Os clientes mais que fiéis das livrarias cariocas

Conheça leitores que não abrem mão da sua loja favorita. Campanha #tudocomeçanalivraria convida público a registrar suas histórias

Por Tatiana Abreu
18 nov 2020, 16h41
Rodrigo Tupinambá na Blooks de Botafogo: engajado pela “sobrevivência dos lugares que amamos (Rodrigo Tupinambá/Divulgação)
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Cliente fiel da Blooks desde que abriu, em 2009, na Praia de Botafogo, o psicanalista Rodrigo Tupinambá, de 40 anos, costumava comprar livros lá pela combinação livraria-cinema-café. De tanto frequentar, criou um laço de amizade com a dona, Elisa Ventura. Em julho, telefonou para Elisa e ficou sabendo das dificuldades por que a livraria passava, e do risco de não reabrir. Foi o cliente quem sugeriu uma campanha para ajudar a Blooks a resistir até que a quarentena passasse. “Ela não queria fazer, e dei uma bronca nela (risos): ‘Como assim? A Blooks não é mais sua, é do Rio! Tem que reabrir! Todo mundo vai ajudar’”, relembra Tupinambá.

Graças ao incentivo, 772 benfeitores colaboraram na campanha “Blooks Resiste!”, que arrecadou R$ 94 mil para ajudar a manter os funcionários e pagar as contas – e terão seus nomes impressos nas paredes da livraria. As seis lojas foram reabertas após seis meses. “Durante o isolamento eu fiquei atento, como muitos, à sobrevivência da cidade em geral, dos lugares que amamos. Quando começaram a entregar, me engajei”, explica Tupinambá, que também é professor de educação física e autor de dois livros: Faz e me Abraça – Cartas aos Pais de Crianças que Jogam Futebol e o infantil Entrooou!. O gesto antecipou o movimento #tudocomeçanalivraria, de valorização desses espaços de convivência, cultura e identidade das cidades.

A pandemia alterou a dinâmica do mercado livreiro. De acordo com a Associação Nacional de Livrarias (ANL), o canal especializado de livrarias cresce 4,7% em faturamento no ano impulsionado pelas vendas online. A maior concentração dos pedidos de livros é feita pelo site oficial das livrarias, representando cerca de 36,4%. Ainda segundo com a ANL, 67,7% das livrarias têm serviço de delivery, incluindo o serviço de serviço de drive thru. No Rio de Janeiro, enquanto 91% dos cariocas pesquisaram por livros, apenas 9% buscaram por livrarias, de acordo com a ferramenta Google Trends.

Victoria Perez na Livraria da Travessa após a reabertura. Acervo Pessoal.
Victoria Perez na Livraria da Travessa após a reabertura (Acervo pessoal/Divulgação)

 

Ainda que as grandes redes de distribuição, com destaque para a Amazon no mundo digital, tenham facilidades de compra um tanto atrativas, há leitores que construíram uma relação de afeto com livrarias, e permanecem fiéis em comprar livros em lojas físicas.

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Com Victoria Perez, de 26 anos, a fidelidade com a livraria da Travessa começou quando ainda era criança. Sua mãe sempre foi cliente em especial da sede de Ipanema, mas também frequentava muito a filial do Centro da cidade, onde trabalha, e ir à livraria era um programa aguardado: “Desde pequenininha eu tinha o hábito de ir aos sábados com ela na livraria da Travessa. Nós passávamos o dia lá na seção infantil sentadinhas lendo livros. Depois a gente almoçava ali mesmo, no restaurante”, lembra.

Advogada e estudante de jornalismo, comprou este ano um kindle, para ler livros maiores. “Mas eu sempre preferi ler a versão tijolão, física”. Assim, nunca teve o hábito de encomendar livros online: “Eu comprava bastante na Travessa do Shopping Leblon e na Argumento. Mas a filial de Ipanema da Travessa sempre foi a minha queridinha”.

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Durante o período em que as lojas estiveram fechadas, Victoria viu no Instagram que a Argumento e a Travessa estavam entregando em casa. Fez encomendas por telefone, como em junho, quando fez um pedido de 11 livros na Travessa. Com a flexibilização do isolamento e reabertura de lojas, a estudante já voltou a frequentar a livraria.

Jane Carla em encontros de Potterheads na extinta Saraiva do Rio Sul. Acervo pessoal

Jane Carla em encontros de “Potterheads” na extinta Saraiva do Rio Sul. (Acervo pessoal/Divulgação)

 

Na filial de Ipanema, Victoria estava acostumada a ser atendida pelo vendedor Marcelo, que acompanha a família há muito tempo. Ela conta que sempre gosta de ouvir as sugestões de livros dele, comprar, ler e voltar para contar. Fã dos livros físicos e de livrarias locais, a estudante teve muito medo de que as lojas fechassem. “É muito triste quando uma livraria de bairro fecha. Eu acho o ambiente da livraria muito gostoso, ficar lá, explorar os livros, ler o primeiro capítulo antes de comprar, pegar a opinião dos livreiros… Eu sei que a pandemia deu uma freada nesse costume, mas eu não queria que isso acabasse”, afirma.

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Livraria também é lugar de fazer amizade e começar novas paixões. A história de Jane Carla, de 38 anos, começou com a já extinta livraria Siciliano e depois migrou para a Saraiva. Adolescente, ela já tinha o hábito de fazer passeios na livraria: “Sempre que ia a um shopping, a passadinha na Saraiva era de lei”, conta. O que se intensificou quando se tornou fã de Harry Potter. Jane passou a frequentar encontros de “Potterheads”, onde fez amizades, participou de lançamentos da série e ficou conhecida entre os fãs assíduos por ser uma fiel Corvinal: “Foi na Saraiva Rio Sul que usei cosplay pela primeira vez. De Harry Potter passei para outros eventos, conheci autores, fiz muitos amigos. Sou apaixonada pela Saraiva e torço muito para a livraria superar a crise e se restabelecer”.

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* Tatiana Abreu, estudante de Jornalismo da PUC-Rio, sob orientação da professora Itala Maduell e revisão final de Veja Rio.

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