Amargo Fruto — A Vida de Billie Holiday
- Duração: 90 minutos
- Recomendação: 12 anos
Resenha por Rafael Teixeira
Nos últimos anos, com a recorrência de musicais biográficos no circuito, tornou-se um clichê dizer que alguns atores mimetizam e até incorporam os homenageados. Protagonista de Amargo Fruto – A Vida de Billie Holiday, Lilian Valeska percorre outro caminho: salvo por algumas inflexões e timbres particulares da diva do jazz, a atriz foge do expediente ao mesmo tempo sedutor e virtualmente desastroso de imitar o inimitável. No entanto, canções como God Bless the Child, Speak Low, Summertime e, claro, Strange Fruit (o belo hino antirracismo que empresta nome à peça) são interpretadas com tamanha alma que, para o espectador, é quase como se Lady Day em pessoa estivesse em cena. Desenvolvido em conjunto por Jau Sant’Angelo e a diretora Ticiana Studart, o texto apresenta a trajetória de Billie (1915-1959) com pegada mais narrativa, diluindo um tanto o potencial dramático de sua vida – a infância miserável, o estupro sofrido aos 10 anos, a experiência como prostituta, as relações nem sempre harmoniosas com músicos e gravadoras, os casamentos falidos e a autodestruição pelas drogas. Vilma Melo e Milton Filho, multiplicados em vários papéis, se empenham com relativo êxito na tarefa de dar mais substância à dramaturgia. Nada disso, entretanto, parece importar quando Lilian (escoltada por um exímio quarteto de jazz, vestida com os lindos figurinos de Marcelo Marques e emoldurada pelo acertado cenário de Aurora dos Campos e a deslumbrante luz de Paulo César Medeiros) solta a voz.