Como o ProUni mudou a realidade de quatro cariocas
Política de ação afirmativa viabiliza a entrada de jovens de baixa renda no ensino superior. Neste ano de 2021, são 162 000 bolsas
O Enem ou os vestibulares não são as únicas preocupações de milhões de brasileiros que almejam um diploma de curso superior. Depois do “aprovado”, pagar as mensalidades é um grande desafio. Criado em 2004, o ProUni, Programa Universidade Para Todos, tem por objetivo tornar esse desafio mais ameno. Em 2021, estão sendo oferecidas 162.022 bolsas de estudo pelas instituições particulares de ensino superior que participam do programa. Do total, 76.855 são bolsas integrais e 85.167, parciais, com 50% de desconto.
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Ações afirmativas como as do ProUni são uma mola impulsionadora de sonhos, e permitem que instituições acadêmicas sejam palco para a diversidade socioeconômica. Que o digam os cariocas Carolina, Dio, Luiz e Pedro, jovens que, através da educação, mudaram suas vidas e hoje estão formados.
A psicóloga Carolina Ortega, de 24 anos, sempre sonhou em estudar em uma boa universidade. Sua inserção quase não aconteceu. Em 2014, recém-formada no Ensino Médio, a jovem não poderia arcar com os valores mensais de uma faculdade. Além disso, era responsável por contribuir com as despesas da família. Quando pensou que tudo estaria perdido, conheceu o ProUni, “fundamental para seguir com o sonho”. Formada pela universidade IBMR, na unidade de Botafogo, Carolina entende o quão importante foi essa ação de política afirmativa e, sempre que pode, incentiva os jovens a entrar no mundo acadêmico:
“O conselho que eu posso dar para esses alunos é que criem laços, troquem informações com pessoas diferentes e façam amizade com pessoas que levem a graduação tão a sério quanto você”.
Atualmente, Carolina trabalha com atendimentos psicológicos direcionados a crianças e adolescentes. A psicóloga afirma que, ao longo do curso, criou uma rede de amigos que muito lhe ajudou. Para ela, em relação ao ProUni existe um sentimento, e ele é de gratidão:
“Se não fosse o ProUni eu não poderia trabalhar com o que mais amo na vida”, completa a jovem.
Dio Pablo Alexandrino de Mattos, 24 anos, também compartilha desse sentimento. Formado, em 2017, em Ciências Biológicas pela Universidade do Grande Rio Professor José de Souza Herdy (Unigranrio), ele reconhece a importância que o ProUni teve em sua vida. O biólogo, entretanto, enfrentou desafios durante o seu período de graduação. Os problemas surgiram antes mesmo de ingressar na universidade. Sem acesso à internet, não conseguiria realizar o cadastro on-line. Dio teve que pedir ajuda aos amigos para concluir a primeira etapa, que abriria as portas para a realização do sonho de entrar na faculdade. Segundo ele, a falta de recursos financeiros foi o maior empecilho enfrentado durante toda a trajetória universitária.
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“A falta de dinheiro foi o principal obstáculo. Apesar da minha bolsa de 100% pelo ProUni, eu não tinha o benefício do passe livre universitário, e minha família nunca conseguiu arcar com os custos. Tive que trabalhar em dois lugares durante toda a minha graduação. Eu morava na Pavuna, trabalhava na Tijuca e em São João, e ia para a faculdade à noite, chegava a gastar R$ 500 de passagem por mês. Eu trabalhava para estudar”, explica o biólogo.
Mas Dio não desistiu do seu objetivo. Aos 24 anos, o biólogo é especialista em Neurociência pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Mestrando em Ciências Biológicas (Biofísica), com ênfase em Neurobiologia, também pela UFRJ. Atualmente, dedica-se à pesquisa básica no Laboratório de Neurogênese (UFRJ) em estudos da ação de citocinas e estresse oxidativo no sistema nervoso central. O pesquisador construiu uma carreira brilhante graças a essa política social.
“Sem o ProUni eu não seria um terço da pessoa que sou hoje. Entrar na faculdade era um sonho distante, e o ProUni permitiu isso”, afirma Dio.
As políticas de ações afirmativas são consideradas extremamente importantes para o desenvolvimento social, educacional e econômico do país. Para Luiz Henrique dos Santos Araújo, 27 anos, o ProUni é uma forma de diminuir a desigualdade e permitir que pessoas desfavorecidas mudem de vida.
“Sou muito grato de ter tido esta oportunidade. Meu pai, aos 7 anos, vendia pães, de porta em porta, para ajudar a família, e minha mãe veio da roça após se casar com 13 anos e ter 3 filhos que não tiveram a mesma sorte que eu tive quase 40 anos depois.”
Luiz Henrique se formou em Medicina, em 2019, na Universidade Estácio de Sá. O médico – que atua na linha de frente no combate à Covid-19 -considera que o ProUni foi fundamental para que conseguisse entrar na universidade, mas também destaca a importância do apoio familiar.
“A vida não era fácil, minha irmã me ajudou muito para que eu conseguisse me formar, pois, mesmo não pagando mensalidade, o gasto era muito alto”, afirma o Dr. Luiz Henrique, residente no Hospital Geral de Bonsucesso e na Casa de Saúde São José.
Pedro Henrique Feitosa, 28 anos, queria ser advogado, mas tomou outros rumos. Tudo por conta de um amigo que sugeriu o curso de Economia, até então fora do radar. Pedro Henrique passou no vestibular, formou-se em Ciências Econômicas pelo Ibmec e atualmente trabalha numa corretora de investimentos, onde entrou como estagiário no ano de 2014. Ele sempre foi incentivado a estudar pelos seus pais, o que foi essencial para a busca de melhores resultados. Foi bolsista do ProUni, e considera que essa política social foi o primeiro “empurrão” para entender a “vida de adulto” – “em que você não pode desperdiçar as oportunidades, tem sempre que continuar se dedicando, mostrando o seu potencial”.
“Só o estudo muda a vida, minha mãe sempre disse isso pra mim. Ela estava certa desde o início. Nessa visão social, o ProUni é o melhor programa de educação”, afirma o economista.
Julio Castro e Gabriel Santos*, estudantes de comunicação, sob supervisão dos professores da universidade e revisão de Veja Rio
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