A busca pela vitamina D na quarentena

Alternativas adotadas pelos cariocas para conseguir pegar um solzinho em tempos de pandemia

Por Anna Wery*
Atualizado em 14 jul 2020, 17h55 - Publicado em 12 jun 2020, 10h00
Sol: fonte de vitamina D (Pexels/Pixabay/Reprodução)
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Desde o início da pandemia, os cariocas vêm buscando alternativas para pegar sol fora das praias durante o período de quarentena a fim de frear o novo coronavírus. Janelas, varandas, lajes, portarias: vale todo o tipo de criatividade nesta hora. O recurso, claro, não é em vão: os raios solares são responsáveis por até 90% da síntese de vitamina D, essencial para a prevenção de doenças como a osteopenia, que causa diminuição do cálcio nos ossos.

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A engenheira Roberta Glatt, de 25 anos, é “rata” de praia desde pequena. Antes da epidemia, a moradora de um edifício de esquina da Rua Farme de Amoedo vivia nas areias de Ipanema, o que considera seu “quintal”. E enquanto ele não é indicado ao público, a solução encontrada por ela é tomar sol na entrada do prédio. “Eu até tentei fazer isso dentro de casa, na minha sacada, mas não conseguia ficar lá nem por uma hora. Eu comecei a descer para lá de short, só com a parte de cima do biquíni, pra passear minha cadela, e aproveitava para pegar sol de corpo todo”, conta. 

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Assim como Roberta, a aposentada Ruth Leite mora bem perto da praia, mas não está conseguindo aproveitar. A baiana de 82 anos, no Rio há 15, costumava caminhar na praia. Agora, ela aproveita os raios solares, que vêm ficando escassos na janela do apartamento em Copacabana. “Ainda no começo da quarentena, eu tomava sol na cama, tranquila. Agora eu tenho que fazer malabarismos para recebê-lo porque ele já vem de ladinho. Eu boto um banquinho e sento. Eu tomo sol de costas, depois de frente, depois de lado”, conta, rindo.

E todos esses esforços para produzir melanina podem ser justificados pelo tempo durante os dias de quarentena. De acordo com o site de previsão de tempo AccuWeather, o Rio teve 65 dias com máximas acima ou iguais a 25 graus do dia 13 de março período no qual as medidas de isolamento começaram a ser implementadas a 26 de maio. Três dias chegaram a marcar 34 graus, a maior temperatura registrada durante o intervalo. 

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Quem vem ajudando na saga para aproveitar o sol da melhor forma possível é Erika Romero Martins, mais conhecida como Erika Bronze. A personal bronzer ajuda seus clientes a atingirem a marquinha de sol ideal. E geralmente acostumada a atendê-los em uma laje em Realengo, Zona Norte da cidade, ela viu sua presença no mundo digital se expandir. “Muitas pessoas resolveram pegar sol em casa, então as vendas on-line dos meus produtos, como o acelerador, aumentaram, e ainda bem. É o que me ajuda a manter os meus funcionários”, comemora a empresária, que tem uma linha de biquínis com as medidas da fita isolante, popularizados pela cantora Anitta. 

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Mesmo mantendo a rotina de trabalho em casa, Erika não perde a chance de pegar sol. “Eu dou um jeitinho aqui no quintal. Não precisa nem ficar muito tempo no sol pra ativar a vitamina D. Uns 20 minutinhos de cada lado já ajuda muito”, recomenda a esteticista.

Falando em vitamina D, a procura pelo termo no Google disparou durante a quarentena. As principais questões que aparecem nas buscas relacionadas ao assunto são “falta de vitamina d”; “sol vitamina d”; “vitamina d serve pra que” e “alimentos ricos em vitamina d”. Segundo a endocrinologista Maria Lúcia Fleiuss, integrante da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), ainda há muitos mistérios sobre os benefícios do nutriente para o corpo humano: “Embora a gente conheça melhor os efeitos da vitamina D na absorção do cálcio e do fósforo intestinais, na melhora da qualidade do osso então prevenindo que o osso fique fraco como no raquitismo e osteoporose e também na atuação no rim poupando a excreção de cálcio do organismo, existem outros tantos órgãos que respondem à vitamina D, que a gente não tem certeza que importância ela teria neles”.

