“O Brasil me fornece um caldeirão de influências musicais”

Vencedora de quatro premiações do Grammy, a cantora e contrabaixista americana se apresenta com os músicos brasileiros Chico Pinheiro e Lourenço Rebetez

Por Cibele Reschke
Atualizado em 5 dez 2016, 12h34 - Publicado em 21 nov 2014, 15h43
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esperanza_spalding (Divulgação/)
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O Rio de Janeiro amanheceu ensolarado para receber Esperanza Spalding, cantora e contrabaixista natural do Oregon, Estados Unidos, que aos 30 anos é aclamada como um dos maiores nomes do Jazz internacional. Na noite desta sexta (21), a artista vai dividir o palco do Vivo Rio com os músicos Chico Pinheiro e Lourenço Rebetez, em um show único promovido pela Vivara, rede de joalherias. No sábado e domingo da outra semana, ela se apresenta em São Paulo. “Ensaiamos muito para esse show, queremos entregar nosso melhor para o público”, diz Esperanza. Visita frequente no Rio, a cantora não esconde sua paixão pela cidade. “Sinto que há uma qualidade mítica na música carioca, por influência dos compositores incríveis que vivem por aqui.”

Depois de desbancar Justin Bieber, astro pop mais cotado para o prêmio de artista revelação no Grammy de 2011 – sendo a primeira cantora de jazz agraciada pelo prestigioso reconhecimento na categoria, Esperanza recebeu, em janeiro de 2014, seu quarto Grammy. Em outras vindas ao Brasil, a musicista trabalhou com outros artistas nacionais, como Milton Nascimento e Guinga. Confira a entrevista que ela concedeu à VEJA RIO:

VEJA RIO – O que você pretende mostrar no show de hoje e o que espera do público?

ESPERANZA SPALDING – O Brasil é um dos meus lugares favoritos, sem dúvidas. Eu e a banda toda nos preparamos muito para esse momento, nos encontramos muitas vezes em Nova York para ensaiar. Como só temos três apresentações desta vez, queremos entregar o nosso melhor. Temos muito a dizer. Espero que o público nos ajude com boas energias.

As suas músicas têm um sutil toque brasileiro e, mais especificamente, carioca. Como o clima da cidade inspira as suas criações?

Eu amo o Rio. Sinto que há uma qualidade mítica na música carioca, por influência dos compositores incríveis que vivem por aqui. O Brasil me fornece um caldeirão de influências musicais, como Cartola, Tom Jobim e Milton Nascimento, que são muito diferentes entre si, ou ainda como os ritmos nordestinos, que não têm nada a ver com o samba carioca. Essa diversidade é muito inspiradora.

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Com tantas misturas e referências diversas no seu trabalho, você acha justo ser enquadrada em uma única categoria musical?

Eu amo Jazz, é o estilo que eu mais estudei. Já toquei com grandes nomes desse ramo e planejo fazer isso para o resto da minha vida. Mas devo admitir que alguns dos meus trabalhos não se encaixam exatamente na categoria “Jazz”. Eu guardo referências diferentes para ter mais opções de expressão artística. Prefiro não me limitar.

Qual é o seu compositor brasileiro favorito?

Eu não tenho um favorito. Sou próxima de Milton Nascimento, já estudei muito o trabalho dele. Mas também admiro Hermeto Pascoal, Villa Lobos, Tom Jobim, Djavan e Guinga. São tantas pessoas talentosas que eu me sinto até envergonhada por não citar mais nomes. O Guinga é um dos maiores gênios da nossa geração, espero que os brasileiros reconheçam isso.

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Você também se vê como um dos maiores nomes de sua geração?

Me considero uma estudante. Somos todos estudantes, não há limites para o acúmulo de conhecimento. Não estou tentando ser modesta, mas tenho muito a aprender com todos os profissionais brilhantes que passam pela minha vida. É claro que aprendizes como eu também podem ser grandes artistas, ensinar e inspirar pessoas.

Mas depois de vencer quatro Grammys, além de outras premiações internacionais, você não acha que merece ser comparada a outros gênios da música?

Sou uma jovem cantora em crescimento, principalmente no mundo do Jazz, onde há cantores que são verdadeiras instituições. Eu poderia citar Diane Reeves, Cassandra Wilson, Gregory Porter, Carmen Lundy, Nancy King, Nnenna Freelon, Dee Dee Bridgewater, entre tantos outros. Essas pessoas trabalharam duro pelo Jazz e abriram caminho para que pessoas como eu pudessem crescer e aparecer. Não acho justo ser considerada a mais importante cantora do ramo. Mas eu aceito o reconhecimento pelo meu trabalho, que me orgulha muito. Sou contra essa cultura que valoriza os novos rostos e esquece os antigos. É triste ver como as pessoas, em geral, esquecem tão rapidamente dos artistas.

Você tem medo de ser esquecida?

Não. Se você faz um trabalho relevante, que valha a pena, os músicos, assim como o público que se importa mesmo com a arte criativa, sempre lembrarão de você. E são essas as pessoas que eu quero manter por perto.

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