Juntos e misturados: festivais promovem encontros inéditos no palco
Tendência é impulsionada pelo sucesso das parcerias musicais e pela busca em oferecer experiências inéditas para o público; Doce Maravilha aposta no formato
Ao longo de seus quase quarenta anos de carreira, Marisa Monte só dividiu o palco com Ney Matogrosso uma vez, há dois anos. Agora, os fãs terão a chance de conferir essa dobradinha de peso novamente no Doce Maravilha, que acontece de 26 a 28 de setembro, no Jockey, na Gávea. Uma das principais atrações é, justamente, a rara dupla — os ingressos para esse dia estão esgotados. Na programação, aliás, chama a atenção a quantidade de shows que reúnem grandes nomes da nossa música, como o que traz Zeca Pagodinho convidando Alcione e Martinho da Vila, e o de Pretinho da Serrinha recebendo João Bosco e Paulinho Moska.
“O encontro nos dá a chance de navegar no repertório do outro, e isso traz um frescor para quem está assistindo, que na maioria das vezes já tem uma ideia do que vai ouvir”, elogia Pretinho. Moska conta que já tocou com os dois separadamente, mas será a primeira vez dos três juntos. “Isso me deixa com aquele frio na barriga, de apresentar algo único e bem-feito. E o público sabe que vai ter um momento especial, exclusivamente preparado para aquela noite”, reflete ele, que, nos onze anos em que apresentou o programa Zoombido no Canal Brasil, recebeu 276 convidados.
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O evento segue uma corrente que vem ganhando força nos últimos tempos: a dos encontros nunca antes vistos no palco. Se reuniões entre representantes da música brasileira sempre existiram, o que prevalece atualmente é que, muitas vezes, nomes de diferentes gêneros musicais se juntam, uma tendência que ganhou força primeiro nos feats (gravações com participações especiais) e fez tanto sucesso que acabou extrapolando as playlists.
“Essas sacadas aumentam a atratividade do cantor ou da banda, mos- tram a capacidade de inovar e de se reinventar”, analisa Marcelo Flores, coordenador do curso de pós-graduação em gestão de eventos, experiência e entretenimento da ESPM. “Quando essa colaboração é inédita, há ainda mais impacto, porque surpreende fãs que nunca imaginavam que poderia acontecer uma união entre o artista A e o artista B”, pontua ele. Apostando nesse ineditismo, os festivais geram mais interesse do público, vendem mais ingressos e garantem bastante compartilhamento das performances nas redes sociais, observa o especialista.
Um dos pioneiros a apostar nesse formato como marca registrada foi o Palco Sunset, do Rock in Rio. Criado em 2008, em Lisboa, o espaço chegou ao Brasil na edição de 2011, trazendo junções inesperadas. Entre elas, Sepultura e Zé Ramalho; Martinho da Vila, Cidade Negra e Emicida; Iza e Alcione; e Ana Cañas e Hyldon. “No início, havia um desconforto em quem recebia o convite para participar. Os artistas não queriam arriscar logo no Rock in Rio, um projeto gigante. Hoje, a abertura é muito maior”, pontua Zé Ricardo, vice-presidente artístico da Rock World, empresa responsável pelo festival. “O Sunset vem deixando um legado, porque o mais importante é promover momentos dos quais as pessoas não se esqueçam. E ele tem isso: shows memoráveis”, defende.
Os encontros caem como uma luva na era da experiência, em que criar cenas marcantes para os espectadores é o principal objetivo. “Com isso, o evento constrói narrativas fortes para surpreender os frequentadores, cada vez mais exigentes. As colaborações proporcionam um momento exclusivo e, no fim das contas, o entretenimento diz respeito a vivências que tocam o coração”, pondera Marcelo Flores, da ESPM. A união, definitivamente, faz a força.
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