Para a médica, crianças e jovens adultos não devem ter muitos problemas de carência de vitamina D durante o isolamento social. Ela diz que se esse grupo se expôr a 15 minutos no sol, já consegue produzir quantidade suficiente do nutriente. A preocupação é justamente com os idosos, que fazem parte do grupo de risco nessa pandemia. “A pele do idoso não tem a mesma capacidade de sintetizar a vitamina D. Você pode colocar uma pessoa octogenária pegando a mesma quantidade de sol que uma pessoa jovem, e ela não terá quantidade de vitamina D suficiente. Se essa pessoa entrou no confinamento sem estar suplementando vitamina D, agora que ela não se expõe ao sol, ela vai ter vai ter um declínio no nível de vitamina D”, compara a especialista, que ainda ressalta que obesos e mulheres na menopausa precisam se preocupar tanto quanto os mais velhos em relação aos níveis da vitamina.

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Roberta sabe bem das vantagens de pegar sol para a saúde, e para isso teve que deixar a vergonha de lado para continuar aproveitando seus benefícios. Além da carioca, quem se sentiu mais livre para pegar sol com ela foi a mãe, Flavia Bertrand. Os trajes usados para o bronze também mudaram assim que ela começou a se sentir mais à vontade. “Deve ter quase um mês que eu desço com a minha cadeira de praia e fico lá num cercadinho do prédio. Eu desço de canga e desenrolo ela assim que sento na cadeira. A parte que eu fico não chama muita atenção. As pessoas que passam na rua até já viram. Passam por mim moradores que acham engraçado, dão um sorriso, já conversaram comigo. Outro dia, um entregador do iFood chegou e viu a gente [ela e a mãe]. Ele começou a rir e disse: ‘Ah, importante né? Vitamina D’. Mas nunca senti ninguém julgando”. 

Ruth também diz não ter nenhuma questão na hora de se bronzear. A residente de Copacabana conta que os vizinhos dos prédios mais próximos estão todos muito longe, e que a única coisa que fica aparente são seus pés, que ela pendura para fora da janela na hora de tomar seu banho de sol. A baiana, aliás, conta que incorporou uma dica dada por uma amiga em sua rotina para conseguir aproveitar mais os benefícios da estrela central do sistema solar. “Eu tomo meu banho primeiro. Depois é que eu venho tomar meu sol. Aí eu não tomo mais banho, só à noite. Então eu fico com esse sol. Este ano, uma amiga minha tinha me dito que o geriatra dela especificou isso, disse “Olha, você vai aproveitar muito mais’”.

O que é unânime entre Erika, Ruth e Roberta são os poderes do sol para a saúde mental. Inclusive, os países nórdicos enfrentam a chamada depressão sazonal, graças aos dias mais curtos durante os dias de inverno. “O sol me faz muito bem. É muito importante pro meu bem-estar. Me traz uma paz, eu gosto de estar bronzeada, faz bem para a minha autoestima”, entregou a jovem de 25 anos. “É meu único namorado. Me abraça, faz carícia, e também me cura. Não é à toa que ele foi deus em várias civilizações, né? O sol é o que move a gente, alegra. Tomar sol para mim é recarregar as energias para o resto do dia”, contou Ruth Leite, em uma verdadeira declaração de amor para a estrela. “Eu tenho certeza mesmo que carioca não gosta de dias nublados”, opinou Erika, fazendo referência à música “Cariocas”, de Adriana Calcanhotto.

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Para quem ficou com vontade de sentir aquele calorzinho do astro rei na pele, Erika lembra que o ideal é seguir sempre as dicas de especialistas como as de Maria Lúcia. É importante beber muita água e pegar sol nos horários recomendados, preferencialmente o sol da manhã, das 10h às 12h. De 15 até 20 minutos de exposição solar na parte da manhã é mais do que suficiente. Nada de tostar no sol, hein?

*Anna Wery, estudante de comunicação, sob supervisão dos professores da universidade e revisão de Veja Rio

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