes artistas para interpretar pelo menos 24 canções, tudo é filmado, você tem um livro discobiográfico, tem o fichário de partituras, todo o ambiente digital. Estou entusiasmado com 2024. A gente está chegando no finalzinho, 2023 foi exuberante, mas 2024 será ainda mais.

Blue Note. Avenida Atlântica, 1910, Copacabana. Abertura: Quinta (5), 20h e 22h30. R$ 60,00 a R$ 160,00. Ingressos pelo Show Pass. Programação completa no site da casa.

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