Isabel Teixeira estreia monólogo sobre o fim da vida
Dirigida por Marcus Caruso, atriz interpreta o último texto da dramaturga Jandira Martini (1945-2024) até 1º de setembro
Um diagnóstico inesperado desencadeia o maior dos dramas humanos, que a todos iguala: a tomada de consciência da finitude, da fragilidade humana e do inevitável confronto com a morte. Dirigida por Marcos Caruso, Isabel teixeira estreia nesta sexta-feira (9), no Teatro das Artes, o monólogo JANDIRA – em busca do bonde perdido, sobre a transitoriedade e vulnerabilidade, mas, para além disso, uma narrativa de paixão pelo próprio ofício, pelas pessoas, vivências e, sobretudo, uma declaração de amor à vida.
O texto inédito, uma autoficção, é da dramaturga Jandira Martini (1945-2024), com quem Caruso trabalhou por uma vida inteira escrevendo para o teatro e a TV. A peça convida o público a um passeio pelas memórias mais marcantes da autora através de um texto direto, enxuto e coloquial, evocando os blocos carnavalescos da cidade de Santos – sua terra natal -, as descobertas da infância, momentos dramáticos, a vida dedicada ao teatro. “Uma peça que fala de uma dor de todos nós, com um grau elevado de bom humor e poesia”, celebra Caruso. Em seus momentos mais difíceis, a personagem/narradora busca socorro nas palavras e pensamentos de Molière, Machado de Assis, Oscar Wilde, Shakespeare e outros deuses da escrita, sua grande paixão.
Como a peça aborda a temática do fim? Isabel Teixeira: Tem uma frase do Machado de Assis que a Jandira cita na peça: “O destino soará suas trombetas, de nada adianta nos fazermos de surdos ou desentendidos”. Cada um tem a sua hora e vez. É Tchecov, também: “Daqui a 100 anos não estaremos mais aqui, ninguém”. Estamos de passagem, é finito, então a percepção disso é que dá medo. A percepção disso, e depois o acolhimento disso, é real, faz com que aconteça uma mágica da presença, do estar aqui, agora, vivendo cada segundo. A gente às vezes fica muito perdido
Qual a reflexão a partir desta consciência? Isabel Teixeira: A conta que você tem que pagar, os problemas familiares, as coisas que nos atravessam, socialmente, inclusive, isso que está fora do nosso controle e a gente vai sendo acachapado um pouco por uma tormenta meio louca. E no centro dessa atormenta tem um silêncio, uma paz, que é o presente, que é estar aqui agora. A peça fala sobre isso, às vezes vem um diagnóstico que coloca na nossa cara a nossa finitude, o que é que a gente faz? Vamos celebrar o agora. O que é que precisa ser feito? Vamos fazer, mas estando presente aqui e agora.
Como foi o processo dos ensaios? Isabel Teixeira: Teatro é arte da presença, então, todo o processo, toda a sala de ensaio, foi uma coisa tão rica, não daria para descrever. A gente falou muito sobre a finitude mas falou muito sobre a celebração do presente, sobre ver a vida com humor. E deixar tudo mais leve. E isso não é fácil. É um exercício diário e perpétuo até o último respiro da gente aqui. E talvez a gente nem aprenda, só talvez no último segundo. Mas só o exercício do caminho, de exercitar a presença, só isso já é um um bom caminho. O exercitar já é um bom caminho. Para mim, é uma alegria fazer o que eu estou fazendo, é uma alegria estar aqui viva, é uma alegria estar podendo falar, celebrar uma pessoa e contar uma história. E celebrar o presente para quem vem assistir.